Capítulo 1 - O Mesmo Mundo Diferente

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Heloísa Riche

          Literalmente caio da cama com o despertador do celular tocando, era sábado e teria folga no dia seguinte, não que eu não goste do meu trabalho, na verdade eu amo ser pediatra, o Sírio-Libanês é minha verdadeira casa, mas estava completamente exausta. Por fim, me arrasto para o banheiro e me dispo, pego meu celular e vejo que tinha uma hora para sair ou pegaria o trânsito infernal de São Paulo, ligo o registro do chuveiro e tomo meu banho. Logo que acabei, fui me vestir. Arrumo meu cabelo e faço uma maquiagem básica.

          Vou até a cozinha preparar o meu café que, depois de pronto, o coloco em minha garrafa térmica e por fim acabo de guardar as coisas em minha bolsa. Passo a mão em meu celular e dou uma olhada, minha amiga, Alice, havia me mandado mensagens marcando de irmos para uma festa à noite, porém eu só sairia às 18 horas e depois iria para o treino, por isso, não sei se estaria disposta à sair, mas ela não desistiria até conseguir fazer com que eu cedesse. Respondo que poderia pensar na possibilidade e pego as minhas chaves. Vou para o estacionamento entro em meu carro e segui em direção ao hospital.

          Acho que lhes devo uma apresentação, caros leitores: Meu nome é Heloísa Riche, tenho 28 anos, sou formada em Pediatria pela USP de Ribeirão Preto e amo meu trabalho, crianças são basicamente a minha vida. Certamente, se não me encontrarem no hospital, com toda certeza irão me encontrar na academia onde eu treino, sou faixa preta em Judô, pratico o Muay Thai, Jiu-Jitsu e arrisco na capoeira, porém a minha paixão sempre será o Muay Thai. Meu treinador é a melhor pessoa que eu poderia ter conhecido, o Caio é um homem incrível, insiste em achar que sinto algo por ele, porém não posso negar que ele é um tanto atraente. Ficamos duas ou três vezes, mas nada foi para frente, ele é apenas o meu treinador, nada além disso! Não tenho um bom histórico com professores, afinal. E já que toquei neste assunto, uma informação sobre mim é que estou solteira desde o terceiro período da faculdade, tive um relacionamento com um professor, mas nada que tenha dado certo, primeiro por motivos óbvios e porque ele foi embora. Desde então me fechei por completo e prefiro me dedicar a vida profissional.

     Meus pais moram em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Sempre que posso entro no carro e vou passar o domingo e feriados com eles, os dois são a minha única família e eu os amo demais. Sou filha única e desde de pequena eles me apoiaram em qualquer decisão.

          Chego no hospital e sigo para a minha sala, minha agenda estava cheia hoje e eu me sentia ansiosa todos os dias antes de colocar meu jaleco. Entrei em minha sala depois de cumprimentar Maria, minha secretária, ela logo me avisa que meu primeiro paciente estava na sala de espera, peço para que entre. Coloco meu jaleco e sento-me em minha cadeira dando um gole em meu café, assim que vejo a mamãe entrar com o bebê de colo meus olhos começam a brilhar, e assim começo a melhor das rotinas.

Vicente Bastos

          Antes mesmo do sol nascer estou de pé, corro pelas ruas do condomínio aonde moro, algumas mulheres muito bonitas correm por ali também, não me orgulho de já ter beijado a maioria. Não me acho por tais atos mas eu também não posso negar que sou um homem irresistível, modéstia à parte. Por fim, assim que termino a corrida volto para casa, tomo um banho e vou ao meu closet, escolho um terno azul-marinho, gravata e sapatos, penteio bem os cabelos, me perfumo e escolho um relógio, desço as e escadas e a cozinheira já tinha preparado o meu café.

— Bom dia, Senhor Vicente. — Clara, minha cozinheira sorri.

— Bom dia. — Sorriu e me sento.

          Clara é como uma mãe para mim, mesmo eu tendo Sofia, que mora alguns minutos daqui, a pessoa que passo a maior parte do tempo, é Clara.

— Eu preciso ir, trabalho pesado hoje. — Falo acabando de comer.

— Que bom que o senhor sempre arruma um jeito de ganhar. — Ela sorri, me dá um beijo na bochecha e arruma minha gravata. — Boa sorte.

— Você me dá sorte. — Dou um beijo na testa dela.

          Bom, meu nome é Vicente Bastos, tenho atualmente 30 anos, sou advogado trabalhista e atuo na empresa da família. Desde meus primeiros anos como profissional só perdi em média umas cinco causas, mas isso já faz muito tempo, tudo isso se deve a minha total entrega ao trabalho. Algumas pessoas dizem que eu e meu irmão mais velho, Enrico Bastos, somos loucos por nunca pararmos com uma só mulher, outros acreditam que somos homossexuais, apesar de estarmos sempre na capa das revistas de fofocas com belas mulheres, eles alegam que seja somente para manter a fama de que os Bastos sempre serão homens bonitos que jamais ficarão com uma mulher só, o que é uma grande mentira, meu pai é um Bastos e só tem olhos para a minha mãe desde que se conheceram. Já o que a minha família pensa sobre a minha fama e do meu irmão? Bom, Enrico acredita que ainda vamos "sossegar" mas enquanto não achamos a tal mulher certa vamos curtindo a vida pelas noites de São Paulo, como se realmente existisse a mulher certa para mim. Minha irmã mais nova, Bárbara Bastos, odeia nunca ter uma cunhada, apesar de que ela odiava Débora, minha ex esposa, a qual eu espero nunca mais ver. Voltando a história de eu ser um cafajeste, segundo as pessoas com quem eu já me relacionei, na cabeça de meus pais, ou melhor, de São Paulo por completo, somos o que somos e não teremos concerto. Mesmo com isso, eles ainda esperam que eu ache alguém tão querida, que vá me encantar verdadeiramente, mas enquanto eu sei que isso não vai acontecer eu vou me divertindo com as mulheres que desejam me ter, afinal é divertido proporcionar a melhor noite da vida delas.

          Chego na empresa e já sou logo atormentado por meus pais, Henrique e Sofia, sobre a matéria que foi publicada mais cedo, algo sobre eu ter saído de uma boate acompanhado de três mulheres e meu irmão... Com outras duas.

— Quanto mais melhor, papai. — Sorriu e entro em meu escritório.

— Você ainda encontrará uma mulher a qual não cairá nos seus encantos e essa então, será a mulher que te mudará. — Mamãe me abraça mas acaba falando em um tom ameaçador e um pouco profetizador.

— Nenhuma mulher pode me negar. — Retribuo o abraço — Eu te amo mãe, mas está  errada quando diz que encontrarei alguém.

— Veremos. — Me dá um beijo na bochecha.

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