Feridas da Alma

Doze:

Adam:

A pergunta de tia Glória para Alexandra sobre quanto tempo ela ficaria em Montpellier me pegou de surpresa, realmente chegaria o dia em que ela deveria partir e eu ainda não sabia o que faria, afinal, ela tinha uma vida em Nova York, como faríamos? Porque eu sabia que agora não abriria mão dela, de maneira nenhuma. No entanto, a resposta de Alexandra me tranquilizou um pouco, percebi que ela ficara mexida com a ideia de ter que voltar para o apartamento onde morou com a mãe, que ela se depararia com lembranças e que sofreria com isso, decidi que quando ela precisasse voltar para resolver suas pendências, eu iria com ela, não a deixaria enfrentar isso sozinha.

Quanto a ideia de ela ir trabalhar no hospital dos Collins, não era ruim, pelo contrário, era excelente para ela, eu só não queria que Hector se aproximasse dela novamente, se ele ousasse não responderia por mim.

Resolvi convidá-la para passar o fim de semana em Seattle eu tinha uma reunião de negócios hoje à noite e a levaria comigo se ela aceitasse, com alegria ouvi ela dizer que sim, percebi seus olhos cheios de lágrimas ao lembrar que tinha que se desfazer das coisas da mãe, era mesmo dolorido, lembro-me de que meu pai não tivera coragem de se desfazer das coisas de mamãe, havia sido tia Glória quem arrumara tudo.

Deixei-a em sua casa e ela estava curiosa para saber o que Frank queria falar comigo, brinquei dizendo que ele queria me passar um sermão e me ameaçar de dar um tiro na bunda, mas achava que realmente só poderia ser isso mesmo, Frank não era de muito papo, ia direto ao assunto e era isso que eu apreciava nele, também não gostava muito de enrolação.

Não revelei a Alexandra que a pessoa que eu ia fechar um negócio grandioso, era Roger Collins, ele e Patrícia haviam me procurado para comprar as ações de Hector dos hospitais da família Collins, Roger me confidenciara que Camilla queria tudo, mas que Hector deixaria o dinheiro para a filha e não queria que a esposa se desfizesse do patrimônio de April, conversaria com Alexandra sobre isso, eu tinha noção de que se Camilla descobrisse, ela viria para cima da gente com muita raiva, mas quem disse que ela me amedrontava? Confesso que me surpreendi com a oferta de Roger, até pelo fato de que há anos não nos falávamos, mas ele me explicou que era provisório, eles confiavam que quando Hector conseguisse a separação, eles comprariam novamente, concordei com o acordo, afinal, não era a minha praia, essas ações não me interessavam de nenhuma maneira, só faria pela minha velha amizade com Roger.

O que eu sentira na conversa entre Alexandra e a irmã era que Camilla a odiava, eu precisava ficar atento como meu pai aconselhara, não era de ter pressentimentos, mas sentia que ela aprontaria alguma coisa se soubesse que eu comprara as ações de seu marido, principalmente por ser eu a comprar.

Cheguei na delegacia e entrei, pedi para que Elza, a secretária chamasse Frank para mim, Elza sempre me passava alguma cantada, era uma solteirona muito charmosa que devia ter uns cinquenta anos mais ou menos, ela era divertida e eu sempre achei que Frank e ela tinham um caso, ou algo assim.

-Então bonitão, o que andou aprontando já que faz um bom tempo que não aparecia? Estava sentindo sua falta. Você está ainda mais gostoso garanhão Green, espero que tenha encontrado uma boa moça para te amarrar um cabresto e tomar conta disso tudo que você esconde dentro dessas calças.

Eu ri com as palavras dela.

-Sim Elzinha, eu realmente encontrei uma boa moça que me colocou um cabresto.

-Eu conheço essa sortuda?

-Não sei se vocês já se encontraram, mas seu chefe a conhece muito bem, deve ser até por isso que ele me chamou, afinal, trata-se da filha caçula dele.