Morte

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—Athena, até quando conseguiremos manter a ordem no santuário?
—Asmita, eu sou uma deusa e qualquer mortal que tentar me contrariar deve ser banido do meu templo!
—Alguns dos nosso melhores cavaleiros de prata não aceitam que o Albafica seja um escolhido dos astros e tenha pensamentos e atitudes homoafetivas. Eu posso ver que o ódio deles custará a vida dos jovens gays no templo, e principalmente a vida de um dos jovens escolhidos.
—Você é o cavaleiro onisciente! Me diga qual dos meninos é o alvo desse grupo.
—Minha deusa, com todo respeito, mas eu não sou tão onisciente assim. Por algum motivo os astros não me mostram além da morte de um dos meninos prometidos.
—Asmita, eu quero que você providencie guarnição para o Albafica durante 24 horas até que ele tenha sua armadura de ouro!
—E quanto ao Rocco e o Shíon, senhora?
—Eles correm tanto perigo. Além de não demonstrarem ser homossexuais, eles podem se defender!
Rocco e Shíon eram bem masculinos e o fato de serem excelentes guerreiros deixava Athena despreocupada.
A preocupação maior era com Albafica que não possuía armadura e não era bom em batalha.

                               ~~~

Os dias se passaram e nada de anormal aconteceu, Rocco e Shíon treinavam normalmente com Aldebaran de Touro nas últimas duas semanas enquanto Albafica estudava com Asmita. A deusa Athena se mantinha atônita, e por ser uma deusa encarnada, pouca coisa era de seu conhecimento.
Sem estar à parte da situação, os três meninos seguiam suas vidas. Shíon e Albafica mal conversavam, enquanto que o namoro de Rocco com Albafica continuava aparentemente bem.
Rocco sabia que Albafica gostava de ficar no campo depois das aulas com Asmita e resolveu fugir do treino naquele dia.
—Oi meu bebê! Como você está?
—Estou preocupado por você saindo dos treinos todos os dias. Acha mesmo que o sr. Aldebaran não percebe?
—Ah, amor... -Rocco tentava formular uma frase. —Eu sei que ele sabe, mas fazer o que se meu amor por você é maior?
—Você renunciou a qualquer amor quando decidiu entrar pra armada de Athena!
—Não seja frio comigo. Eu só gosto de você e queria te agradar. Achei que minha visita seria motivo de... sei lá... felicidade?
—Eu sei, Rocco, mas nós somos cavaleiros e temos que amar Athena antes de mais nada.
—Ta bom, Albafica. Tchau... vou voltar pro treino!
Albafica se sentiu mal por ter sido tão rude com Rocco, mas só olhou pra trás e viu o garoto se afastando.
Meia hora depois o arrependimento ter tratado Rocco com rispidez assolou Albafica que parou a meditação e foi procurar o rapaz.
No meio do caminho Albafica ouviu alguns barulhos em meio aos arbustos e se manteve alerta e em silêncio. Alguém o observava.
A luta não era a especialidade de Albafica, mas seus truques com a fragrância diabólica poderia dar-lhe tempo de fugir, só que não foi necessário usar nenhum desses truques. O barulho no arbusto se agitou e Albafica baixou a guarda. Quem o observava saiu em retirada sem se mostrar.
"—Erre, seu idiota, ele nos ouviu e se bobear até nos viu!
—Cala sua boca, piranha... agora corre!
—Erre, esse Albafica vai contar pro Shíon... quero que você mate aquela bicha!
—Eu nunca gostei dele mesmo. Vai ser um prazer estrangular aquele boiola...
—Quero que seja rápido... sem desumanidade!
—Olha, a putinha está com dó do veadinho!
—Para de graça, Erre! Eu só acho que não conseguirei nada com ele vivo. Preciso continuar com o plano."
O medo tomou conta de Albafica que correu até Asmita para contar o ocorrido.

A respiração de Albafica era intensa e sua fala saía entrecortada.
—Sr. Asmita, me desculpe entrar assim tão eufórico, mas é que eu estava vindo para o templo e percebi que estava sendo vigiado. Eu fiquei assustado, mas a pessoa correu sem se revelar.
—Meu jovem, tenha cuidado. Agora, me dê licença, por favor. -disse Asmita que não saiu de sua posição de meditação.
Assim que o escolhido de Peixes saiu, Asmita foi de encontro à Athena. Por outro lado, Albafica se sentiu ignorado.
Ao chegar até a deusa, Asmita contou o relato que ouvira a pouco.
—Minha Deusa, Albafica que é o alvo de quem quer que seja.
—Onde estavam os cavaleiros que deveriam protege-lo?
—Estavam de vigília, a uma distância em que Albafica não os percebessem! Eu já me conectei com eles, mas eles não viram nada.
—Precisamos ser mais cuidadosos. Albafica precisa saber desse risco e precisa de escolta em volta dele!
—Os astros não me dizem nada. Seria mais fácil cortar o mal pela raiz.
—Asmita, reuna todos os cavaleiros e os moradores do vilarejo na arena. Eu preciso alertar a todos sobre as consequências de trair a deusa do santuário!
—Sim, minha deusa. Farei isso imediatamente.
Asmita não perdeu tempo e saiu em reunião com os cavaleiros dourados do templo.
—Por que a Athena só manda esse almofadinha pra falar com a gente? -cochichou Manigold de Câncer com El Cid de Capricórnio que não deu ideia.
Asmita logo começou o seu discurso.
—Todos nós sabemos que uma guerra santa está por vir e precisamos das 12 casas completas para proteger a deusa Athena. Sabemos que ela é vulnerável enquanto estiver em um corpo mortal.
Estou dizendo isso porque as casas de Peixes e Áries podem ser alvos dos que se opõe à deusa.
—Asmita, e por que estão achando que as casas de Peixes e Áries estão em perigo? -Interrompeu Manigold, impaciente que foi retrucado por Asmita.
—Se você me deixar terminar... Como eu dizia, os jovens não estão formados perante os astros e algumas pessoas podem ver isso como uma fragilidade. Albafica se sentiu ameaçado hoje no campo e achamos que o fato dele ser homossexual pode potencializar a agressividade dessas pessoas.
Todos sabiam que homossexualidade no templo não era bem vista pelos cavaleiros e pelos moradores da vila, e principalmente quando o escolhido se assumia gay. Em outra época, várias mensagens de ódio foram espalhadas por todo lado, e o medo dos cavaleiros de ouro era que isso voltasse a acontecer.
—Athena quer que todos que moram ao redor do templo e todos os cavaleiros e colaboradores do santuário se reunam na arena, e devemos fazer isso o mais rápido possível!
Todos se mobilizaram para cumprirem a ordem de Athena. Os funcionários e cavaleiros em treinamento do templo foram levados imediatamente para a arena. Os moradores chegavam aos poucos e enchiam a arquibancada. Ninguém entendia o que estava acontecendo.
Albafica estava na cozinha quando recebeu a ordem de ir para a arena. Shíon passava ali por perto e esbarrou em Albafica.
—Eii, toma cuidado! -disse Albafica sem ver em quem esbarrara.
—Desculpa, meu am... amigo...
—Shíon, me perdoa, eu estava vagando pelos meus pensamentos...
—Albafica, eu estou com saudades!

Aquelas palavras pegaram Albafica de surpresa que demonstrou no olhar que sentia o mesmo. Shíon percebendo isso se apressou para convidá-lo para um passeio.
—Vamos conversar lá perto daquela cerejeira?
—Shíon, Athena ordenou que ficássemos para o aviso que ela dará.
—Ninguém notará nossa ausência. Eu só quero explicar o motivo de eu estar agindo como um idiota por esses anos. Você já tem quase 17 e não é nenhuma criança... você merece saber a verdade!
—Se eu for punido por isso, eu te mato!
Os garotos saíram de esgueirando pelo santuário e se dirigiram até a cerejeira.

Alguém vigiava Albafica e Shíon conversando.
Agora ele não me escapa!

Enquanto isso, Athena se dirigia para a arena. Chegando lá, sem cerimônias, a deusa começou seu discurso.
—Meus queridos, estamos nos aproximando de uma guerra santa e em tempos de batalha todos os irmãos devem permanecer unidos. Tenho percebido que isso não está acontecendo e a vida de alguns dos meus filhos está em perigo. Quero que saibam... -Athena fez uma pausa e exaltou a voz. —NÃO SERÁ TOLERADO NENHUM TIPO DE TRAIÇÃO DENTRO DA MINHA CIDADE!
Todos se chocaram com a forma que Athena de pronunciou e um burburinho começou entre os moradores do vilarejo. Athena continuou seu discurso sobre tolerância, orientação sexual, traição e punições.
—Meus filhos, cada um de vocês escolhem o que querem mostrar, mas não escolher ser o que são. Tenham amor ao próximo e quem agir em desacordo com meu decreto será banido da Grécia e será marcado no rosto com fogo divino!
Parecia cruel, mas Athena era uma deusa guerreira e protetora de seus heróis. Quem os ameaçasse seria castigado.
Naquele momento a conversa paralela na arquibancada era alta e na arena Athena buscava Albafica com os olhos.
Como não encontrou, Athena finalizou o discurso e convocou Asmita até seus aposentos.
—Asmita, eu procurei e não encontrei Albafica na arena. Se conecte à ele e veja se ele está bem!

                           ~~~
—Então, Shíon... chegamos nesse maldita cerejeira...
—Não fala assim desse árvore. É minha favorita em toda a Grécia!
—Claro, foi aqui que você comeu a puta da Sayon... -Albafica não se conteve e revirou os olhos.
—Era exatamente sobre ela que eu quero falar...
—Puta que pariu, Shíon! Eu não quero saber dessa garota!
—Calma garoto  e senta aí! Você precisa me ouvir e tem que ser agora.
Naquele dia o sol brilhava forte, era 15:35 hrs e Albafica sentou-se com as costas recebendo a luz solar.
—Eu adoro essa luz quentinha em mim! Mas desembucha logo. Quero ir embora.
—Amor...
—Não me chama de amor, Shíon!
—Eu vou chamar de amor sim! E deixa eu terminar uma frase antes de vc me interromper!
Shíon estava se irritando.
—Albafica, eu não amo a Sayon. Eu desconfio que ela está me traindo e sem contar que ela é estranha.
—Eu nunca gostei dela e você sabe!
—Eu não poderia amar ela, porque eu amo v...
—Cuidado Shíon!!!!
Alguém se espreitava atrás de uma árvore e atirou uma adaga. Num reflexo, Albafica entrou na frente da lâmina que atingiu seu peito e o garoto caiu sem reação imediatamente.
Shíon permaneceu em êxtase. Quem estava atrás da árvore fugiu, mais uma vez sem mostrar o rosto.
No templo, Asmita abriu os olhos de sua viagem astral.
—Minha deusa, aconteceu! Albafica está morto. 

 

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