A culpa era minha

27 1 0
                                    

⭐️ Jastra narrando ⭐️

- Lembra da vez que você despejou um jarro cheio de leite na cabeça da Tália? - perguntou Aril, rindo.

- É claro que eu lembro! - gargalhei - Mas ela mereceu depois de ter te chamado de "mestiça rejeitada"...

- Por mais que eu não seja a favor da violência, devo admitir que aquela foi uma briga das boas... - lembrou Aril, limpando uma lágrima de riso no canto do olho. Reparei em sua mão.

Estávamos deitadas na areia, aproveitando o sol da manhã para conversar sobre coisas aleatórias, como costumávamos fazer antes.

- O que houve com sua mão, Aril? - perguntei sentando-me e puxando sua mão para mim, observando-a.

Aril puxou a mão de volta imediatamente, escondendo-a debaixo de si. O movimento foi um tanto grosseiro para ela, o que me fez a estranhar mais ainda.

- Não me lembro de você ser tão grossa... - tentei brincar, mas ela continuou séria.

- Desculpe. Não sei ao certo o que é isso... Dyla tem uma teoria sobre os meus poderes, mas... eu não sei. Começou do nada e aumenta quando eu estou com medo, ou com raiva, ou com algum sentimento ruim. - explicou.

- Mas isso pode te fazer mal? - perguntei, preocupada.

- Dyla diz que pode me consumir. E que caso aconteça, posso ficar muito diferente do que sou agora. Ela tem me ensinado a evitar que se espalhe...

- Não há mais nada para se fazer?!

Aril se sentou, sacudindo a cabeça.

- Não se preocupe tanto, Jas... Ficarei bem. - disse ela, com um sorriso torto. - Mudando de assunto, você devia pedir desculpas ao Nieven. - revirei os olhos - É sério, Jastra. Ele se preocupou com você o tempo todo, e eu sei disso sem nem precisar dele ter me dito. Tinha que ver a cara dele quando Esyae contou que você estava viva e...

- Eu sei, eu sei... Mas como quem mais me conhece, ele devia respeitar a minha vontade de vir sozinha. Se tivessem respeitado meu tempo, eu não ficaria com raiva. - contei.

- Mas o que você esperava Jastra? Somos os que te amam e se preocupam com você, é claro que iríamos atrás de você. Nunca se sabe o que pode acontecer. Eu não sei o que faria se não tivesse você comigo. - a voz suave de Aril vacilou um pouco.

Eles não entenderiam meus motivos mesmo... Mas eu entendia os deles. E isso era o suficiente para saber que devia pedir desculpas.

- Está bem. Irei atrás dele mais tarde. - concluí.

* * * * * *
Eu estava morando em uma das pensões da aldeia. O dono, Rowyn, é um tecelão muito aclamado, que usa sempre as melhores linhas nos seus tecidos. Recebia encomendas de outros continentes e oferecia abrigo e comida para aqueles que fizessem suas entregas. Foi assim que eu arranjei moradia, comida e um emprego logo de cara.
Na verdade não foi tão simples... Por ser jovem e mulher, precisei conquistar meu espaço. Mas assim que provei do que eu era capaz, as coisas se encaminharam e aos poucos eu estava conquistando minha própria vida e a liberdade que tanto almejava. Até meus amigos virem atrás de mim...
Tudo que eu queria é que eles entendessem que não voltarei para Elenlindäle tão cedo, independente do que digam ou façam.

- Entre. - falei, abrindo a porta do meu quarto para Aril.

Ela adentrou lentamente, como se temesse que algo saltasse do fundo do cômodo.

- Lar doce lar! E então, o que acha? - perguntei, animada.

- Ah... é... aconchegante. - Aril estava claramente sendo gentil.

As crônicas de Elenlindäle Onde histórias criam vida. Descubra agora