- Depois de arrumares a cozinha, virás comigo e com o Tiago à cidade.
- Huh? Para quê?
- Vamos comprar o material escolar.
“Material escolar? Será que tenho dinheiro para isso? E mesmo que tenha, como ia fazer para sobreviver o resto do mês?”
- É para ti. – Disse, entregando-lhe um envelope.
- O que é?
- A nossa avó não quer analfabetos cá em casa por isso, aproveita generosidade.
“A avó deles enviou-me dinheiro para o material escolar?”
A situação estava cada vez mais estranha e suspeita. Ela desconfiava da veracidade daquelas palavras uma vez que não fazia muito sentido. Se bem percebera, a avó deles contratara outra pessoa mais velha e ela apenas acabara no seu lugar por mera casualidade.
“ Uma pessoa muito mais velha não andaria na escola! Ok, não é um pensamento totalmente válido visto que ainda existiam pessoas preocupadas com a sua educação e com sede de aprender mas ainda assim…bom, não vale a pena pensar nisto, nem questioná-lo porque provavelmente virá com os seus ares superiores e sem resposta alguma”.
Depois de limpar a cozinha, regressou ao seu quarto onde procurou algo diferente para vestir. Afinal, seria a primeira vez em dias que iria deixar aquela residência e aquela zona arborizada.
Vestiu umas leggins pretas, uma t-shirt branca com um desenho a preto de um rosto feminino de cabelos ondulados e lábios vermelhos e brilhantes. Calçou umas botas pretas curtas de camurça, penteou um pouco os cabelos, pôs perfume e pegou numa pequena mala.
“Pelo menos o Tiago também vai, assim não me sentirei abandonada com o ‘simpático’”.
- Dalila já estás pronta?
- Sim, já vou! – Respondeu a jovem ao ouvir a voz alegre de Tiago que estava logo atrás da porta e por isso, deram de caras assim que ela a abriu.
Ele levava uma camisa branca, calças de ganga escura e umas sapatilhas pretas com riscas brancas. A rapariga podia sentir aquele aroma silvestre que parecia impregnado no rapaz à sua frente. Era agradável e ao mesmo tempo misterioso.
“Acorda! Não podes ficar a olhar para ela se não vai pensar que és algum pervertido!”, alertava-se a si próprio, tentando articular as palavras que felizmente para ele não tardaram em surgir num tom minimamente aceitável:
- Ehm, vamos?
- Sim. – Assentiu a rapariga passando por ele sem perceber o efeito que tivera nele há uns momentos atrás.
Repentinamente, ao entrar na sala é agarrada pela cintura e a única coisa que a separava e permitia manter uma distância quase aceitável do seu opositor eram as suas mãos nos ombros do rapaz.
- Olá boneca, não queres ficar cá em casa comigo?
Antes que pudesse responder, viu Filipe ser puxando por Tiago.
- Descola, Filipe!
- Eh vá lá, não podes ficar com tudo só para ti.
Tiago sentiu-se corar e falou bem mais alto do que pretendia.
- Mas do que estás a falar?!
- Do que estou a falar? – Ironizou Filipe. – Tu sabes muito bem do que…
- Acabem com as discussões idiotas e vamos embora. – Disse Ricardo saindo e Dalila seguiu-o e o Tiago não demorou.
Ela pensara que iria sentir-se mais confortável visto que o Tiago também iria, mas o silêncio que já durava há mais de dez minutos, começava a levantar dúvidas sobre se aquele desconforto, iria ou não passar. Ela vinha mais atrás, enquanto Tiago parecia guiá-los pelo caminho visto que Ricardo também não o ultrapassava por isso também não devia estar certo acerca do caminho e isso confirmou-se na primeira troca de palavras após o momento desconfortável.
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Viver com Eles
Novela JuvenilVivia uma vida bem normal, rodeada de amigos. Talvez fosse mais do que normal já que tinha direito a luxos aos quais nunca dei valor porque pensei que sempre estariam ali. Um dia, perdi os meus pais, perdi o meu chão, apercebi-me das coisas que tin...