Dissonância

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A poeira havia baixado há algum tempo e escombros eram visíveis por todos os lados. Bombeiros resgatavam os poucos sobreviventes que eram levados de ambulância. A polícia cercava o perímetro. A área era muito grande para cobrirem tudo em pouco tempo e havia também a suspeita que o agente de elite Simon Fritz tinham em relação a aquilo.

Silicantes. A culpa era deles.

— Senhor — disse Fred se dirigindo ao agente de elite que observava os escombros, trabalhava com ele há um ano e aprendeu muito durante esse período, se tinha alguém que fazia os silicantes sentirem todo o sofrimento que eles infligiram esse alguém era Simon. — Acha mesmo que isso tem a ver com silicantes?

— Sim. Minha nuca está coçando e você sabe o que isso significa.

Na nuca de Simon, uma cicatriz horrível era visível, haviam outras no rosto também, uma lembrança do dia que sua mulher foi violentada por um daqueles monstros de silício.

— Já verifiquei esse lado — disse Joana saltitando por entre os escombros. Seu cabelo violeta era muito chamativo, assim como seu batom e sombra nos olhos de mesma cor. — Aparentemente não tem nada.

— Continuem verificando.

— Certo! — Responderam os dois seguindo por outro lado.

Os dois se afastaram. Joana estava a seis meses com eles e se mostrava muito promissora. Fred tinha certeza que logo ela o ultrapassaria, a garota era muito esperta e tinha ótimos sentidos ou talvez ele estivesse ficando velho demais. Cinco anos na AES lhe deram experiência o suficiente para saber quais agentes tinham um parafuso a menos e se destacavam naquela função e essa garota era um deles.

— Ei, Fred — Ela andava na frente com as mãos atrás da cabeça, — se acharmos um silicante eu posso acabar com ele?

— Fique perto de mim se acharmos um, nunca é bom subestimar esses desgraçados.

A garota era órfã e aos dezesseis entrou na academia da AES, estudou e treinou até os dezoito, um longo período que muitos que entram agora levam um ou seis meses de curso. Mas como ela era muito nova teve que esperar o tempo certo chegar. Quanto a Fred, ele morava com sua mãe quando ela foi atacada há seis anos, atualmente ele estava com trinta e dois, não via a hora de se aposentar daquilo. Tirou um cigarro cibernético do bolso e tragou. As missões ao lado do agente de elite Simon eram sempre complicadas, mas eram bem remuneradas e isso era o que importava, precisava pagar a conta do hospital que sua mãe estava internada e não mediria esforços para manter aquela velha viva.

— Ei, Fred! — disse Joana mais a frente acenando para ele.

— O que foi?

— Aqui tem uma área que desabou mais ainda, parece que o subterrâneo ficou todo exposto nesta parte.

— Certo, vamos dar uma olha... ei espera não vai saltando na frente!

Maldita pirralha.

Esmagou o cigarro no chão e a seguiu, não dava para deixar aquela inconsequente sozinha.

*

Os olhos de Samael se abriram lentamente. Sentia como se seu corpo fosse feito de vidro e todo ele estava estilhaçado. Juntou forças para sentar e olhar ao seu redor. Apenas escombros, poeira e alguns cadáveres. Procurou afoito por Gabi e a viu caída não muito longe dele. Ela respirava, estava viva e desacordada. Permanecia frágil. Se arrastou até ela e tocou em seu rosto. Mordeu o lábio inferior. Ela é tão forte, a admirava muito.

Olhou para os cadáveres e foi até o mais próximo. Retirou um osso. Precisava de soma para Gabi, ele podia comer algo depois a prioridade era ela.

Serpente do Vazio - Irregular (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora