Uma aliança inesperada

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🍁Nieven narrando🍁

No dia seguinte, fingi perder o horário para faltar ao treino.
Eu queria ficar sozinho. Me sentia decepcionado com tudo que estava acontecendo e triste por tê-la perdido.
Estava com raiva por Jastra ter feito isso sem pensar nas consequências. Mas ao mesmo tempo, não podia deixar de pensar em como ela se sentia
Talvez ela tivesse feito uma última tentativa de ser feliz aqui, e se decepcionou. Como? Nunca lhe faltou nada. Ou talvez fosse uma necessidade. Eu tentava entender, mas tudo só me deixava mais aborrecido. E o fato de que havia alguém batendo insistentemente na porta de casa, não estava ajudando.

A corte havia solicitado a presença de meus pais para a revisão de alguns mapas. Só restava a mim para atender à porta.

       Desci as escadas, gritando:
- Já vai! - quem quer que estivesse do outro lado, não estava colaborando.

Abri a porta e me deparei com Qildor. Só podia ser. Ele estava encostado na parede com um dos braços esticado, pronto para bater na porta novamente, quando percebeu que ela já estava aberta. Seu cabelo loiro que ia até o pescoço caíra sobre o rosto, ele o colocou atrás das orelhas e ficou parado me encarando, cínico.
Atrás dele havia Esyae, que estava de braços cruzados, revirando os olhos, como sempre. Juntamente com Pyrder, que estava corado olhando para ela. E ainda: Raibyr, que me olhava com desprezo, enquanto segurava o cabelo de Aril no alto, para que ela o amarrasse com uma fita. Ele me olha assim desde que, sem querer, lhe feri o rosto em um dos treinos, deixando uma cicatriz na maçã do rosto. E ao julgar que ele me odeia, creio que veio apenas para acompanhar a namorada.

- Pelo visto eu não fui o único à faltar o treino hoje. O que fazem aqui? - perguntei, sem entender o motivo da visita.

- Viemos para o chá - disse Raibyr, com sarcasmo.
Qildor riu, e Aril falou alguma coisa no ouvido de Raibyr que o fez desmanchar o sorriso.

- Nós viemos conversar com você, Nieven. Sobre uma coisa importante - disse Aril, respeitosamente. Não importava a situação, sua voz era sempre suave. 

     Pedi para que entrassem. Assim que todos estavam acomodados, questionei:

- O que é tão importante?

Esyae se levantou, tomando posição de quem vai discursar.

- Bom, todos aqui nessa sala são pessoas de confiança e sabem que Jastra fugiu. Apesar de estar muito brava com ela, eu não posso ficar aqui sem fazer nada enquanto minha irmã pode estar correndo perigo. Não espero que entenda Nieven, por que você não tem irmãos, mas eu vou atrás dela. E todos que vieram comigo, concordaram em ir também. Viemos saber se você também vai ajudar.

- Vocês estão malucos? Jastra fez uma escolha errada. Não é por isso que todos nós temos que fazer também - afirmei. Era uma ideia ridícula.

- Eu sabia que ele não teria coragem... Nieven é um covarde - afirmou Qildor.

Fitei-o com ódio.

- Cala a boca, Qildor! - aumentei o tom de voz.

Ele partiu pra cima de mim e eu para cima dele. Mas Raibyr o segurou, e Pyrder fez o mesmo comigo.

- Querem parar, os dois? Isso não é hora de brigar - disse Esyae, irritada.

- Você tem razão, Esyae, eu não entendo. Mas eu sei que vocês não deveriam fazer isso. Viram o que aconteceu quando ela "desapareceu" - falei, ainda com raiva.

- Cara, eu sei que parece errado mas, ela é nossa amiga. Não podemos deixar que algo de ruim aconteça se temos a chance de impedir - disse Pyrder, segurando meu ombro.

- Deixa de ser medroso, Nieven. Estaremos em maior número e as chances de morrermos são um pouco menores - completou Raibyr, ironia em pessoa. Aril lhe deu um leve tapa, por dizer isso - Que foi? É verdade - disse ele, rindo.

- Nieven, pensa bem. Vamos fazer isso direito e se percebermos que não tem mais condições, voltamos e nunca mais a gente te pede nada! - afirmou Aril.

- Por que querem tanto que eu vá? - perguntei.

- Para te admirar que não é! - Raibyr soava cada vez mais irritante.

- Escuta só, Raibyr. Minha flecha cortou seu rosto, mas foi só um acidente, e eu já te pedi desculpas! Não precisa passar o resto da vida me tratando assim - retruquei, virando-me para ele.

Raibyr fingiu não ligar e se largou ainda mais na cadeira.

- Você tem os mapas, meu amigo - disse Qildor, dando tapinhas em minhas costas, como se nada tivesse acontecido, há alguns minutos.

- Nieven, decide. Se não for, pelo menos nos dê um mapa. - pediu Esyae.

Eles tinham razão. Eu não posso deixá-la em perigo por orgulho, ou qualquer outro motivo. Ela é minha melhor amiga.

- Tudo bem. Eu vou. Qual é o plano?

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As crônicas de Elenlindäle Onde histórias criam vida. Descubra agora