Presente para a dama

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Passava das 22 horas e o dormitório estava vazio. Ninguém no banheiro. Todas as alas nos corredores norte, sul e oeste não tinham uma só alma viva.
—Ele só pode ter ido me procurar no salão. -Albafica sentia um frenesi enquanto procurava por Shion, mas a medida que a sua procura não dava resultado, a frustração tomava conta do seu ser.
O jovem prometido de Peixes vasculhou a ala leste e chegou correndo até o grande salão, onde era realizada a festa, e parou na porta para observar as pessoas que ali estavam. Seria impossível encontrar Shion naquela multidão, mas o que Albafica não esperava era que Rocco o tivesse visto e decidiu ir até ele.
—Que bom que você voltou. Está me devendo uma dança.
—Você viu Shion por aí?
—Não, mas se quiser eu posso te ajudar a procurá-lo.
Aparentemente Rocco não estava bêbado como antes, e por isso Albafica aceitou sua ajuda.
—Claro. Mas ele deve estar fora das dependências do templo. Isso significaria você sair da festa.
—Por mim, sem problemas! Acho que já bebi e me diverti o suficiente aqui.
Albafica concordou com um aceno de cabeça e os garotos saíram do templo sem serem notados por ninguém dirigindo-se para a arena de luta.
—Achei que ele pudesse estar aqui.
—Albafica, pelo que conheço do temperamento de Shion, ele não viria para cá. Esse lugar traria a revolta e vergonha dele à tona.
—Verdade. Acho que sei onde ele está! Se quiser, não precisa ir... não quero te tirar da festa.
—Já disse que está tudo bem. Eu te acompanho.
Os garotos saíram da arena em silêncio e foram até a aldeia que ficava nos arredores do templo de Athena. No meio do caminho Rocco quebrou o gelo.
—Por que você me afastou quando eu te beijei hoje na festa?
—Porque lá não era lugar... e nem hora para isso.
—Eu acho que te amo.
Albafica ficou sem fôlego ao ouvir aquelas palavras e não conseguiu disfarçar a surpresa.
—Mas.. mas.. você não era hétero? E a Celine? Você nunca pareceu...
—Mas não preciso parecer com nada para amar. Amor é para sentir e não para entender. Eu sempre reparei em você, e apesar de eu ter ficado com a Celine, eu sempre senti atração por você. Seu jeito e seu cheiro de rosas e cereja...
—O Shion também fala isso... meu cheiro... não tem nada disso.
—Porra, Albafica! Estamos falando de mim e de você, não do Shion. -Rocco ficou realmente irritado em ter que falar de Shion naquele momento. —Eu sei que estamos procurando por ele, mas vi esse momento como uma oportunidade de poder me declarar. E não vá achando que estou bêbado e isso que falei é da boca para fora.
—Rocco, o coração não é tão simples quanto pensa... você disse que acha que me ama.
—Caralho, mano. Quer que eu grite? -Rocco não exitou e gritou a plenos pulmões. —ALBAFICA, EU TE AMO!
—Para, você vai chamar a acordar o vilarejo inteiro!
—Eu não me importo. Só quero uma chance de poder mostrar tudo isso que sinto. É como se eu fosse um vulcão adormecido e estar perto de você me faz querer jorrar meu amor incandescente por você.
—Ta bom... podemos conversar sobre isso depois que eu encontrar o Shion e ter certeza que ele está bem!
Rocco mais uma vez se sentiu em segundo plano, mas apenas olhou para Albafica em desacordo e continuou seguindo ao seu lado.
O assunto entre os dois não passava de perguntas aleatórias que eram respondidas em sim ou não. A poucos metros além do vilarejo começava o pasto gramado e a aposta de Albafica era que Shion estivesse debaixo do pé de cerejeira que ele tanto adorava.
—Fica muito longe daqui essa árvore? Pode ser perigoso se ficarmos vagando por aqui essa hora. -perguntou Rocco.
—Não, fica bem ali...
A frase não foi terminada. Albafica pode ver Shion de longe. Ele estava acompanhado de uma mulher. Sayon!
As palavras desceram como um nó pela garganta do prometido de Peixes que segurou para não demonstrar sentimentos ao lado de Rocco.
—Vamos embora, Rocco. Ele parece estar bem. Está com a namorada dele!
—Não, cara! Viemos até aqui pra nada? Agora vamos lá checar se está tudo bem mesmo.
Albafica se manteve relutante e virou-se para voltar ao templo, e na mesma hora Rocco pegou o garoto pelas pernas e o jogou nos ombros. Albafica fez um pequeno escândalo e acabou chamando a atenção de Shion.
Rocco se aproximou e aí sim desceu o jovem prometido de Peixes que em descontentamento exclamou:
—Obrigado por me fazer de otário na frente... deles...
—Não há de quê, meu caro! Se precisar, faço de novo.
—Não ouse fazer isso nunca mais, Rocco!
Shion e Sayon apenas observavam a discussão dos dois. Rocco e Albafica pareciam um casal de idosos brigando para decidir quem teria direito ao último pedaço de bolo.
Por fim, Albafica limpou sua roupa, mesmo sem ter um grão de pólen sobre ela, e dirigiu a palavra à Shion.
—Vejo que você está bem acompanhado. Só queria ver se está bem e já estou indo.
Sayon olhava com deboche para Albafica e não se conteve calada.
—Ele está bem agora. Ele estava desolado quando passou lá em casa e eu cuidei muito bem do meu homem.
Enquanto falava, Sayon fazia mil feições eróticas e sensuais. Ela era uma descarada. Sua mão não se deteve e estacionou sobre o membro de Shion.
—Foi uma noite mágica!
—Chega Sayon! Pra que se vangloriar tanto só porquê transamos?
Shion afirmou que o ato tinha se consumado e Albafica ao ouvir aquelas palavras não disse nada, mas era possível ver a ira rolando em seus olhos.
—Tudo bem, é normal casais transarem. Principalmente quando uma das partes é uma oferecida. O ato acontece toda hora e em qualquer lugar. -a sobrancelha de Albafica se arqueava na direção de Sayon.
Percebendo o clima tenso, Rocco se apressou em convocar Albafica para retornar ao templo.
—Já está tarde, pequeno. Vamos voltar agora que você constatou que eles estão bem.
—Claro. Mas antes quero dar um presente para a dama.
Albafica estava muito melhor com seus poderes, e com os sentimentos que explodiam dentro de seu coração foi fácil materializar uma flor. Uma rosa. A rosa diabólica.
—Sinal de paz entre nós. Aceite, por favor. -Albafica nunca tinha agido daquele jeito, mas o ciúme era nítido em seus olhos azuis que brilhavam em um roxo escuro cintilante.
Sayon estava prestes a pegar a flor com ar de deboche e Shion interferiu.
—Albafica, que tal você entregar essa flor nas minhas mãos? Afinal sou eu quem está no meio de vocês dois!
Rapidamente Albafica caiu em si e percebeu o que estava prestes a fazer. A flor infectaria Sayon e muito provavelmente ela morreria. O brilho contilante nos olhos do jovem cavaleiro de Peixes sumiu e a flor desapareceu como névoa nas mãos dele.
—É melhor vocês irem! -disse Shion.
—Já vamos. Você vem, meu pequeno? Ou terei que te pegar no ombro? -disse Rocco tentando amenizar o clima tenso que se formara.
—Eu ainda sei andar! -retrucou Albafica.
Rocco e Albafica deram as costas para Sayon e Shion e saíram em silêncio. Albafica ía muito na frente, ele não queria que Rocco o visse chorando. Rocco, por sua vez, percebendo a distância que se formara entre os dois, correu até o pequeno Albafica agarrando ele pelo braço.
—Olha aqui garoto, eu sei que você gosta daquele idiota do Shíon, mas não dá pra ver você sofrendo por isso!
—Me solta! Eu não preciso das suas palavras de consolo. -gritou Albafica. —Pode ir embora, eu sei o caminho de volt...
Rocco não esperou que Albafica terminasse a frase e roubou-lhe um beijo demorado. As lágrimas salgadas de Albafica eram misturadas em meio o beijo e o garoto se explodia por dentro de tão confusos que eram seus sentimentos.
—Eu vim até aqui com você e voltarei junto com você, meu pequeno!

Cavaleiros do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora