Capítulo 13 - Meu bem, Nós Não Temos Chances

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Vicente Bastos

          Caio saí da academia acompanhado pelos seguranças, como acontece comigo quando tento voltar para dentro e finalizar o serviço que tinha começado antes, ele merecia mais uma surra por ter feito o que fez com Heloísa e por ter feito com que ela tivesse dúvidas, se bem que eu não sabia se era isso que havia acontecido para ela não querer me ver. A verdade é que eu não podia dar à ela a verdade e isso estava me corroendo por dentro, se por acaso eu despejasse toda a merda em cima dela nesse momento então eu estaria arruinado, tudo o que eu tenho construído para nós estaria quebrado em mil pedaços e pisoteado por esse desgraçado com o olho menos roxo do que deveria estar. 

          Nunca fui muito bom em lidar com a minha frustração e dor, por isso entro com pressa em meu carro e nesse momento recebo a confirmação de que Marcelo havia deixado Heloísa em sua casa e que, apesar de tudo, ela estava bem. Por fim, pedi que ele ficasse por perto para o caso de ela precisar de algum auxílio, em seguida dou partida no carro e dirijo até o mesmo lugar... O maldito clube!

—  E não é que você voltou, Doutor Bastos. — A secretária sorridente fala ao me ver. 

— Como descobriu meu nome?  

— Os verdadeiros nomes não ficam escondidos por muito tempo aqui. 

— Qual é a minha sala? — Pergunto decidido a ignorar a conversa sobre a minha verdadeira identidade.

— 342, espero que esteja preparado. — Me lança mais um sorriso malicioso — Boa sorte, Vicente. 

— Perdi toda boa sorte que eu tinha há algumas horas. — Sussurro para mim mesmo e caminho para dentro do lugar.

          Eu estava me afundando. Eu não que estava chegando ao fundo do poço mais um vez, porém eu não sabia como evitar, não sabia quem eu era quando não estava na companhia de Heloísa e me perder em um Vicente do passado me parecia, por alguns instantes, a escolha certa a se fazer, mesmo que depois, quando de volta a realidade, eu percebesse que era furada e que não teria como me livrar daquilo se eu ao menos não tentasse. Eu não categorizaria isso como uma dependência emocional por ela, havia acabado de voltar para a sua vida, porém eu era dependente da adrenalina a qual sentia quando estava nesse lugar e era um vício perfeito, inebriante e que me conduzia escada à baixo e durante todo o tempo que estive nesse lugar depois que a conheci, não pude deixar de desejar que ela se tornasse a minha nova droga e conseguisse substituir tudo o que sinto quando estou aqui.

          Durante o resto da noite pondero entre deixá-la viver a sua vida sem vestígios de que um dia existi e lhe contar a verdade sobre a bagunça e escuridão que eu sou, e eu sei que possivelmente ela tentaria me entender, eu acho que é isso que o amor faz com a gente... Nos deixa cegos e blindados para possíveis críticas e conselhos. Sei o que Heloísa causava em mim eu gostava tanto quanto de fazer as coisas erradas e perigosas que me sujeitava, mas isso seria suficiente? Ela seria suficiente para me tirar desse meio e suprir tudo e qualquer coisa que um dia eu almejei que fosse a qual eu fui destinado?

          Já se passava das três e meia da manhã quando finalmente saio do clube completamente destruído e mais uma vez arrependido. Entro em meu carro e seguro com força o volante revestido de couro, recosto minha cabeça nas mãos e depois muito tempo sinto um nó se formar em minha garganta, meus olhos ardem e eu os fecho apertando com mais força ainda. Era tudo um terror, essa situação toda era demais para mim, eu não sabia como prosseguir e só agora havia me dado conta de que esse era o motivo de eu sempre afastar as pessoas: era mais fácil se ninguém quisesse ajudar, conhecer ou entender a completa bagunça da qual eu sou feito.

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