25º Capítulo

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Já na residência, tomou um duche rápido apenas para retirar o sal do mar que se prendera nos seus cabelos. No fundo, ela gostava desse aroma mas sabia que acordar com o cabelo sem o lavar depois do contacto com a água salgada, estava longe de ser uma boa ideia.

À saída do banho e ainda de toalha, surpreendeu-se com uma roupa que estava sobre o cesto da roupa suja. Estava bem dobrada e Dalila desconfiou de imediato que fora o feiticeiro.

“Espero que tenha arranjado uma forma de pôr isto aqui sem ter posto os pés cá dentro”, pensou, enquanto desdobrava a roupa e apercebia-se que se tratava de uma camisa de dormir e um roupão fino. Depois de vestir-se, antes de colocar o roupão, observou-se no espelho.

A camisa de dormir de cor branca era linda na sua opinião e fazia com que se sentisse bem com a imagem que via no espelho porque relembrava-a que apesar de tudo, era bom sentir-se bem consigo própria de vez em quando.

Porém, sabia que precisava de falar com Ricardo e por isso, vestiu o roupão que ficava ligeiramente acima dos joelhos, fechou-o e agradeceu a decência do rapaz de pelo menos ter deixado aquele roupão ali, senão provavelmente não falaria com ele nessa noite.

Quando chegou ao quarto, Ricardo estava com uma t-shirt escura e uns calções igualmente da mesma cor e lia um livro. Ao seu lado, na cama de casal, Flávio dormia profundamente, agarrando um peluche em forma de estrela.

- Podes ir deitar-te, Dalila. Esta noite, fico eu acordado. – Disse sem tirar os olhos do livro.

- Também não tenho assim muito sono depois da soneca lá na praia. – Disse, entrando no quarto e sentando-se nos pés da cama, fazendo Ricardo olhar para ela.

- Há um quarto logo ao lado deste, podes deitar-te lá.

- Ricardo estás dever-me uma explicação, lembras-te? – Cruzou os braços, fitando Ricardo e à espera que este começasse a falar.

- Explicação? – Perguntou, fechando o livro e pousando na mesinha de cabeceira.

- Sim, disseste que me explicarias a história da Leonor. Bem, isto se ainda quiseres.

- É… - Disse, pensativo. – Eu disse que te contava. Para isso, preciso explicar-te um pouco melhor o que são esses chamados entre nós “feiticeiros temporários”.

- Feiticeiros temporários? Hum, desconfio que tu deves ser dos poucos que lhes chama isso.

- Bem, realmente não é de grande prestígio seres um feiticeiro com prazo de validade mas estou a tentar contar-te as coisas com um mínimo de educação. – Disse, levantando-se da cama e caminhando até à janela. – Esses feiticeiros podem viver vários anos das suas vidas sem qualquer manifestação dos seus poderes que pode ser desencadeada por emoções fortes. Os casos mais comuns são situações associadas ao perigo. – Fez uma pausa, sentando-se na janela, virado para Dalila. – A Leonor está associada ao meu elemento e por isso, quando um destes feiticeiros desperta, sendo do meu elemento, sou o primeiro a aperceber-me e tenho como obrigação procurar essa pessoa e tentar inseri-la no nosso mundo da melhor forma.

- Está ligada ao teu elemento? Pela forma como se comporta, ninguém diria.

- Não a julgues mal. – Disse num tom que fez Dalila arrepender-se da sua ironia. – Numa noite que podia ter sido normal como qualquer outra, ela sentou-se no cais e cantou. Era um hábito.

Contudo, nessa noite, aconteceu uma forte manifestação do seu poder como uma chama que repentinamente arde violentamente por pouco tempo e logo se extingue. A canção espalhou-se pela ilha e alcançou os ouvidos dos pescadores. Os que aquela hora ainda estavam acordados. Era uma canção que só iria atrair os homens pelas razões erradas e por razões que ela não compreendia na altura.

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