Albafica, o cavaleiro das flores

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Era primavera. A mais bela estação de todas, onde o clima ameno e agradável abraça as pessoas com sua brisa morna. Flores nascem por todos os jardins, e em especial nos jardins da família Fishy.
O sr. Fishy sempre teve mão boa para a agricultura, sua mãe e sua avó diziam isso quando jovem. Hoje com seus 37 anos o sr. Fishy já não é mesmo. Com o cultivo de rosas venenosas a sua vida foi sugada mais cedo. As rosas eram raras e ele sempre dizia com excitação:
—Serei o primeiro homem reconhecido em toda a Grécia por dominar as rosas diabólicas!
Sua mulher, sra. Fishy não aprovava, sempre reprovava o marido por aquilo, já que a convivência com as rosas envenenam o sangue, por isso ela nunca chegava perto.
—Jean-Albafica Fishy, se você morrer nesse jardim diabólico vai ficar aí apodrecendo porque não irei me esgueirar nessas belezas mortais para tirar seu corpo! –gritava ela! E assim os anos se seguiram, o bondoso, carismático e empático Jean cultivando rosas e a esbelta e vaidosa Nora o criticando todos os dias.
Cinco anos depois, Jean-Albafica Fishy e Nora Fishy têm a notícia que em breve um bebê chegaria em suas vidas. Seu primeiro filho. O casal não se continha de felicidade.
—Jean, nem acredito que nosso sonho está se realizando! Depois de anos tentando, finalmente terei nosso primeiro, e único bebê no colo -Disse Nora com certa tristeza nos olhos.
—Não se preocupe meu amor, até meus 100 anos nós conseguiremos uns 15 bebês -o tom de descontração era nítido, Jean odiava ver Nora se entristecendo.

Com o passar de 3 meses e meio a barriga de Nora não apresentava sinais de um feto vivo ali dentro. O casal já preocupado decidiu ir ao médico da vila que os atendeu com rispidez.
—Pelos relatórios dos exames pude ver que o bebê do casal possui altas taxas de fragrância diabólica. O médico se referia ao veneno das rosas envenenadas.
—E..e..eu.. cultivo rosas, doutor! -engasgou Jean.
—O veneno das rosas está em seu sangue, você não deveria ter criado uma vida. O DNA que corre em suas veias está impregnado com o gene das rosas- repreendeu o Dr. Ikaaro. Sua esposa pode ter complicações por isso também- completou ele.

Nora que já se derramava em prantos disse olhando para Jean:
—Não quero perder nosso filho!
Jean só podia se lamentar pelos anos de cultivo da flor e chorar desesperadamente junto de Nora.
—Eu não disse que vocês perderão o bebê, estou dizendo que vocês terão problemas com ele. Nascerá um criança com problemas mentais, congênitos e dificilmente se tornará um homem adulto.
Depois da consulta o casal Fishy retornou para casa em prantos. A truculência do médico havia deixado os dois com sentimentos ruins de culpa e raiva, e durante o caminho de casa cogitaram a ideia do aborto, pois Nora não suportaria ter uma criança atrofiada como fardo em suas costas. Jean, que sempre foi mais altruísta e emotivo não aceitou a absurda proposta que sua esposa externou.
—Nora, como pode dizer tal atrocidade contra seu próprio sangue? Jamais você fará isso, e se for necessário, eu cuido do nosso filho sozinho! -Jean exclamou.
O resto do caminho para casa se sucedeu de silêncio absoluto.

No dia seguinte, antes que o sol se levantasse, Jean foi ao templo construído para Afrodite que ficava a meio quilômetro de seu casebre e pediu a deusa do amor e da fertilidade que abençoasse a vida do seu filho que ainda estava sendo gerado na barriga de sua esposa. E a partir daquele dia, todas as manhãs antes do sol se levantar, Jean ía ao templo rogar pela vida inocente que era gerada na barriga de Nora.

Outubro, passaram-se dois meses desde a última consulta com o médico, a primavera chegou há um mês e nesse tempo a barriga de Nora desenvolveu pouca coisa, em contrapartida, o feto dava sinais de vida todo instante. Jean continuou à ir ao templo sem que sua mulher soubesse.
Nesse 5º mês de gestação o casal Fishy não se aguentava mais de ansiedade, Jean anotava em um caderninho todos os possíveis nomes para a criança que eles ainda não sabiam de qual sexo era. Nora se acostumou a ideia de ter o bebê, mas não queria cuidar dele, decidiu colocá-lo para adoção assim que nascesse. Vaidosa, estava ansiosa em ter seu corpo e beleza novamente.

—Jean, não se apegue ao feto -depois da notícia que a criança nasceria com problemas Nora usava adjetivos pejorativos e depreciativos para se referir à vida que ali crescia- Você sabe que não ficaremos com ele.
—Eu vou ficar com ele, você pode ir morar no orfanato se quiser -ria Jean.

Os sete meses de gravidez batiam à porta. Jean estava no jardim cuidando de suas queridas rosas diabólicas quando ouve um grito.
—Aah, eu não posso aguentar tanta dor! -Nora espremia as palavras entre os dentes.
—Calma querida, te levarei ao médico imediatamente!
Jean teve certa dificuldade em levar Nora ao hospital puxando uma charrete velha que eles tinham, pois somente o cheiro das rosas era capaz de matar os animais que se aproximassem delas, e como o pequeno pasto da família Fishy era coberto dessas rosas então eles não podiam se dar ao luxo de ter um burrinho.
Chegando ao hospital da vila os médicos que estavam disponíveis atenderam Nora com agilidade.

—Temos de interná-la já! - gritou um dos médicos.
—Vai ser necessário adiantar o parto em dois meses! -gritou o outro. E nisso levaram a pobre mulher para a sala de cirurgia.
Foi uma cirurgia tensa. Jean acompanhou tudo de perto. Ao final, o médico entregou o bebê nos braços do pai e ele disse com certa animação na voz:
—Olha Nora, é um menino! E nasceu perfeito! Graças aos deuses! -exclamou e logo deixou que Nora o segurasse nos braços.
—Meu filho -disse Nora com voz falhada e um meio sorriso- Me desculpe por ter te rejeitado todo esse tempo! Nesse momento Jean era pura lágrima. —Quero que ele tenha seu nome, Albafica! Nora entregou o bebê para Jean e continuou:
—Diga a ele quando for um rapaz que sua mãe nunca foi uma pessoa muito boa, mas que conseguiu se arrepender de tudo de ruim que fez.
—Diga você, Nora! Eu deixo você morar com a gente, não precisa ir pro orfanato! -Jean disse engasgado percebendo que a luz de sua esposa se esvaía dos seus olhos.
—Jean, meu filho, eu amo muito voc...
O olhar congelado em direção à Jean e ao bebê era petrificante. O som dos aparelhos médicos era estridente. O mundo desabou para Jean. Nora não era a melhor esposa do mundo, mas ele a amava de verdade, e agora o que lhe restava era seu filho.

—Sua esposa não era imune ao veneno das rosas, quando cortamos ela para tirar o bebê às pressas os sangues se misturaram e causou um choque anafilático. Meus pêsames sr. Fishy -disse o dr. Ikaaro.
Naquele momento Jean não ouviu nada, parte do mundo dele foi destruído, mas ele tinha a certeza que se sentiria mais perto de Nora com Albafica nos braços.

Albafica ficou no hospital durante dois meses e durante esse tempo, Jean acabou com seu plantio de rosas diabólicas. Ele se culpava pela morte de Nora e não queria que seu bebê fosse contaminado.
No primeiro dia regido pela casa de peixes o bebê foi liberado. Chegando em casa Jean disse pro pequeno Albafica:
—Fortão você hein garoto!? Terá um futuro promissor e será o maior garanhão da vila! Se puxar a beleza de sua mãe, claro! Ria Jean para o bebê que resmungava em seus braços.

Dois anos se passaram, Jean tinha seus 44 anos, mas como as flores lhe sugaram a vida aparentava ter 70 e poucos. Ele nunca acabou totalmente com suas plantas venenosas. Possuía um pequeno vaso com alguns exemplares.
Num certo dia de tempestade esse vaso caiu. A casa de madeira já não era a mesma e como Jean não tinha a mesma força de manter tudo em ordem, então os cupins devoraram tudo. Antes de Jean perceber, Albafica se engatinhava para de encontro das flores e mastigou uns três botões inteiros.
Desesperado e temendo pela vida do filho, Jean improvisou um escudo e levou o bebê até o médico. Chegando lá, o pai com medo, omitiu que seu filho tinha comido rosa diabólica e apenas disse ao médico que ele caiu e começou a chorar muito.
—Não vejo problemas com seu filho, sr. Fishy. Caso ele tenha problemas de febre dê esse remédio à ele- disse o médico entregando um frasco que Jean mal podia ler o que estava escrito.
Voltando para casa, depois da chuva, Jean agradeceu aos deuses por não terem tirado seu filho e questionou o milagre, já que as rosas poderiam facilmente ter matado o bebê instantaneamente. Os dias seguiram e depois disso não ouve sequer nenhum "acidente" com o pequeno Albafica de Peixes!

Gente, essa foi minha primeira fic. Espero que gostem, e se tiverem achado cansativo o capítulo, me falem por favor. Prometo diminuir. Bjs glitterizados! 😘🌟

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