🔥Raibyr narrando 🔥
Há dias já não sinto o calor, a alegria e a presença que faziam minha alma vibrar. Apenas o medo, de nunca mais ver a vida brilhar naqueles olhos. Eu devia tê-la protegido enquanto podia. Se algo aconteceu, não irei me perdoar nunca.
O pior foi não ter dado o meu melhor. Eu podia ter salvado-a. Talvez se eu tivesse treinado mais, me concentrado mais...- A culpa é toda minha... - afirmei, sentindo um rasgo no peito.
- Ei, isso não é verdade. - disse Jastra.
- Sem chance, Raibyr. Você sempre a protegeu, mas infelizmente dessa vez não conseguiu... Não quer dizer que foi culpa sua. Se for assim, todos somos culpados, também estávamos lá. - Completou, Nieven. Tentando me consolar.
- É diferente, Nieven. Você não sabe o que ela significa pra mim, eu devia ter cuidado melhor dela, devia ter sido um cara melhor, devia... - estava sentindo a porra de um buraco se abrindo no meu peito.
- Cara, ela é minha melhor amiga. Confia em mim quando digo que você sempre fez ela muito feliz. Ela dizia que você fazia ela se sentir especial, amada. Tem noção disso? Você sabe que ela tem problemas em confiar nos sentimentos dos outros, mas com você... - suspirou Jastra.
- Concordo. Com ela você é outra pessoa. Com certeza sua melhor versão... então não fica dizendo que devia ter feito melhor. Você fez o melhor. - concluiu Nieven.
- Estou tentando não pensar no pior. Eu nunca quis cogitar a ideia de perdê-la. Não suportaria. Mas eu sinto que ela não está mais aqui. - A última frase fez meus olhos marejarem, mas ainda sim vi pelo canto do olho Jastra e Nieven se encararem preocupados.
- Meninos, chegamos . - Disse Mordoc, referindo-se à Ohta. Ali meu pesadelo e agonia acabariam ou eu estaria acabado.
Havíamos viajado o restante do dia anterior e a noite toda. O sol estava preguiçoso naquela manhã. Ainda estava escuro quando Mordoc cavalgou até um aglomerado de pessoas, pagou a estalagem do cavalo num estábulo e seguiu a pé, entrando no personagem ficando corcunda e fingindo ser manco.
ALGUMAS HORAS ATRÁS
- Pedi poção suficiente para apenas quatro de nós. Raibyr, Nieven e Jastra, você vem comigo. Pyrder, você e Qildor lideram o retorno da tropa à Numenöre, não vamos abusar da hospitalidade de Halos e enfiar trinta marmanjos em seu castelo. Inclusive, já podem ir.
- Te acompanho até lá, Pyrder. - convidou Halos. Nos despedimos de Pyrder e eles se retiraram.
- Então vamos lá. Essa poção funciona assim: você toma um gole e mentaliza aquilo em que deseja se transformar. Se der errado só teremos mais uma tentativa, então concentrem-se. Meu plano é me disfarçar de um velho caduco qualquer que vende pássaros, e vocês serão meus pássaros. O que acharam? - perguntou Mordoc. Embora seu rosto não demonstrasse, ele soava entusiasmado.
Jastra o olhava como se gritasse que aquilo era ridículo. Nieven fitava o chão, confuso. E eu queria que Mordoc apenas se apressasse para que fôssemos logo, então me ofereci para ser o primeiro.
- Pense em algum pássaro pequeno, rapaz. Qualquer um. Apenas concentre-se na aparência do bicho. - explicou Mordoc.
Peguei o frasco, fechei os olhos e tentei mentalizar um pássaro. Me lembrei do pássaro que encantara Aril uma vez. Um rouxinol surgiu em minha mente. Me concentrei naquela imagem e assim que bebi da poção, Mordoc a pegou novamente de minha mão.
Senti um frio na espinha e nada mais. Quando abri os olhos, os três - agora gigantes - me encaravam espantados. Olhei para baixo e me vi coberto de penas. Agora eu era minúsculo, por isso eles me viam do alto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As crônicas de Elenlindäle
AdventureNieven é um jovem elfo que vive em Elenlindäle, aldeia de um dos quatro reinos da vasta terra de Draconis. Um dia, sua melhor amiga desaparece. Em segredo, ele e seus amigos embarcam em uma perigosa jornada para encontrá-la. E no caminho irão descob...