38º Capítulo

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Em casa, Filipe tinha adormecido no cadeirão que tinha levado para o seu quarto e Cármen começou a acordar algum tempo depois. Surpresa ao ver o feiticeiro ali chamou o seu nome o que o acordou de imediato. Este aproximou-se rapidamente da cama e perguntou como ela se sentia. Cármen respondeu tranquilamente que estava bem embora se tenha alterado um pouco quando quis saber como estavam os seus pais. Filipe pediu que se acalmasse e confirmou que eles estavam bem e perguntou o porquê da sua preocupação com eles visto que ela era a única envolvida no acidente. Depressa a rapariga espanhola afirmou que aquilo não fora um simples acidente e sim algo causado por feiticeiros e bruxas que também viajaram no mesmo comboio. Curioso e apreensivo sobre esse facto, o rapaz quis saber o quanto ela se recordava de tudo o que tinha acontecido mas as memórias da rapariga pareciam estar um tanto baralhadas. Assim, ele não teve escolha se não desistir de pressionar a rapariga e acalmá-la, dizendo que não era grave que não se lembrasse das coisas com clareza pois Ricardo depois trataria desse problema quando voltasse para casa.

- Gracias - Agradeceu com um sorriso tímido.

- Pelo quê? – Indagou ele.- Não fiz nada. Estás bem por causa do meu irmão.

- Por teres ficado aqui. Sei que não gostas quando venho cá. – Explicou Cármen mantendo o mesmo sorriso.

- Nunca disse isso. Porque raio pensas algo assim? – Perguntou Filipe num tom ofendido.

- ¿Es obvio, no? – Perguntou, forçando um sorriso, deixando cair uma lágrima. – Desde que terminámos, sempre que venho à vossa casa, tu das duas uma: ou sais ou passas o tempo todo contrariado.

O feiticeiro deixou os ombros descaírem um pouco e pediu desculpa num tom arrastado. Porém, esse tom não fez as emoções da feiticeira acalmarem-se e achou que seria melhor regressar a casa. Retirou os lençóis que tinha sobre si e o rapaz segurou-lhe a mão, dizendo que a culpa do que tinha acontecido entre eles no passado, nunca tinha sido dela.

Essa era a gota de água para tocar num assunto que ela tentara sem sucesso esquecer. Ouvindo aquelas palavras, exigiu que ele não lhe mentisse daquela forma pois a única explicação que encontrava para o que tinha acontecido, só podia ser culpa dela. Quase de imediato, o rapaz disse que ela nunca tinha feito nada de errado e que nunca quis que pensasse algo do género.

- Então, tu… - Começou, não conseguindo evitar deixar cair mais algumas lágrimas.

- Iria acabar por fazê-lo de qualquer das formas, Cármen. – Disse, largando a sua mão. – Nunca teria resultado porque eu só te faria sofrer.

A dúvida instalou-se e uma pergunta, uma suspeita que sempre tinha sentido dentro de si impôs-se. Cármen perguntou-se se ele teria mentido aquando das perguntas que lhe colocou. Novamente, ela verbalizou a questão. «Traíste-me?». A resposta evasiva, tentando chamar a atenção para inevitabilidade que tal iria acabar por acontecer mais cedo ou mais tarde despoletou nela sentimentos de raiva.

- Porquê? – Perguntou num tom incrédulo. - ¿Por qué me has mentido? Porque não negaste quando te perguntei? Porque quiseste que pensasse que…?

- Ia acabar por acontecer. – Falou num tom desconcertado.

- Tu não gostavas de mim? Eu não era o suficiente para ti? – Perguntou sem conseguir segurar as lágrimas.

- Não me perguntes essas coisas. – Disse, desviando o olhar.

- Mereço a verdade! – Disse Cármen, segurando-o pelos ombros e fazendo-o olhar para ela. – Não gostavas de mim de verdade, era isso? Preciso saber!

- É por gostar de ti que acho que é melhor assim. Deixa as coisas como estão. Não te quero fazer mal.

- Não me queres fazer mal? E isto? E mentires-me?

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