III

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"Não há santo que não possa se perder e nem pecador que não possa se converter."

Havia se passado muitos dias depois daquele episódio e parecia ainda muito vivo na minha memória. Minhas lembranças ainda me transportavam pro momento que eu a vi pela primeira vez, até aquele que eu percebi a fumaça de seu cigarro na janela do quarto mal iluminado do segundo andar daquele prédio velho. Ela parecia me observar lá de cima, imediatamente após eu descer as escadas, me dava a impressão de não querer que eu fosse embora. Obviamente era só impressão. Depois daquele dia decidi não me aventurar assim tão cedo, já que como eu não sou gato, não possuo 7 vidas. Aquele vinho me queimou o estômago por dias, assim como aquelas lembranças rasgavam a minha mente quando eu menos esperava. Prometi a mim mesma que ia esquecer aquilo tudo, como se nunca tivesse acontecido comigo,como se fosse um sonho bem distante.

Os dias foram passando sem muitas novidades e com muito trabalho. Tínhamos reuniões estratégicas quase todo dia, porque o mercado exigia muito empenho de seus profissionais e eu me orgulhava de fazer parte dessa equipe, apesar de que meu objetivo seria galgar os autos escalões do comércio exterior, mas como não tinha ainda muita experiência, decidi começar por baixo mesmo. Entrei na empresa como auxiliar de logística, depois fui para supervisora e agora estava no marketing. O salário não era ruim, mas eu queria investir mais em mim. Sabia que haviam poucos profissionais especializados em comércio exterior que tivesse MBA. E também sabia que as melhores pós-graduações estavam no exterior. Como minha firma tinha um escritório filiado na Inglaterra, pretendia trabalhar por lá durante o período do curso. Daqui há algumas semanas iria pra lá, só estava faltando a confirmação do escritório e os trâmites legais para transferência.

Meus pais não concordavam com minha escolha. Minha mãe queria que eu fosse bailarina, e meu pai, advogada. Dos 6 aos 13 anos fiz balé e encenei algumas peças amadoras. Minha professora jurava que eu tinha talento pra coisa, mas, o balé sempre foi pra mim mais uma diversão do que algo profissional. Enjoei logo e aos 14 anos decidi tentar natação, me dedicava horas a fio nas piscinas do América na Tijuca e até participei de campeonatos estaduais durante o colegial. Adorava impressionar os garotos com meus recordes. Logo que terminei o segundo grau aos 17 anos, meu pai me obrigou a fazer uma escolha e a contragosto dele, optei por administração na UERJ. Foi a melhor época da minha vida. Era namoradeira e não perdia uma chopada depois das aulas de sexta-feira a noite, mas nunca me distraí do meu objetivo. Sempre fui uma aluna brilhante com notas altas, pois me dedicava muito, passei com mérito. Aos 22 anos, já formada, eu decidi que deveria morar sozinha. Na época eu já estagiava em uma firma de consultoria em marketing, a remuneração não era boa, era mais uma ajuda de custo, mas eu não desisti da idéia de sair de casa.

Conversei com meu pai e depois de muita resistência dele, ele decidiu me ajudar. Financiou um apartamento pra mim, com prazo de pagamento em 5 anos o que fiz em menos de 3 anos.

Numa terça-feira, enquanto eu entrava na cozinha do escritório pra pegar um café pra mim, o Austin, nosso cordenador de logística estava encostado perto da máquina de café com dois colegas nossos e falava de forma entusiasmada gesticulando muito. Ele não percebeu quando eu entrei e continuou contando vantagem sobre uma garota sensacional que tinha "pegado" na noite passada. Contou os pormenores do encontro sem esquecer nenhum detalhe. "Que idiotas; isso é nojento", pensei comigo, enquanto pegava minha xícara de café e saía de fininho. Ele notou minha presença quase perto da porta e me chamou entre risinhos debochados.

- Lauren! Você se lembra daquela dançarina maravilhosa que vimos naquele clube noturno?

- Havia muitas delas.

- Sim, mas essa era diferente, a que fez o último show e que você não tirava os olhos lá do bar e at...

- Me poupe Austin...

STRIPPER "Camren" Onde histórias criam vida. Descubra agora