Serpente do Vazio - Irregular (Completo)

O Chamado de Nihinihyan

Carter tem se perguntado frequentemente se a maior parte da humanidade se detém alguma vez para refletir sobre o vazio existencial. Muito além daquele comentados em fóruns de psicologia e filosofia. Cada ser detendo de sua própria visão de algo tão perturbador que entraria em choque com qualquer outro que viesse a expor exatamente o que o vazio lhe significava. Ou talvez isso seja apenas o seu cérebro tentando se manter ativo depois de horas sob efeitos de drogas alucinógenas em meio a mergulhos na rede por jogos e mundos desconhecidos que muitas pessoas ficariam horrorizadas em adentrar a tamanhas abominações encontradas.

O vazio existencial está sempre presente na vida das pessoas, seja em menor ou maior grau. Emergindo de situações peculiares e muitas vezes estressantes na vida do indivíduo como um luto pela perda de um ente querido, derrotas durante a vida e outros fatores ligados a distúrbios e patologias psíquicas. Ao refletir e questionar o sentido que sua vida tem o vazio tende a aumentar muitas vezes por não encontrar uma resposta. O indivíduo se sente sozinho, abandonado insignificante, vazio...

A morte repentina da filha de oito anos levou Carter a questionar o valor da existência e o seu significado. A situação se agravou quando sua esposa o abandonou em detrimento do declínio de seu casamento. Por que de todas as pessoas naquele shopping a sua filha tinha de ser morta na sua frente de forma sem sentido, viu os pedaços dela caindo quando correu na sua direção. Nada no mundo o confortava depois disso, nem mesmo às drogas pareciam dar o alívio que procurava, faltava algo, faltava um sentido, um significado para a vida existir. Seus projetos na empresa não iam para frente e foi demitido por faltar inúmeras vezes e por chegar drogado em algumas reuniões.

Mas foi em um dia desses que em meio aos mergulhos na rede que encontrou algo que lhe chamou a atenção, um fórum onde pessoas discutiam sobre o vazio e a melhor forma de acabar com a existência sem sentido que estava impregnada em suas vidas. Se a vida não tinha sentido, para que viver? Por motivos fúteis como seus colegas de trabalho que pareciam existir apenas para acumular coisas e ostentarem algo que outros colegas não possuem? Para se sentirem melhores que os outros a fim de tapar esse buraco que existia neles? A resposta veio em forma de um convite a um grupo particular em um chat-room de nome estranho, Nihinihyan. Não existiam líderes ali, boa parte de seus membros espalhavam convites em salas onde as pessoas comentavam sobre o vazio, como uma forma de levá-los até aquele chat-room. Os membros conversavam entre eles e muitos decidiam juntos a forma de partirem daquele mundo, era como uma seita de suicidas.

Carter andou por Bienenstock até chegar em uma área no subterrâneo onde um olho em forma de lente de câmera estava pintado na parede, ao olhar para aquela coisa teve a sensação de estar cego, como se às cores bolorentas não fizessem sentido ao seu cérebro que preferia não enxergar.

Não era o único naquele lugar, outras pessoas estavam ali, algumas em silêncio, outras conversando e dando olhares cobiçosos para o poço de piche avermelhado no meio daquele lugar, um poço que fedia a um odor que nunca havia sentido antes e provocava uma leve coceira em seu nariz.

Sentou ao lado de uma garota loira de olhos azuis que olhava concentrada para o olhos de lente de câmera, o olho de uma máquina, um olho vazio.

— Os humanos criaram as máquinas para lhes servir, então os humanos foram criados para servir alguém? — Disse ela olhando para ele. A garota simplesmente soltou aquilo sem parecer lhe atribuir um significado inicialmente.

— Se os humanos foram criados para servir alguém, com que propósito esse alguém existiria? Ou ele teria sido criado por um outro alguém, assim sendo, entrando em uma cadeia infinita de criação — disse Carter

— Deuses não passam de humanos, humanos não passam de máquinas.

Carter encarou aqueles olhos azuis que adquiriram uma tonalidade mais amarelada por causa das luzes naquele ambiente.