21º Capítulo

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Os dias foram passando e nas primeiras noites, Dalila não se importou de deixar o gato dormir enroscado nos pés da sua cama mas ao vê-lo aconchegar-se na sua almofada naquela que seria segundo, Tiago a última noite de transfiguração, achou melhor não arriscar. Preparou a roupa de Ricardo, deixando-a sobre a sua cama e de seguida vestiu um roupão quentinho, pegou em duas mantas e foi para a sala, deixando-o ainda na sua forma de animal, a dormir na sua cama.

Deitou-se no sofá e o facto de não ouvir o som do piano há algumas noites e nem sequer estar perto do rapaz que ainda que na forma de animal não deixava de lhe transmitir tranquilidade, fez com que o sono tardasse e os seus pensamentos fossem mais uma vez assombrados pelo seu passado.

Durante a noite, após a transfiguração ter terminado, Ricardo acordou e ao aperceber-se do local onde estava disse:

- Eu disse-lhe que me mantivesse afastado daqui e… - Murmurou, olhando com mais atenção para a cama e apercebendo-se de que a rapariga não estava no quarto e que havia roupas nos pés da cama. 

Depois de vestir-se, saiu do quarto, procurando por Dalila e encontrou-a, adormecida num dos sofás da sala. Pegou na sua varinha e murmurando algumas palavras, a lareira acendeu-se.

Sentou-se diante do piano, abrindo-o e começando a tocar uma melodia. Não demorou muito para aperceber-se da presença de mais alguém que acabara de entrar na sala.

- Não queria ter falado daquela forma e desculpa não ter tido esta conversa antes mas acho que nem sempre posso tomar as melhores decisões. Também faço os meus erros mas espero poder sempre dizer onde errei e como posso corrigi-los. – Afirmou Ricardo sem retirar as mãos do teclado.

- Eu também devia pedir-te desculpa por não ser o melhor apoio que…

- Tu e o Tiago são todo o apoio que tenho.

Filipe sorriu, sentando-se sobre o piano.

- E não contas com a Lila? Ela ouviu-me quando estava de cabeça quente e olha que te defendeu bastante.

- Ah sim? – Perguntou num tom desinteressado, continuando a tocar piano. – Assim que acordar ela vai esquecer-se de defender-me. O que combina mais com ela é tentar atirar-me coisas ou tentar pisar-me por debaixo da mesa.

Filipe riu-se.

- Cardy porque não tentas ser mais simpático com ela?

- Não pretendo ser simpático com quem tenta pisar-me ou atirar-me coisas.

- Tu provocas.

- Eu provoco? Eu limito-me a comentar certas coisas.

Horas mais tarde, Dalila acordou com o crepitar da madeira na lareira. Espreguiçou-se, tentando lembrar-se em que momento teria ela acendido a lareira. Olhou para o relógio da sala e viu que ainda era muito cedo e quando se levantou, viu Ricardo a descer as escadas.

- Pensei que ia ter que te acordar. Que idiota dorme na sala e deixa um gato dormir na cama?

- Idiota és tu! Para tua informação, eu gosto de gatos!

- Eu também mas nem por isso largaria a minha cama.

- Uma das melhores características que tens enquanto gato é não falar! É uma maravilha, acredita! – Disse, bufando e indo na direcção do seu quarto.

Durante o pequeno-almoço, Dalila estava contente pois os irmãos pareciam estar a conversar e rir com a mesma naturalidade e isso indicava que estava tudo bem entre eles mas por outro lado, a troca de palavras com Ricardo voltara também a ser especialmente “carinhosa”.

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