Primeiro grande passo.

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- Emmett -

- Emmett? - ouvi a voz de Zelena, me tirando do meu transe. - O que está te afligindo? - me perguntou.

Eu realmente não sabia como responder aquela pergunta. Eram tantas coisas que se passavam pela minha cabeça que eu não não conseguia saber por onde começar. Fiz o melhor que pude.

- Quando eu tinha cinco anos - comecei. - , uma coisa... ruim aconteceu comigo. Depois daquilo, tudo mudou... eu mudei. Todos sentiam isso e eu também - fiz uma pausa. - Eu decidi que, mudar completamente quem eu era, deixar de ser aquela criança, seria a melhor coisa a se fazer - ri sem humor. - Mas eu tinha cinco anos... mal eu sabia que pegar tudo aquilo que eu estava sentindo no momento, tudo aquilo que eu era, e colocar dentro de uma caixa, era bem pior... - ficamos em silêncio por alguns segundos. Ela parecia saber que eu apenas precisava de um tempo para voltar a falar. - Eu percebi o meu erro alguns anos depois, mas... eu continuei daquele jeito. Não mudei nada. Acho que eu estava tão acostumado a não ser quem eu realmente sou, que eu não soube como tirar tudo aquilo da caixa.

- E quem é você? - me perguntou, finalmente se manifestando.

A sala dela era bem confortável. A lareira ligada, esquentava todo o local, fazendo parecer que o inverno já havia ido em bora. Ou se pai estava dormindo, ou ainda estava no trabalho. Eu rezava para que fosse a segunda opção.

Usei aqueles segundos de silêncio para pensar, mas eu sempre chegava na mesma conclusão.

- Eu não sei Zel... - respirei fundo. - Acho que eu só quero aprender a retirar o conteúdo daquela caixa. Eu sinto falta de alguém que eu nunca tive a chance de ser e sinto que não será fácil... - uma única lágrima caiu do meu olho, me fazendo a limpar quase imediatamente. - Eu não sei o que fazer... - falei finalmente, abraçando meu próprio corpo.

Ela deu um pequenino sorriso de lado, que me acalmou bastante. Agradeci silenciosamente por aquilo.

- Primeiramente eu tenho que te dizer... eu não posso conserta-lo - por alguns segundos, me desesperei. - Não posso conserta-lo porquê não há nada de errado com você - a encarei confuso. - Você é perfeito. Não tem nada de errado com essa sua cabecinha.

- Então o que é isso? - perguntei tentando não me desesperar.

Ela me encarou por incontáveis segundos. Não era desconfortável. A chuva que caía violentamente lá fora ajudava a calmaria do ambiente. Pela primeira vez em muito tempo, eu estava realmente confortável em um local.

Ela se levantou de sua poltrona que estava na minha frente e se sentou no sofá ao meu lado, segurando minha mão boa.

- Eu sinto que você já sabe - fiquei ainda mais confuso. - Acho que você precisa de uma introspecção. Precisa olhar para dentro de si mesmo e entender o que está acontecendo. Eu posso te ajudar, mas você é quem tem que fazer o trabalho.

Abaixei a cabeça, pensando em tudo que ela havia me falado. Respirei fundo e a olhei com um sorriso de canto.

- Você é boa nisso - ela deu uma baixa gargalhada.

- Que bom, se não eu não deveria me formar esse ano - ri com a sua resposta. - Isso que você fez, vir aqui e se abrir foi um grande primeiro passo - ela suspirou. - , e eu acho que deveríamos continuar nos vendo, mas...

- Você ainda não é formada - a interrompi e ela assentiu com a cabeça.

- Mas se você precisar conversar com uma certa amiga... - sorri. - E quando eu me formar, podemos tornar oficial.

Ele não sou eu.Onde histórias criam vida. Descubra agora