A salvo?

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🍁Nieven narrando🍁
     As brasas da fogueira já haviam se apagado, quando amanheceu. Com todos de pé, comemos um pouco e voltamos à trilha.

- Quanto já andamos, Nieven? - perguntou Esyae, impaciente. Ela era ainda mais mau humorada de manhã.

Olhei no mapa. Estávamos quase na metade da floresta, que era marcada por uma ponte.

- Estamos chegando na metade da Floresta, passaremos por uma ponte de pedras. - expliquei.

A Floresta de Jade, à luz do sol, era totalmente diferente. Era muito bonita e não parecia nada perigosa. Mesmo assim, era preciso manter a guarda.
Não tínhamos muito sobre o que conversar naquela situação. Mas o silêncio foi interrompido por Qildor:

- Até que enfim! - exclamou, aliviado.

Havíamos chegado à ponte. Era uma ponte pequena, sem importância, estaria ali somente para demarcar o meio do caminho.
Assim que colocamos os pés nela, ouvimos uma gargalhada sinistra. E quase que automaticamente, pegamos nossas armas.
Um ser, de praticamente um metro de altura, começou a sair lentamente de debaixo da ponte. Se não fosse pela cabeça extremamente grande, poderíamos confundi-lo com um elfo, mas era um diabrete.
Ele subiu até a margem do riacho e parou do outro lado da ponte. Sorria para nós sem parar, com dentes afiados e maldade nos olhos. Era perturbador.

- Alassë' arin! - disse ele, fazendo uma reverência.

Continuamos em silêncio, e ele desmanchou o sorriso, o que me fez segurar ainda mais forte o cabo da espada.

- O que os jovens elfos fazem por essas terras? - perguntou, olhando para cada um de nós, como se tirasse um pedaço para guardar.

- Estamos numa busca, muito importante. - disse Qildor, assumindo a frente - Nossa amiga desapareceu. Você a viu?

- E como ela é? - perguntou ele, abrindo seu sorriso macabro novamente.

- Ela tem a altura dela - disse eu, apontando para Esyae - Olhos mocha, cabelos negros e longos com uma franja na testa, e sardas que atravessam de uma bochecha à outra. - concluí.

- Hum... - olhou para cima, fingindo pensar - Eu acho que não vi ninguém... - completou, cinicamente.

- Tem certeza? - perguntou Raibyr, com ironia.

- Não sei... Vocês têm alguma coisa que possa fazer minha memória voltar? - perguntou o ganancioso diabrete.

- E do que exatamente você precisa? - Perguntou Aril, com a voz um pouco trêmula.

- Bem... nada muito difícil. Jóias, ou ouro, quem sabe? Qualquer coisa de valor que tiverem - disse ele se aproximando lentamente de nós.

Raibyr puxou Aril para trás de si. O diabrete percebeu o recuo e parou, colocando as mãos para trás e dando um sorriso forcado para os dois.

- Infelizmente não temos nada que possa lhe servir, senhor. Se nos permite, precisamos continuar a busca - disse Esyae, não querendo perder tempo com a conversa tola do diabrete.

Mas ele continuou parado onde estava. Desfez o sorriso e seus olhos ficaram totalmente negros.

- Acontece, pequenina - disse lentamente - Que ninguém passa por minha ponte, sem me dar algo em troca - o diabrete levou os braços para frente e começou a mexer os dedos das mãos, fazendo com que suas unhas saltassem como as garras de um gato.

Ele com certeza não estava brincando. Precisávamos resolver aquilo logo, antes que algo ruim acontecesse.
Foi aí que me lembrei: diabretes adoram chocolate, talvez Pyrder tenha trazido algum. Me virei lentamente, e cochichei perguntando sobre o chocolate.
Cuidadosamente, Pyrder enfiou a mão em sua bolsa e retirou um pedaço grande do doce.

- E que tal um pouco de chocolate? - perguntei.

Seus olhos voltaram ao normal, mas as garras não.

- É muito pouco! Terei que matar todos vocês... - disse avançando ainda mais.

Estávamos preparados para nos defender, caso fosse preciso.

- O chocolate e uma corrente de ouro, é nossa última oferta! - gritou Esyae, tirando rapidamente sua corrente de ouro.

O diabrete refletiu por alguns minutos sobre a oferta. E tenho certeza de que se deu conta que não seria páreo para seis elfos armados.

- Está bem! Me dêem aqui e deixo vocês passarem - disse ele.

Peguei a corrente com Esyae e entreguei junto com o chocolate para o maldito diabrete.

- Muito obrigado! - disse ele, fazendo novamente a reverência, pulando diretamente na beira do riacho e voltando para a escuridão de onde veio.

Atravessamos a ponte, aliviados da estranha situação que acabara de ocorrer. Porém, não falamos sobre o assunto.
* * * * *
Caminhávamos sem parar, ventava forte, a trilha era cheia de gravetos e em meio às árvores haviam grandes pedras, cobertas com liquens e plantas.
E foi numa dessas que paramos para descansar e comer. Já passava do meio dia.
Alguns de nós sentaram-se na pedra e outros ficaram de pé, para o caso de mais um encontro inesperado.

- Eu acho que devíamos encontrar algum ser de confiança para pedirmos informação. Não adiantará ficarmos andando sem saber por onde procurar - disse Qildor, enquanto lambia os dedos.

- Ser de confiança? E qual seria? Aqui ninguém é amigo de ninguém - afirmou Raibyr.

- Um centauro quem sabe? Quando meus pais vieram à procura de informações, foi um centauro quem lhes contou minha história - sugeriu Aril.

- É, mas eles não aparecem assim do nada - respondeu Pyrder, desanimado.

- Vamos continuar caminhando. Quem sabe não damos sorte? - disse eu, tentando ser otimista.

Arrumamos as coisas e seguimos a trilha novamente. A Floresta estava quieta, quieta até demais.

Aril estava na beirada da trilha. E quando vimos, ela havia sido puxada por alguma coisa. Foi tudo muito rápido, ela mal gritou enquanto desaparecia pela floresta.

Eu e minha boca grande...

- Aril!!! - gritou Raybir, correndo para dentro da mata. Rapidamente, sumiu também.

- E agora? O que faremos?! - perguntou Esyae, desesperada.

- Vocês três fiquem aqui. Eu vou atrás del... - Não consegui terminar a frase, senti uma pancada na cabeça e tudo ficou escuro.

📜 DICIONÁRIO📜
Alassë' arin= bom dia.

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As crônicas de Elenlindäle Onde histórias criam vida. Descubra agora