O rio Aqueronte

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Tudo que se ouvia eram gritos. Aquele lugar era obscuro e a visão era turva. Eu não conseguia me mantar de pé e de repente...
Aaah -Shíon acordou respirando fundo procurando por ar.
Rocco não estava ao seu lado e o jovem prometido de Áries não sabia por onde procurar e quem procurar primeiro.
—Sabia que o Rocco era um inútil. Agora tenho que procurar aquele ladrãozinho de Albaficas!
—Oi, meu querido. Pra sua informação eu acordei aqui há um tempo e fui verificar se a área estava limpa, já que a Bela adormecida não despertava do sono de Hipnos. -Rocco nunca perdia a oportunidade de caçoar de Shíon.
—Não pronuncie o nome do Lorde do sono! Se esqueceu que estamos no reino dele e ele pode nos localizar facilmente? -Repreendeu Shíon.
—Que seja! Vamos logo procurar o Albafica para que eu possa beijar meu amor de novo.
Um olhar de ódio partia de Shíon em direção à Rocco, mas o lado explosivo do cavaleiro de Áries foi contido com a lembrança do corpo de Albafica em transe.
Os meninos seguiram em silêncio para o leste e caminharam por cerca do que pareceu 05 minutos e logo se depararam com um nevoeiro denso.
Os gemidos eram mais alto ali e algo os diziam que aquele era o caminho.
—Pronto, agora temos um nevoeiro e um rio aparentemente calmo para atravessar. Espero que você saiba nadar, Shíon. -Rocco queria mostrar suas habilidades e se exibir. Rapidamente ele tirou parte de sua armadura, mas foi interrompido por Shíon.
—Por mais que eu queria ver você se fodendo, eu ainda preciso de você. Talvez você deva saber que esse é o rio aqueronte...
—E daí?
—E daí que esse é o rio das almas perdidas. Entre nele e fique aqui sofrendo para sempre. —Shíon saiu por cima com seus conhecimentos e fez com que Rocco engolisse seco e tirasse a ideia de atravessar o rio a nado de sua cabeça.
—Eu sabia... só queria testar sua bondade... e mostrar esse lindo peitoral! -
Shíon não rendeu aquele assunto.
—Se me lembro bem das aulas no templo, devemos jogar três cascalhos na água o mais longe possível.
Rocco catou três pedrinhas da margem do rio e atirou longe e por alguns instantes tudo pareceu igual.
—Shi... Shíon... olha aquilo! -Disse Rocco apavorado.
Uma sombra negra vinha em direção aos meninos. Uma figura de capuz verde musgo, com aparência milenar, nariz pontudo e carregava em sua mão um remo de madeira em decomposição, navegava calmamente sobre as águas do rio aqueronte.
—Rocco, aconteça o que acontecer, não levante o rosto para ver quem é! Aquele é o Caronte e ele é quem atravessa as almas para o outro lado. Antes de entrar no barco jogue uma moeda de ouro nos pés dele!
O Caronte se aproximava lentamente e assim que a canoa atracou na margem um frio cortante se estabeleceu.
Shíon apressou-se em jogar a moeda aos pés do Aqueronte e reparou nos pés como de um cadáver, com unhas enormes e sujas. O cheiro era indescritível. Quando a morte está ao seu lado todos os sentimentos somem.
Rocco procurava desesperadamente por uma moeda de ouro e não encontrou.
—Rocco, anda depressa! Não temos a 'morte' toda para esperar. -Susurrou Shíon
O Caronte não mostrava nenhuma reação e vendo que Rocco não tinha a moeda, virou-se e ía saindo. Shíon rapidamente jogou uma moeda na margem e acenou para Rocco enquanto fazia gestos que o ofendiam.
—Ei, dona morte! -gritou Rocco que ao perceber o que tinha feito, abaixou a cabeça e terminou a frase mansamente —Eu encontrei uma moeda.
Mesmo de cabeça baixa, Rocco pode sentir um olhar congelante sobre seu corpo e calafrios percorreram seu corpo. O jovem percebeu que o barco voltava e assim que ele atracou na margem, Rocco jogou a moeda aos pés do Caronte e entrou com muito cuidado. Ao chegar no meio do rio os meninos se assustaram quando o barqueiro falou.
—A sua moeda lhe foi jogada pelo jovem presente em meu barco e não será aceita. Seu castigo será se afogar no rio das almas. -A voz lenta e rouca do Caronte soava como agulhas nos tímpanos. —E como castigo, você também deve pagar! Disse apontando para Shíon.
Os meninos rapidamente entraram em estado de choque e se encolheram na proa do barco. O Caronte se aproximava com seu remo e ria ironicamente.
De repente uma luz no meio da escuridão surgiu e os garotos sentiam que aquecia seus corpos. Asmita de Virgem transcendeu até o inferno, pois sabia do risco que os garotos enfrentavam.
—Condene os garotos ao rio das Almas que Athena condenará você à inexistência! -Gritou Asmita encarando o Caronte.
O barqueiro sabia que um deus em sua suprema divindade poderia destruí-lo, mas o Caronte não sabia que Athena estava em corpo mortal e assim ela não teria poder nenhum no inferno.
Com medo de ser desintegrado, o Caronte bufou e se afastou dos meninos. Por outro lado, Shíon e Albafica estavam pálidos e aliviados por Asmita ter aparecido e salvado suas almas.
—Devemos ficar atentos com esse daí! -Sussurrou Rocco aos pés do ouvido se Shíon.
—Eu só quero poder voltar para casa logo!
O Caronte não expressava irritação nenhuma, ele era um ser misterioso e isso preocupava os meninos que ainda não viam a outra margem do rio. A preocupação aumentava a cada segundo que se passava e com o sono pesando em seus olhos.
—Shíon, eu preciso dormir! -disse Rocco com os olhos vermelhos como brasa.
—Não podemos dormir agora. Não se esqueça que estamos no domínio do sr. do sono e ele vai perceber nossa estada aqui caso adormeçamos. -A sensatez de Shíon fez com que Rocco apertasse os olhos em tentativa de despertar.
A viagem durou mais alguns minutos que parecem horas para os cavaleiros de Athena. O nevoeiro começava a se dissipar e uma sombra da margem do rio era vista. A esperança aumentava no peito de Shíon e Rocco que ao lado do Caronte tiveram isso roubado.
O condutor de almas não estava satisfeito transportando dois corpos mortais em seu barco. A alma deles lhe renderia mais quinhentos anos de existência por cada um e ele faria qualquer coisa para consegui-las.
As remadas eram leves e silenciosas, além do grito das almas perdidas, nada mais se ouvia. O barco, que ía em linha reta, desviou sutilmente que os meninos nem perceberam.
A correnteza aumentou significativamente e foi Shíon que percebeu que a margem antes nítida, não era mais vista.
—Rocco, estamos em perigo! -sussurou Shíon para Rocco que se perdia olhando para as águas do Rio Aqueronte.
Ao levantar o olhar, os meninos perceberam que existiam um redemoinho logo a frente juntos com uma serrilha de pedras que pareciam dentes em volta do buraco. As pontas das pedras destruiriam o barco e com a correnteza, tudo seria tragado para dentro do redemoinho. O Caronte ria alto e diabolicamente.
Perder o barco não seria problema, pois o barqueiro ainda era uma criatura mística e ele reconstruiria tudo num passe de mágica. Quanto ao contato com as águas do Aqueronte, o Caronte não se preocupava, já que ele não possuía alma para ser roubada, além do rio trabalhar para ele.
—Shíon, não vamos sobreviver dessa vez. Me desculpe por qualquer coisa. -Rocco abraçou Shíon apertado enquanto chorava silenciosamente.
—Eu que te peço desculpas por tudo, Rocco! -exclamou Shíon retribuindo o abraço.

—Eu que te peço desculpas por tudo, Rocco! -exclamou Shíon retribuindo o abraço

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