"O que sobrou de nós."
Heloísa Riche.
Guilherme me leva em casa e meus pais estavam por lá, mamãe tinha os olhos e nariz inchados e vermelhos, meu pai estava dormindo e um péssimo jeito no sofá.
-Helô, filha. - mamãe me abraça. - Como está? Está machucada? O que fizeram com você.
-Calma mãe. - retribuo o abraço e meu pai acorda.
-Heloísa. - vem até mim. - Que bom que está aqui. - também me abraça.
-O que foi que fizeram com você? - mamãe me pergunta.
-Nada. - me sento.
-Como nada? - os dois me olham.
-Não fizeram nada de ruim. - suspiro.
-Tem certeza? - papai me olha.
-Sim. - olho a Guilherme. - Poderiam ir comprar alguma coisa para comermos? Preciso conversar com Guilherme.
-Claro, claro. - os dois vão saindo da casa.
-Filha, avisa a Alice, ela está atrás dos seus sequestradores, está desde que sumiu na delegacia fazendo de tudo. - meu pai fala e sai.
-Ok. - me deito no sofá e Guilherme vem até mim.
-Quer que eu faça algo? - me olha.
-Me abraça? - me levanto.
-Claro. - me abraça forte.
-Você é a minha salvação sempre e em todos os sentidos. - falo baixo.
Depois de ficarmos alguns minutos em silêncio, saio do abraço e me sento no sofá, Guilherme se senta ao meu lado.
-Esconde algo de mim? - pergunto.
-Não. - fala certo e de uma vez.
-Mesmo?
-Eu juro que não estou escondendo nada de você. - fala olhando em meus olhos.
-Tudo bem? - deito minha cabeça no ombro dele. - Acha que vou me recuperar do amor que sinto por Vicente?
Olho para minha parede pintada um azul pastel aonde ficava alguns quadros com fotos de amigos e de família, em um deles observo uma foto minha e de Vicente, em um momento feliz e tranquilo, o que era impossível entre nós. Meus olhos pareciam brilhar e eu parecia realmente feliz, e ele a mesma coisa, diferente de sempre, naquela foto ele sorria de verdade e aparentava estar em paz, me lembro do dia em que tiramos essa foto, foi no jantar que teve na casa de seus pais, a mesma noite em que tive uma emergência no trabalho e fizemos amor no meu escritório. Como vou entrar dentro do meu escritório sem lembrar do quão covarde Vicente foi, depois de todo amor que ele dizia ter, nem ao menos tentou me ajudar, não pelo nosso amor, o que nem sei mais se era real, mas por ter m colocado no meio disso tudo.
-Acho que nunca vai superar, ou esquece-lo, mas vai se acostumar com a falta dele. Você vai sobreviver... - faz carinho no meu braço. - Prometo que vai sobreviver. - suspira.
-Eu espero que sim. - fecho meus olhos.
Adormeço nos braços de Guilherme e assim que acordo estou na minha cama, a mão dele estava em meu cabelo e ele estava de mal jeito, sorriu e o observo dormir.
-Não pode me observar dormir. - fala baixo e abre os olhos devagar.
-Desculpa, não pude me controlar. - sorriu fraco.
-Está tudo bem?
-Muito melhor do que um dia atrás. - fito o teto.
-Imagino que sim. - se senta na cama. - Tudo vai dar certo agora Helô. - me olha rápido.
-Acredito que sim. - abraço as costas dele.
-Helô? - fala depois de alguns instantes.
-Hum? - continuo abraçada nele.
-Preciso te contar algo.
-Pode contar. - ele se vira e segura em minhas mãos.
-Eu não quero me aproveitar do seu momento de fragilidade ou esconder sentimentos. - olha em meus olhos. - Desde que nos vimos no Natal, algo dentro de mim acendeu como uma fogueira que não consigo de forma alguma apagar. Por você eu sou capaz de tudo, de lutar contra meu irmão, contra a minha própria família ou até mesmo contra Vicente Bastos. - sorri fraco. - Eu não sou capaz de te deixar sozinha, de te machucar outra vez ou de te enganar como fiz da primeira vez. Helô, você é a mulher da minha vida, sempre foi, eu apenas não enxergava isso antes. Porém o destino nos deu mais uma chance. - sorri. - Me perdoe por tudo, mas estou disposto a ir no seu tempo, sem me aproveitar de nada, apenas ama-la como nunca ninguém... - o beijo para não ouvir o final da frase, meu coração se aperta e minha garganta forma um nó, deixo as lágrimas caírem durantes o ato.
Vicente Bastos.
Depois de dois dias eu estava mais afundado no clubo do que nunca, não tinha ido embora desde que a minha tentativa de salvar Heloísa tinha dado errado. Eu não estava bem, provavelmente nunca mais vou ficar, meu celular estava rodando por ai, a minha mente estava mais perdida do que as milhões de chamadas não atendidas da minha família.
-Você precisa ir embora, tudo tem um limite. - um homem que eu nem conhecia fala comigo.
-Não posso. - o olho sorrindo. - Eu não quero.
-Senhor, não pode mais ficar, já tem mais dois dias que o Senhor chegou aqui e desde então não saiu mais. Vá embora e volte amanhã. - me ajuda a levantar.
-Tudo bem. - coloco minha camisa assim que me levanto.
Ele me leva até meu carro, entrega minhas chaves, celular e meus sapatos, entro no carro e logo começo a dirigir, acabo indo para um lugar inesperado. Já era noite e minha cabeça estava fritando, estaciono e desço do carro, vejo meus seguranças na porta e Marcelo vem até mim.
-Vicente? - me olha. - Você está horrível e não deveria estar aqui
-Eu sei que estou péssimo, mas preciso de notícias. Preciso dela. Não posso viver sem ela. - ele me olha. - Me diz quem eu sou sem a Heloísa? Eu sou um merda, eu sou a porra de uma merda, tenho certeza que essa filha da puta de merda tem mais valor comparado a mim quando estou sem a Heloísa. - abaixo a cabeça. - A verdade é que com ela eu sou melhor, com ela eu posso ser alguém melhor, mesmo que eu mesmo desacredite de mim. O amor dela me mudou, e eu voltei a ser pó quando eu não fui até o final e fiz de tudo para conseguir ajuda-la e fazer com que ela voltasse para mim. Eu sou um lixo que não merece um terço do amor dela, mas acima de merecer está o precisar, e por mais que eu não mereça, eu simplesmente preciso e não me vejo mais sem ele.
-Vicente... - Marcelo chama. - Não deveria ter falado tudo isso para mim. - o olho.
-Me desculpe. Eu precisava, eu só preciava dizer tudo isso para alguém, já que ela nunca mais me ouvirá.
-Eu sinto muito.
-Não sinta, eu fiz por merecer essa merda que vou passar a viver sem ela.
-Se te ajuda, ela está bem, viva. - meus olhos brilham e tento entrar no prédio. - Mas quem está do lado dela agora e provavelmente permanecerá até ela não quiser mais, é o Guilherme. Você teve sua chance, mas fracassou. - fala sincero.
-Ok... - me viro de costas. - Ok. - dou um soco no vidro do carro e corto minha mão quebrando o vidro.
-Vicente. - Marcelo grita. - Você é louco?
-Sim. - entro no carro e começo a dirigir.
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Apenas Uma Noite [REVISÃO]
RomanceHeloísa Riche e Vicente Bastos. Ela médica pediatra, ele advogado trabalhista. Desejos, paixões e sonhos distintos um do outro. Entretanto, há uma coisa que possuem em comum: a vontade de manter o coração trancado e longe de possíveis amores. Relaci...