Seis:

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Alexandra:

-Tem certeza que irá ficar bem? Olha qualquer coisa é só gritar, como viu meu quarto é ao lado e eu irei vir correndo.

-Tenho sim Aline, muito obrigada. Eu só preciso mesmo descansar e... obrigada mesmo. – disse a ela forçando o meu melhor sorriso, ela riu sem graça e me deu boa noite fechando a porta em seguida.

Dizem que pessoas que se denominam fortes são as mais fracas emocionalmente, mas não há uma fórmula mágica que nos faça chegar à força sem que antes tenhamos provado a fraqueza. E as minhas forças estão se esgotando.

Sinto como se meu peito fosse explodir, tanta coisa acontecendo rapidamente. Às vezes me pergunto se fiz mal a alguém para a vida me retribuir com tanta maldade.

Deixei meu corpo dolorido cair sobre o colchão. Em que momento da minha vida eu planejei estar na casa de pessoas que mal conheço? Tentando me livrar de uma situação como essa? De fato, não tenho absoluta certeza de nada mais, de como viver, de como proceder e de como irei acordar amanhã.

Vim em busca de consolo, de que eu pudesse ter uma família, mas tudo o que encontrei foram pessoas as quais o mundo não necessitaria. Precisaria de tudo agora, menos de ouvir pessoas que nem me conhecem me acusando de ser uma vadia e ter dado em cima do marido da irmã, porque é o que todos irão pensar. O ser humano é hipócrita e o homem sempre tem razão, a mulher sempre a culpada. É estranho pensar dessa forma, mas não quero mais problemas, eu consegui que ele fosse embora, mesmo me dando o maior susto e ter passado minutos de terror eu pude notar seus olhos diferentes depois. Hector é uma pessoa perturbada, infeliz... não estou o defendendo, só quero que essas pessoas fiquem longe de mim. Imaginar o desgosto de meu pai me faz sentir nojo de mim mesma.

Não deixei de reparar, no entanto, o quanto a família Green é boa e agora serei grata a eles por tudo o que estão fazendo por mim. E ele... Adam, o quanto estava errada ao seu respeito, quanta mágoa existe naquele coração, mas por trás de toda a sua prepotência existe um ser humano excelente. Ah, mãe que falta você me faz, como queria seu colo agora, ser sozinha não é legal e eu não tenho a quem soltar todo esse aperto que está me consumindo.

Tenho medo que o mundo possa me trair e fazer com que eu me torne fria, descrente nas pessoas. E não quero isso, eu quero acreditar que existem pessoas boas assim como os Green.

Não notei em que estágio dos meus pensamentos eu adormeci, me levando para o mundo o qual muitas vezes eu queria ficar, flutuando nas nuvens dos sonhos, porém por muitas vezes eu não queria sequer entrar quando o filme de horror dos momentos de minha vida passava em uma tela grande e eu tivesse que reviver tudo o que me fez mal.

Queria ter acordado pela manhã, como sempre foi em toda a minha vida. Tranquilamente, com um sorriso no rosto contemplando as manhãs de sol, mas infelizmente há algum tempo eu não sei o que é isso.

O filme de terror ganhou mais vida, mais cenas horripilantes onde Hector chegava de fato ao seu objetivo comigo. Senti o tecido da camiseta grudado em meu corpo, completamente molhado de suor, minhas mãos agarradas aos meus cabelos e os gritos que saiam de minha garganta me acordaram assim como quando senti mãos firmes me tocando.

-Me solta! Não, não, me larga! – gritei sem nem ao menos saber se estava de fato acordada ou ainda dormindo eu só não queria que me tocassem.

-Alexandra sou eu, Adam. Acorda! Olhe para mim. - ouvi a voz dele ao longe, forcei meus olhos a abrirem e contemplei duas orbes negras me encarando totalmente perplexo.

A dor em meu peito, todo aquele aperto estava lutando com minha coerência querendo liberdade, querendo se desprender e as minhas forças se esvaíram. Perdi o foco e me permiti ser fraca ou eu explodiria com tantos sentimentos desconexos dentro de mim e joguei para fora todo aquele inferno.

Feridas da AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora