STRIPPER "Camren"

XII- Prostitutas

"Reconheça os seus fracassos. Aceite as responsabilidades pelo que você fez, então mude. O quanto mais cedo você deixar passar, mais cedo você pode ir para algo que funcione pra você."

Eu estava determinada a esquecer aquela situação toda. Como se nunca tivesse acontecido nenhuma Camila na minha vida. Era estranho pensar assim, mas me forcei a isso. Não ia adiantar ficar remoendo coisas que não trabalhariam para mim. Às quatro da madrugada realmente não se tem muito que fazer. Fiquei passando os canais insistentemente até ver se conseguia algo bom para assistir. Aquela estava sendo uma noite longa demais para mim e eu parecia um siri na lata, inquieta, ansiosa e não conseguia me concentrar em nada. Nem mesmo no filme antigo que coloquei no aparelho de DVD, eu estava prestando atenção. Era um dos meus preferidos: Cleópatra, com Elizabeth Taylor.

Poucas coisas conseguiam prender a minha atenção, mas nas que conseguiam, eu era fissurada. Filmes antigos eram meus preferidos, mas minha paixão mesmo eram os cavalos de raça, mas os pangarés também tinham lugar no meu coração. Depois vinham os carros possantes, adorava meu BMW SUV, que ganhei de presente de papai, apesar de ter achado um pouco demais para mim, eu não reclamei do conforto e desempenho que ele me proporcionava, mesmo não conseguindo testar sua força total (258 cv) nas ruas do Rio, mas me contentava com o que dava. Papai não me negava nada e sempre que podia, me dava um mimo de presente. De certa forma aqueles "excessos" me incomodavam e eu procurava ser o mais dentro do meu padrão possível, quando aceitava seus presentes. Eu os queria ganhar por mim mesma, apesar de não precisar me esforçar muito se dependesse da vontade dele.

Mas era uma questão de honra para mim, ganhar meu próprio dinheiro "suado". Papai nunca aceitou esse desprendimento meu, esse desinteresse pela posse familiar, para ele era como se o desdenhasse também. Dele, além do carro, aceitei o financiamento do apartamento, que fiz questão de pagar e de minha mãe, o piano da família, por ela achar que ficaria melhor em minha sala, já que ainda nutria esperanças de eu me interessar em tocar numa sinfônica.

Bem, voltando à minha realidade, eu fiquei entretida com o meu filme até amanhecer, na verdade, prestava mais atenção no teto do que nas imagens da tela. Quando amanheceu, eu fui dar uma esticada até a padaria e comprei um pão quentinho de uma fornada recente. Vim andando, topando com muitos idosos que já praticavam seus exercícios matinais. Eu gostava daquela sensação de vivência e sabedoria que eles me passavam. Não é a tôa que diziam que Copacabana tinha o maior índice de idosos por metro quadrado do Rio. Além, é claro, de batedores de carteira, travestis e prostitutas para todos os gostos.

Prostitutas...

Sacudi a cabeça para evitar pensar em quem eu já tinha pensado. Mas era inevitável, era o que ela era afinal. Ela possivelmente já tinha dormido com "metade do Rio". Exageros a parte, sentia como se comigo tivesse sido sua primeira vez. Sei que não era, pela primeira vez que ficamos juntas. Ela era uma perfeita profissional do sexo, que não negava nada, dependendo do quanto se pagasse por aquilo que se queria. Mas, mesmo assim, me forcei a não vê-la apenas como um corpo que me desse prazer, para mim era um ser humano, em todas as suas vertentes: alegrias, tristezas, solidão... E enquanto estive com ela, acho que de alguma forma a fiz se ver assim também. Como uma mulher normal, cheia de sonhos e de expectativas... Que talvez eu tenha feito questão de destruir depois.

Fui chamada a realidade pelo toque insistente do meu celular, que para minha surpresa, vi se tratar do supervisor de importação do escritório filial, que não era meu chefe direto.

Estranhei, mas atendi e uma voz meio nervosa se fez ouvir do outro lado.

- Bom dia Lauren! Como está?