Naquela noite, Mingyu não tivera uma boa noite de sono. Em sua mente, rodava flashes de tudo que acontecera. Tudo aquilo que ele procurava superar e esquecer voltou com toda a força, e tudo por causa de um simples esbarrão. Se odiava tanto por ser fraco e deixar se levar fácil. Odiava mais ainda não ter marca.
Era esse segredo que ele guardava desde que era uma pequena criança que nem sequer sabia o que o universo preparava para ti. Suas iniciais eram tão claras, ele mal conseguia vê-las, por isso nunca deu muita bola. Mas a falta de marca mexia tanto consigo. Desde que foi informado pela sua mãe de sua condição rara, começou a desenhar um sinal em seu pulso com uma caneta preta todo dia ao acordar. Por isso ninguém desconfiava de seu problema.
Wonwoo acordou primeiro que o outro devido à pequenas faixas de luz que entravam por sua janela mal fechada. Ele levantou sonolento e seguiu até o banheiro, onde o usou e escovou os dentes. Sua cabeça doía levemente ao se lembrar do que Mingyu o dissera antes de cair no sono. Ex alguma coisa? Então Mingyu tinha alma gêmea? Se tivesse por que não estava com ele? Várias perguntas rondavam a cabeça do moreno.
Ele fez um café simples e seguiu até seu quarto para ver se o garoto havia acordado. Wonwoo parou no batente da porta e ouviu Mingyu grunhir na cama, se remexendo e abrindo os olhos aos poucos, as orbes castanhas inchadas e os cabelos bagunçados. Wonwoo tentou ignorar as cócegas que sentiu em sua barriga ao ouvir o bom dia rouco vindo do garoto recém acordado.
— Bom dia, Won. — ele o cumprimentou e se espreguiçou na cama, aproveitando os últimos instantes naquele colchão macio. O travesseiro tinha o cheiro doce do cabelo de Wonwoo e ele inspirou aquele aroma uma última vez antes de se levantar.
— Bom dia, Kim. O café está pronto, deixei uma escova nova pra você no banheiro também. — Wonwoo o informou sorrindo levemente pelo comportamento manhoso dele pela manhã, estava extremamente adorável. Ele apenas agradeceu e se arrastou até o banheiro sonolento.
Wonwoo voltou para a cozinha e sentou-se esperando o rapaz para comerem juntos. Após cinco minutos, com uma face mais acordada, ele chegou ao cômodo e se sentou a frente do mais velho. Comeram silenciosamente até que Mingyu decidiu se pronunciar sobre o tópico não tão esquecido da noite anterior. Ele não entendia, mas algo em seu interior gritava dizendo que ele podia contar a Wonwoo. Era como seu corpo gritando de desespero pra tirar aquela memória ruim de si.
— Acho que te devo explicações de ontem... — ele começou a falar, mas foi interrompido.
— Gyu, você não me deve explicação nenhuma. Apenas me conte se sentir confortável, ok? Não vou te obrigar a nada. — Wonwoo acariciou suas costas numa maneira de acalmar o garoto e passar segurança, visto que era um assunto delicado. Esse gesto vindo dele serviu apenas para encorajar ainda mais Mingyu a explicar tudo o que passou.
— Obrigado, isso significa bastante pra mim. Mas eu confio em você, confio muito, por isso sinto que devo contar. — ele murmurou com um olhar vago, era como se estivesse sem emoção e quebrava o coração de Wonwoo vê-lo daquele jeito. Então, ele o puxou delicadamente até o sofá para que ficassem mais confortáveis.
— Então, diga. Sou todo ouvidos. — Wonwoo disse com um sorriso pequeno nos lábios.
— Bom, o Hansol é meu ex alguma alguma coisa porque o universo resolveu rir da minha cara e brincar comigo. Eu não tenho marca, desde pequeno desenho uma falsa para que ninguém desconfie e também não consigo saber quais são as minhas iniciais, elas são fracas demais. — o garoto o mostrou o pulso, onde tinha um borrão pequeno de tinta devido à água que fora espirrada em cima e duas letras tão claras que mesmo com a luza do sol, não conseguia enxerga-las. — Quando o conheci, pensei que poderíamos ser bons amigos, ele era novato na escola e eu estava o ajudando junto com meu amigo. E eu estava certo, viramos ótimos amigos, fazíamos tudo juntos.
"Depois de umas semanas comecei a me sentir estranho perto dele, ainda mais depois que ele tinha tentado me beijar quando estava bêbado. Pouco tempo depois, descobri que ele não tinha iniciais em seu pulso, e isso só serviu para me dar um pinguinho de esperança que fosse, afinal ele poderia ser um caso raro como eu. Então, eu falei com ele e disse que sentia alguma coisa por mim, mas que não sabia explicar. Começamos a ficar e estava tudo bem, até o Seungkwan aparecer."
Ele deu uma pausa e sua voz estava trêmula, Wonwoo ouvia tudo atentamente captando todas as suas emoções. Mingyu respirou fundo e continuou
"Aparecer entre aspas, pois ele estava no hospital. Um belo dia, Hansol veio falar comigo que iria visitar o hospital com seu amigo de infância pois seu primo tinha acordado de um coma após ser atropelado por um ônibus. Foi aí que tudo desandou. Ao chegar no hospital, Hansol me disse que sentiu seu pulso arder como se tivesse pegando fogo, mas ignorou e pensou que era aflição por estar no hospital ou coisa assim, mas não era isso. Eram as marcas com as inicias de Seungkwan aparecendo em seu pulso ao acordar do coma. Ele sempre tivera uma alma gêmea, ela só estava hospitalizada. Você sabe que esses casos são possíveis, certo? Então, depois de o conhecer, não havia nada que eu pudesse fazer e Hansol apenas o seguiu, pois essa é a maneira como o universo funciona."
"Mas o que me machucou mais é que Hansol não pedira nem desculpas ou ao menos me perguntou como eu estava, só seguiu sua alma gêmea como se eu nunca tivesse existido. Ele tinha me dado esperança, sabe? De que eu não era uma aberração e que podia sim viver feliz com alguém."
— Infelizmente, as coisas não parecem dar certo para mim. Isso só serviu pra me mostrar ainda mais que isso é verdade. — ele riu sem humor, com os olhos marejados após contar tudo que passara. Era bom tirar esse peso de si, já que a única pessoa que sabia sobre isso era Minghao, afinal eles são melhores amigos de longa data e ajudou Mingyu a passar por isso. Wonwoo observou o garoto com o coração apertado no peito, doía ver o garoto que sempre estava sorrindo e fazendo os outros rirem de maneira tão vulnerável, como uma criança.
Wonwoo sentia algo ruim dentro de seu peito, como se uma força invisível esmagasse seu coração ao escutar as palavras do mais novo. Ele não merecia aquilo. Ninguém pede para nascer sem marca ou algo do tipo, eles passavam por tanta coisa ruim por causa dessa maldita exceção. E mesmo sem isso, eles não eram uma aberração. Ele possuía um bico triste nos lábios, desejando mais do que nunca poder tirar aquela angústia de dentro de Mingyu e o abraçar, dizendo que tudo ficaria bem, dizendo o quanto o garoto era especial e que acharia sua metade.
E assim o fez. Envolveu o garoto em seus braços, o apertando fortemente enquanto afagava seus cabelos, dizendo que no fim tudo ficaria bem, era só ter calma, o assegurou dizendo que não era uma aberração e o lembrou das suas inúmeras qualidades, afim de o animar. Mingyu o respondeu sem hesitar e afundou seu rosto no pescoço do outro, inspirando seu perfume levemente adocicado, aproveitando o toque leve e gentil do garoto em seus cabelos.
Sentiu seu peito formigar, mas ignorou essa sensação, pensando ser desconforto por lembrar de tudo que passara tão de repente. Apenas deixou sua mente viajar no abraço de Wonwoo.
— Quer saber, hoje vai ser um dos melhores dias da sua vida, Gyu. — Wonwoo se afastou um pouco do garoto para encarar seus olhos confusos, esperando uma explicação vinda dele. — Levanta, temos coisas a comprar.
Mingyu o olhou confuso, mas apenas concordou levemente com a cabeça. Ambos tomaram banho e saíram porta a fora. Ele estava esperando pra ver o que Wonwoo tinha em mente, pois tinha certeza que o faria bem.
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it was you.
Fanfictionem um mundo onde sua alma gêmea está predestinada, nascer sem saber é como estar cego, porém ela pode estar mais perto que você imagina. wonwoo e mingyu ainda vão demorar um pouco até perceber