🍁 Nieven narrando 🍁
Lá estava eu, sentado debaixo do velho carvalho, esperando Jastra e Pyrder chegarem para que pudéssemos ver o pôr do sol como sempre fazíamos. E olhando para as cores no céu, comecei a imaginar: por quanto tempo poderíamos fazer isso? Quer dizer, logo seríamos adultos, velhos demais para essas "besteiras"...
- Nieven? você tá aí, cara?
Dei um pulo, levando a mão ao arco. Mas ao me virar, vi que era só o Pyrder com algumas frutas e doces no improviso de cesta que ele fizera com a parte da frente da camisa. Ele era filho de Myrin, o dono do armazém da aldeia, e sempre trazia comida para nossos encontros no fim da tarde.
- Que susto, Pyrder! Por pouco eu não te acerto uma flecha. - alertei-o.
- Uma flecha? Sem ofensa, mas você é um péssimo arqueiro, Nieven - disse, zombando de minha quase inexistente habilidade com o arco e flecha.
- Pode rir à vontade, mas você sabe que se minha espada estivesse aqui eu poderia ter te machucado e...
Fui interrompido por Jastra:
- Pensei que fôssemos todos amigos! Que história é essa de golpear o Pyrder ? - perguntou ela, cruzando os braços, em um gesto sarcástico.
- É que o Nieven fica viajando nos pensamentos e se assusta com o próprio amigo chegando. - zombou Pyrder.
Ambos riram de mim.
- Que tal deixarmos de idiotice e fazer o que viemos fazer? O sol já esta descendo. - concluí, ao ver que ele já havia descido pelo menos quatro dedos desde a minha última observação.
* * * *
Assistimos ao pôr do sol conversando sobre como tinha sido o dia de cada um, comemos um pouco e já estava ficando tarde, quando Pyrder se levantou.- Foi muito bom falar com vocês, gente, mas eu prometi que ajudaria meu pai a organizar o estoque do armazém, então já vou indo. Vejo vocês amanhã, mesma hora.
Nos despedimos e ele partiu, com um pedaço de maçã na boca.Voltei a me virar para frente e me deitei, olhando para os galhos oscilando com o vento. A comida começava a pesar no estômago.
Jastra estava encostada no tronco do velho carvalho. Ele era coberto de musgo, o que o deixava bastante confortável. Mas ela parecia incomodada. Abria a boca para dizer algo, mas hesitava e então recomeçava, como se precisasse criar coragem para falar.- Você é feliz, Niev? - perguntou, depois de muito hesitar.
- Como assim? - perguntei, sentando-me e virando em direção à ela. Enquanto pensava novamente em sua pergunta.
- Quero dizer, você é feliz aqui em Elenlindäle? - reajustou a pergunta, embora eu ainda não conseguisse entender a finalidade da mesma.
- Bom, acredito que sim. Tenho meus pais, você e o Pyrder, casa, comida, proteção...
Jastra continuou em silêncio, o que me deixou curioso. Pois, além da pergunta esquisita, ela costumava falar pelos cotovelos. Então questionei:
- Por que a pergunta? Você não é feliz aqui?
- É que... você sabe que eu sou fascinada pelas estrelas - assenti com a cabeça - E olhando para a imensidão que elas iluminam, sinto que tem mais para explorar, lugares e pessoas para conhecer. Um vazio para preencher. Eu queria... - fez uma pausa como quem sente culpa pelo que vai dizer - Queria poder sair daqui - concluiu.
- Nem pense nisso, Jas! Temos tudo que
precisamos aqui. E é perigoso demais para você sozinha. Orcs e criaturas malignas... Elfos mais velhos e mais habilidosos que você morreram tentando. - adverti, a encarando sério.Ela ficou cabisbaixa por um instante, mas logo me olhou com o brilho nos olhos com o qual eu estava acostumado.
- Tudo bem, esqueça. Foi só um pensamento bobo. Olha, está ficando tarde, tenho que ir se não quiser levar uma bronca dos meus pais... - disse ela, levantando-se.
- Eu também já vou indo. Juízo! - falei em um tom brincalhão.
Nos abraçamos e seguimos cada um para um lado, a caminho de nossas respectivas casas. O céu estava limpo, começando a ficar estrelado e eu sabia que Jastra ficaria até tarde observando as estrelas. Ela mora no observatório da aldeia, com os pais e a irmã. Apenas uma justificativa para sua paixão pelos astros.
Chegando em casa, encontrei meu pai na mesa lendo um dos pergaminhos que haviam chegado. Minha mãe estava atrás dele, organizando mapas.
Esse era o trabalho deles, cuidar dos mapas, cartas e pergaminhos que chegavam de outras aldeias do reino, para garantir que tudo ao nosso redor estivesse em ordem e seguro, afinal, esse é um mundo hostil.
Eu os cumprimentei e subi para o meu quarto, já que não estava com fome. Apenas me joguei na cama e adormeci.* * * *
Apesar da sensação da noite ter sido longa, acordei com uma disposição que não sentia há um tempo. Arrumei-me e desci a escada num piscar de olhos.
Peguei uma pera na mesa e já estava atravessando a porta, quando minha mãe chamou minha atenção.- Nieven, espere! - exclamou ela. Não brava, mas preocupada, apertando o pano de prato entre as mãos.
Fui em sua direção para saber o que estava acontecendo. - O que foi, mãe?
- Nieven, é sobre sua amiga Jastra... - Suspirou ela, enquanto senti um aperto no coração.
Ela estava hesitante em continuar a falar.
- O que aconteceu?! Diz! - Minha curiosidade era maior que o medo das próximas palavras.
- Ela desapareceu.
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As crônicas de Elenlindäle
AdventureNieven é um jovem elfo que vive em Elenlindäle, aldeia de um dos quatro reinos da vasta terra de Draconis. Um dia, sua melhor amiga desaparece. Em segredo, ele e seus amigos embarcam em uma perigosa jornada para encontrá-la. E no caminho irão descob...