Na manhã seguinte, Dalila acordou cedo e apercebeu-se que Ana já não estava no quarto. Sentiu o cheiro de champô no ar e deduziu que a rapariga já tivesse feito a sua higiene matinal e talvez estivesse em outro canto da casa.
Ana estava na sala. Observava cada quadro exposto na parede. Fotografias de família. Uma família com sorrisos e unida. Ela própria sorriu perante mais um conjunto de rostos risonhos e repentinamente, ouviu passos e quando se virou, viu Ricardo parado a alguma distância. Ele cumprimentou-a ao que ela respondeu com um «Bom dia» escrito no bloco que tinha na sua mão. Mesmo sem saber o que o rapaz pensava, Ana depressa notou alguma desilusão por ela recusar-se a dizer qualquer palavra. Porém, ele prosseguiu a conversa comentando que ela gostava de levantar cedo e ver fotografias. «Ontem não tive tempo de olhar para elas com atenção. São os teus pais?», tornou a escrever no seu bloco. O feiticeiro confirmou que sim, era ele e os seus irmãos juntamente com os pais nas fotografias expostas nas paredes. A conversa prosseguiu com mais um momento de silêncio onde só se ouvia o lápis deslizar suavemente sobre a folha de papel em branco que Ana preenchia com alguma rapidez.
«Sei que não estão aqui todos os que estão nestas fotos. Sei que é importante manter as memórias mas há coisas que devemos deixar ir, não achas?»
- Sugeres que esvazie estas paredes e esta casa?
«Não. Esvazia só aquilo que te faz deixar de sorrir», rabiscou em resposta.
- O que queres dizer com isso?
«És uma pessoa inteligente o suficiente para saberes», escreveu, sorrindo-lhe de seguida e escrevendo «Bom dia» em letras grandes que mostrou a Dalila quando esta entrou na sala.
- Bom dia! Estavas aqui? Como não te vi e ainda era tão cedo, perguntei-te se terias caído da cama.
Ana ajudou Dalila a preparar a refeição para todos e cumprimentou os outros dois irmãos com a mesma disposição e sorriso. Ao saírem de casa, Ricardo lembrou-a mais uma vez que não devia sair da casa e que tirando isso, podia estar à vontade. A rapariga acenou afirmativamente e acenou-lhes enquanto entravam no bosque em direcção à cidade.
Assim que os perdeu de vista, voltou para o interior da casa e espreguiçou-se.
De seguida, caminhou em direcção a uma divisão em concreto.
Minutos mais tarde, os três irmãos acompanhados por Dalila entravam no colégio onde a rapariga reparou que alguns olhares já recaíam sobre ela pois alguém da sua turma já devia ter espalhado a notícia do seu namoro. Sabia que não estava a ser presunçosa por pensar algo assim pois os olhares pouco simpáticos de algumas raparigas demonstravam isso mesmo. Desagrado por saberem da novidade. Viu algumas começarem a cochichar quando Ricardo pousou o braço sobre os seus ombros.
- Põe lenha na fogueira. – Comentou ela.
- Incomoda-te? – Sussurrou perto da orelha de Dalila.
- Já estava à espera de uma recepção destas. Não tinha muitas fãs quando descobriram que morava na vossa casa e então agora com este namoro, acho que se restavam pessoas indiferentes, também desapareceram. – Forçou um sorriso. - Quando vires uma cara simpática avisa-me.
O rapaz riu-se e murmurou:
- Vem aí uma.
Dalila desviou o olhar e sentiu o braço de Ricardo afastar-se.
A sua amiga do grupo de dança, Cristina aproximava-se com um grande sorriso e abraçou-a.
- Que saudades miúda! Essas férias foram boas? Quer dizer, claro que foram, não é? – Perguntou, olhando para Ricardo que lhe sorriu e acenou, dizendo que se viam na sala de aula.
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Viver com Eles
Novela JuvenilVivia uma vida bem normal, rodeada de amigos. Talvez fosse mais do que normal já que tinha direito a luxos aos quais nunca dei valor porque pensei que sempre estariam ali. Um dia, perdi os meus pais, perdi o meu chão, apercebi-me das coisas que tin...