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Quinze anos depois:

Por Alexandra Williams Baker:

      Sentia minhas mãos tremerem assim como meu corpo, irradiando uma sensação angustiante ao se debater sobre o colchão. Os cabelos novamente grudados em minha testa devido ao suor incessante, meus próprios gemidos de dor não eram capazes de me acordar.

Mais um... mais um pesadelo, todas as noites era a mesma coisa, a mesma sensação. Já não aguentava mais essa dor, as lembranças que eram tão vívidas em minha mente e que não me deixavam respirar. Ainda podia vê-los transando alucinadamente no sofá da sala enquanto as lágrimas desciam pelo meu rosto assustado, no dia em que procurei consolo pelo falecimento de minha mãe.

      Derek nunca havia me dado indícios de que era uma pessoa mau caráter, pelo contrário, nosso namoro era invejado por muitos. Carinho, amor, compreensão, cumplicidade, sempre me dediquei de corpo e alma a ele, mas não foi o bastante.

Quando minha mãe adoeceu e foi diagnosticada com um câncer em estágio avançado, ou seja, em fase terminal, ele esteve ao meu lado, me deu todo o apoio e o suporte que eu precisava naquele momento, ao menos era o que eu achava, ou queria acreditar, agarrei-me a ele como uma dependente, uma viciada. Contudo, durante a internação e noites dormidas no hospital, nosso namoro foi esfriando, meu amor e carinho continuavam o mesmo por ele e até mais eu diria, só que a frieza dele para comigo era notável a quilômetros, apenas eu demorei para me dar conta de que as coisas entre nós havia mudado.

      O dia em que minha mãe faleceu, Derek havia me visitado pela manhã, eu estava me preparando para ir ao hospital, passaria o dia com minha mãe. Ele pareceu não ligar, tendo em vista que teríamos uma festa para aquela noite e eu me recusei por não querer deixar minha mãe sozinha, ela estava vivendo os seus últimos dias em uma cama de hospital, dependendo das pessoas para fazer tudo, eu queria tornar aqueles momentos menos dolorosos para ela. Admito, não foi fácil, só que está pior agora sem ela. Naquela mesma noite, minha mãe teve uma parada cardiorrespiratória e infelizmente não resistiu. Seus dedos estiveram todo o momento entrelaçados aos meus, a cena era de arrepiar, senti meu coração parar de bater junto com o dela naquela hora, eu entrei em choque, os médicos e enfermeiras me arrastaram dali. Meus pés tomaram um rumo o qual meu coração mandava, os braços de Derek.

      Nunca fui uma pessoa de expor os sentimentos, mesmo que eles gritassem e me rasgassem por dentro, contudo, naquele momento eu precisava de alguém, precisava de um consolo. Saí correndo desnorteada pelas ruas, corri cerca de alguns quilômetros até a casa de Derek para seus braços, seu carinho, mesmo com toda a turbulência que estávamos passando achava que ele me confortaria, acreditava que podia contar com ele e que somente ele me faria bem naquele momento. Só que não foi assim.

      Abri a porta de seu apartamento em um rompante desesperador, com a vista embaçada pelo choro, eu relatava a ele tudo o que estava acontecendo, sequer havia notado que havia mais alguém ali, foi quando retirei as mãos do meu rosto notando o silêncio que se formou e eu me deparei com a segunda maior decepção da minha vida naquele dia. Lívia, uma garota bonita, loira e de porte atlético, estudou na mesma faculdade que nós dois, muitos diziam que ela era apaixonada por Derek, mas nunca liguei porque ele sempre mostrou a quem o coração dele pertencia, ou sempre enganou. Lívia estava sobre o colo de Derek, os dois estavam transando no sofá onde por muitas vezes meu corpo havia sido dele.

Que estúpida fui, enquanto eu achava que estava sendo negligente com meu namorado, ele estava mais do que consolado nos braços daquela vagabunda. Mas não a culpo, era ele quem me devia fidelidade. Saí correndo no mesmo momento, não fiquei para ouvir explicações baratas e sem sentido, eu tinha um funeral para organizar e um coração despedaçado para cuidar. Derek veio atrás de mim horas depois, havia ouvido tudo o que eu tinha dito quando entrei, talvez a transa fosse menos interessante do que o choro de uma louca, eu o ouvi calada, não expressei nenhum tipo de sentimento. Não queria a sua pena e sim o seu carinho, seu amor, algo que ele já não poderia mais me dar.

Feridas da AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora