Serpente do Vazio - Irregular (Completo)

Sintoma de Sinestesia

Fractais se expandiam, mudavam de cor e forma e então um grande BEM-VINDO surgiu no meio deles. Um mosaico de janelas sobrepõe a vertiginosa sensação de queda infinita que mergulhar no ciberespaço causava. Seu corpo digital era seu avatar usado no B-RAM. Magnum — ele havia tentado colocar Magno, mas o mesmo já estava em uso, adorava esse nome, pois remeteria a Carlos Magno e Alexandre Magno, duas figuras de um passado longínquo que tiveram suas importâncias e deixaram seus nomes gravados na história.

O avatar de Samael era alto de cabelos loiros com mechas azuis e compridos, o que mais gostava dele era a altura de quase dois metros. Sua fisionomia era atlética e de boa aparência. Sentou em sua cadeira em sua sala privada onde inúmeras janelas o cercava.

Depois de uma nova experiência assustadora era hora de relaxar e esquecer as loucuras que havia vivido nos últimos dias. Não iria encontrar Alesia, pelo menos não tão facilmente, talvez fosse melhor desistir, mas tinha um pouco de esperança que ela pudesse entrar em contato com ele em algum momento. Deixou pra lá esse pensamento, agora só queria voltar a se sentir normal e esquecer essa coisa de silicante. Mergulhar no ciberespaço, jogar online e ver as novidades na rede.

— Nivi — chamou pela IA, mas não obteve resposta.

Achou estranho, normalmente ela se materializou ao seu lado usando um avatar específico no ciberespaço para auxiliá-lo.

Será que aconteceu algum erro de inicialização? Mas quando entrei no ciberespaço ela tinha me respondido e acionado os comandos.

— Nivi! — chamou novamente, o espaço a sua frente se tornou turvo por um momento e nada aconteceu. — Merda.

Respirou profundamente, teria que reiniciar a IA diretamente no holoscopicon. Havia uma chave de emergência para a remoção da Unidade de Armazenamento de Inteligência Artificial a UAIA, ou como todo mundo chama, o Cubo, pois era essa a forma que isso tinha. Sentia um desconforto se formando gradualmente, iria demorar muito tempo vasculhando o Cubo para a achar o problema e não estava com paciência para isso, só queria relaxar. Decidiu cuidar de Nivi mais tarde, era hora do lazer e não dos problemas. Esticou os braços e começou a mover as janelas dos canais de streaming. Com o outro braços movia as com notícias e fóruns que frequentava e o título de uma postagem lhe chamou a atenção — Explosão na BioLabs, terrorismo ou acidente?

Abriu o link movido pela curiosidade súbita, uma zaibatsu ser atacada era algo que rendia boas discussões e muitas delas eram às coisas mais absurdas que tinha, mas era divertido ver as ideias das pessoas e como elas podiam ser criativas em inventar coisas. A postagem falava do ocorrido e que vinte funcionários haviam morrido, as autoridades ainda não sabiam o que havia realmente acontecido e investigações ainda estavam sendo realizadas. A BioLabs a gigante farmacêutica não havia se pronunciado a respeito do ocorrido o que fomentava ainda mais as discussões. Uma delas apontava que o ocorrido foi causado pelo grupo terrorista Legba, outros apontam como culpado o motoqueiro negro — uma lenda urbana em Bienenstock. Ele era um personagem muito idolatrado na rede, e Samael gostava das histórias sobre ele, um tipo de vingador que realizava feitos para às pessoas que procuravam vingança contra alguma injustiça que foi cometida contra ela. Visto outras vezes como um tipo de "herói".

A popularidade do motoqueiro havia subido muito nos últimos seis meses, para a polícia era apenas um maluco terrorista, se é que ele realmente existisse, não havia nenhuma imagem confiável sobre ele, muito menos uma gravação. O que se achava em pesquisas na rede eram apenas montagens baseadas no relato de algumas testemunhas oculares. Usava um capacete em forma de caveira, roupas escuras, um manto esfarrapado e uma moto enorme que parecia rugir como um monstro das profundezas do inferno.

Verdade ou mentira se sua existência se era ou não uma invenção das pessoas da rede, Samael adoraria vê-lo um dia, apenas um vislumbre dele passando com sua moto negra. Fechou as janelas e se censurou, não precisava de mais nada doido em sua vida.