Planta Fúnebre

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 Monad focava através da janela de vidro o rosto sem cor e vida de Noah Reynard. O corpo do agente permanecia sobre uma mesa onde até alguns momentos braços mecânicos haviam trabalhado na reconstrução dos locais esmagados, depois de toda uma análise de como ele havia morrido, agora estava sendo preparado para sua cerimônia de despedida desse mundo. Ela estava furiosa, triste, angustiada, desesperada e olhando para o Dis-Cy ocasionalmente. Rangia os dentes a cada cinco minutos.

— Vai gastar todos os seus dentes de tanto esfregar uns nos outros — disse Mabele Augustine passando por ela e deixando um copo de café ao seu lado.

— Eu vou matar aquela desgraçada — olhou intensamente para Mabele que a fitava com a mesma expressão de sempre, o rosto de alguém que parecia saber as suas piores vergonhas, talvez ela realmente soubesse.

— Tudo isso é muito estranho — ela soltou o longo cabelo escuro, — o agente Noah Reynard foi morto por um bortz do tipo couraça o que não combina com o bortz da chapeuzinho.

— Mas então por que ela estava com ele? — Ficou em pé e quase derrubou o copo de café.

— Não desperdice meu café, o fiz só para você — Mabele olhou sério para ela.

Monad mordeu o lábio e pegou o copo, tomou um gole e colocou novamente sobre o banco.

— Mona, Mona — disse Mabele sentando e convidando ela a fazer o mesmo. — O que você entende dos silicantes?

Franziu o cenho, não entendia aquela pergunta. Mabele Augustine, o braço direito do comandante da filial da AES da área 23, era chamada pelas costas de raposa excêntrica, sempre tinha os comentários mais estranhos nos momentos mais inoportunos. Muita gente se mantinha longe dela por conta dos boatos ao seu redor. A única pessoa que sobreviveu do seu antigo esquadrão, todos eliminados durante uma batalha contra um silicante rank s. Os boatos eram a respeito dos colegas terem sido mortos por uma DDS.

— Não entendo sua pergunta — disse Monad sentando no banco.

— Pois bem — cruzou as pernas, — silicantes são monstros que apenas existem para trazer o terror para nós humanos, correto?

— Sim.

— Errado.

— O que?

— Olhe isso — Mabele tirou do bolso do casaco seu Dis-Cy alaranjado, projetou dele uma tela holográfica e sorriu. — Consegue me dizer o porquê aquela silicante estava com lágrimas no rosto?

Aquilo só poderia ser brincadeira, onde ela achou aquela gravação e por quê não fazia sentido aquela cena?

— Você estava lá e nem notou isso no rosto dela.

— Eu... — as palavras se perderam.

Mabele respirou fundo e guardou o Dis-Cy.

— De qualquer forma, temos uma certa concepção errônea sobre eles.

— O que você quer me mostrando isso, me atormentar?

— É claro que não, eu já lhe disse antes, você é competente e quero que não se perca em fúria e frustração seguindo cegamente uma ideia pré concebida sem analisar a situação como um todo.

Nada respondeu apenas fitou o chão impecavelmente limpo, conseguia ver o próprio reflexo nele e se achava patética.

— É verdade o que dizem sobre você? — Olhou nos olhos alaranjados de Mabele. — Que matou todos do seu esquadrão apenas para subir de cargo?

Ela ficou em pé e voltou para sua expressão habitual.

— Às vezes apenas uma DDS é capaz de resolver certos problemas — seguiu pelo corredor, — não esqueça de avisar uma pessoa que mais precisa saber que ele morreu — disse sem se virar enquanto seguia caminho.

Serpente do Vazio - Irregular (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora