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Quando uma página era virada, tudo a sua volta desaparecia, as pessoas que transitavam pelo campus da faculdade, os sons de conversa, os risos e a música alta. O mundo se transformava, não era o mesmo em que estava, era como se fizesse um mergulho na rede, mas de alguma forma, aquilo ali parecia mais real, mais palpável. As palavras saltavam para seus olhos que não conseguiam desgrudar da narrativa envolvente que o livro em suas mãos lhe proporciona. Cada folha virada era uma nova expectativa, cada parágrafo uma sensação diferente.

Uma mão clara se agitou sobre as páginas abertas desviando sua atenção para a pessoa que havia surgido.

— Não sei qual a graça que você vê em carregar essas coisas velhas por aí — disse um rapaz de cabelos escuros, ele colocou as duas mãos atrás da cabeça e sorriu de maneira amigável, olhos castanhos e astutos encaravam os dele.

— Eu adoro o toque nas páginas — Samael respondeu dando um sorriso tímido para o amigo. Livros digitais não lhe passavam a mesma sensação que um livro impresso em papel lhe proporcionava, não tinha nada contra os digitais, mas havia algo ali que o incomodava muito, não pareciam "reais", a sensação de ler era incômoda e vazia.

— Eu não consigo te entender, Sa-sa, todo mundo lê em seus dispositivos cibernéticos, ninguém mais perde tempo com livros do modelo da antiguidade — Noah balançou um retângulo prateado que podia se expandir e contrair conforme a vontade do usuário.

O Dis-Cy, um dispositivo que todas as pessoas possuíam e se conectavam a rede com ele no seu dia-a-dia, haviam aparelhos mais poderosos, com melhor processamento, mas para as ruas aquele era de uso comum, podia ser diretamente ligado a outros aparelhos e acessar suas funções de forma remota, ou simplesmente abrir uma sala de bate papo e interagir com outras usuarios. Era prático e seguro, todo o registro de uma pessoa era contido ali, assim como o dinheiro que ela possuía.

— Que livro é esse que está lendo? É uma daquelas velharias do mundo antigo?

— É Bukowski....

— Chatowski — disse uma garota se aproximando, tinha um olhar e um jeito mal humorado, era aquele tipo que se olhasse muito era capaz de levar um soco. Estreitou os olhou para um grupo de pessoas que passou perto deles.

Deixou no colo de Samael um pacote metálico com um logotipo colorido que dizia Burguer Masterity. Entregou outro para Noah.

— Francamente Samael, não sei o que você vê nessas porcarias de papel — disse a garota apontando o dedo com unhas pintadas de azul para o livro que ele segurava no colo. A garota abriu o pacote e deu uma mordida no hambúrguer de cor azul, sua expressão mal humorada suavizou um pouco, mas não o suficiente para achar que não estava irritada com alguma coisa.

— Eu acho o livro fascinante, Helena — no pacote dele também havia um de cor azul.

— O meu é vermelho! — disse o Noah esfregando uma mão em seus cabelos escuros e despenteados.

— Azar o seu, Noah — disse Helena, — foi sua a ideia de comprar lanches na máquina que vende de forma aleatória. Fique com seu divertido sabor picante — sorriu da cara frustrada do rapaz.

Os olhos castanhos de Noah se voltaram para o hambúrguer de Samael, o rapaz desconfiava o que o amigo queria, era sempre assim quando ele não conseguia algo que lhe agradava tentava trocar com Samael.

— Por favor Sa-sa troque comigo! Ou pelo menos deixe eu comer metade do seu. Sabe que vou passar mal se comer esse sabor picante.

Aceitou trocar de bom grado, gostava do sabor picante, e Noah era amigo de infância e não queria ver ele passar mal por causa de comida como da última vez que todos estavam com o sabor picante e ele teve que engolir o hambúrguer, não demorou muito para ele vomitar nos pés de Helena e levar um soco na cara. O momento havia sido gravado e espalhado pela rede da faculdade com uma velocidade maior ainda. Helena ainda olhava torto para todo mundo, estava instigada em descobrir quem foi que havia gravado.

Serpente do Vazio - Irregular (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora