Conserte-me.

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- Emmett -

De manhã cedo, as pessoas gostam de correr, se exercitar, terminar uma tarefa, mexer no celular, de fazer inúmeras coisas antes de começar o dia. Para mim, o meu divertimento era encarar a parede da cozinha e deixar meu cereal amolecer. Isso já aconteceu várias vezes, meus amigos chamam de "estado vegetativo''. Fico encarando o nada por incontáveis minutos, pensando em absolutamente em nada. Do meu ponto de vista, era algo até bem divertido.

Mas daquela vez, algo mudou. Os meus pensamentos não eram nulos, eles estavam lá. Eu estava pensando em meu "estado vegetativo" e não era nada fútil. Acho que foi ali que eu percebi que estava em uma batalha interna. Algo dentro de mim queria levantar, correr para o lado de fora e gritar o mais alto que eu pudesse. Queria gritar palavras que eu ainda não estava preparado nem para pensar nelas. Mas a vontade estava ali. E eu não tinha a coragem de fazer o que era pedido.

- Bom dia meu príncipe - falou minha mãe, me dando um beijo no topo de minha cabeça e me acordando do meu transe. - Seu cereal já deve estar mole.

Olhei para o mesmo e concordei em silêncio com a minha mãe. Peguei a tigela e joguei o que restava do cereal fora. Fiz isso com dor no coração, já que desperdiçar comida era algo que eu realmente não gostava de fazer.

- Filho, você está bem? - perguntou ela, servindo uma xícara de café para si. - Você parece... abatido - eu abri e fechei minha boca diversas vezes, mas nenhum som saía. - É por quê não vai conseguir jogar? - franzi o cenho e ela apontou para a minha mão.

- Ah... sim. É... - falei com um pequeno sorriso.

Ela cerrou os olhos, mas decidiu não questionar mais.

- Bom dia meu príncipe - falou meu pai, entrando na cozinha e espelhando os movimentos de minha mãe.

- Bom dia - respondi sem ânimo.

Ruby estava parada na porta, e quando a olhei, vi um semblante diferente...

- Eu sei que sou bonito, mas sou seu irmão... - tentei brincar, mas ela apenas cerrou os olhos e foi em direção ao armário, pegando uma tigela para ela.

O café da manhã de segunda foi feito em silêncio por parte de Ruby. Ela apenas me encarava com um olhar que eu não conseguia decifrar. Terminamos de comer e fomos direto para o carro. Ruby continuava em silêncio ao meu lado e isso já estava me dando nos nervos. Não estava acostumado com isso.

- O que houve, Ruby? - perguntei e ela respirou fundo.

- Você que tem que me dizer - franzi o cenho sem encara-la.

- Dizer o que? - senti ela revirar os olhos e voltar a sua atenção para a janela.

O dia estava nublado e iria começar a chover a qualquer momento. Respirei fundo e percebi que precisávamos conversar, mesmo eu não sabendo sobre o que. Parei o carro no acostamento e a encarei.

- O que eu tenho que dizer? - perguntei novamente.

Ela retirou seu cinto e se virou completamente para mim.

- Qual é o problema? - eu continuava confuso. - Nós podemos não ser parentes de sangue, mas somos praticamente gêmeos de idades diferentes - franzi ainda mais meu cenho e ela bufou. - Eu consigo sentir que tem algo errado Emmett. Sempre teve algo errado...

Desviei meu olhar do dela por alguns segundos, mas ela me fez voltar a encara-la.

- Apenas me diga...

Olhei fundo de seus olhos e percebi que ali continha uma preocupação genuína. Abri minha boca algumas vezes, mas eu não conseguia achar as palavras certas. Então tentei ser o mais honesto possível.

Ele não sou eu.Onde histórias criam vida. Descubra agora