Um: Carrie's in doubt

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Terça-feira, 23 de março de 1982


Depois do sol se por e daquelas conversas estranhas, Henry me acompanhou até minha casa.

— É ruim ter que te ver só as terças, Care – ele disse cabisbaixo

— Eu sei – suspirei – mas você sabe como meu pai é

— É, eu sei – bufou – uma dama como você da alta sociedade não pode ser vista comigo, só mais um miserável dessa desgraça de cidade

— Henry! – chamei sua atenção – você sabe que eu faço o máximo e isso foi a única coisa que eu consegui, quer dizer, meu pai acha que eu estou indo na aula de canto mas na verdade eu estou indo te ver – bufo – e sobre essa história de miserável, você sabe que eu não gosto quando fala isso, eu não concordo – seus olhos permaneciam fixos em mim – Henry, você pode até se achar um miserável agora, mas eu aposto que um dia você vai ser melhor do que todos esses porcos que comandam essa cidade – ele soltou uma gargalhada altíssima para o meu gosto – CALA ESSA BOCA, MEU PAI PODE TE OUVIR

— Desculpa, desculpa – disse ainda acabando de rir – você é engraçada, Carrie, minha mãe é faxineira e meu pai, bem, não se sabe a existência, mas quem sabe eu seja melhor um dia

— Você vai ser sim, escuta o que eu estou te falando – um sorriso surgiu em seu rosto – agora eu tenho que ir, Holmes, se não meu pai me mata e o jantar vai ser Carrie à milanesa – ele soltou uma gargalhada

— Até semana que vem, Carrie à milanesa

Nos despedimos e entrei em casa, caminhei até a sala de jantar me deparando com meus pais jantando na mesa. A expressão do meu pai não era das melhores e eu já podia concluir que alguma coisa errada aconteceu em seu trabalho.

— Querida! Como foi a aula de canto? – minha mãe disse assim que me viu, tentando quebrar aquele clima pesado

— Foi boa mãe, como todas as outras – a ideia de "fazer aula de canto" foi da minha mãe, ela, ao contrário do meu pai, nunca foi contra a minha amizade com Henry e inventou a aula para eu encontrar com ele sem que meu pai desconfiasse

— Ah! Pelo menos alguém aqui nessa casa teve um dia bom – meu pai finalmente deu o ar da graça, ou melhor, o ar do coice, como de costume

— Richard, por favor – minha mãe tentou repreender

— Por favor? Por favor você, Helena – disse em um tom de voz alterado – Carrie, você vai ficar em pé feito um pedestal ou vai se sentar na mesa? – ele me questionou e sentei imediatamente para evitar alguma coisa pior

Amelia, nossa caseira, instantes depois da reclamação do meu pai, entrou trazendo um prato para mim já feito, como sei que ela não é boba aposto que conseguiu escutar a conversa da cozinha, pelo tom de voz do meu pai seria impossível não escutar.

— Boa noite, Srta. Bryant – eu odiava aquelas formalidades, mas Amelia sabia como meu pai exigia as mesmas, se me chamasse pelo nome o jantar passaria de Carrie à milanesa para Amelia à milanesa.

— Boa noite, Amelia, obrigada – agradeci o prato

— Com licença senhores, se precisarem de mim estou na cozinha – ela se retirou

— Eu tenho pena dessas pessoas – meu pai soltou uma asneira

— Richard, não seja tão duro

— Virou defensora dos miseráveis agora, Helena? Não seja tão idiota – minha mão estava coçando para transferir um belo tapa no rosto do meu pai, mas eu não sou nem doida de fazer isso – hoje, acredita que aquela Carmen veio me pedir mais empréstimos?

— Carmen? Que Carmen? – minha mãe questionou

— Carmen Donovan, a mãe daquele pirralho que era amiguinho da Carrie – gelei ao escutar aquilo, como assim a Carmen pediu empréstimos para o meu pai? – vocês acreditam nisso? – ele prosseguiu – bem capaz que eu iria emprestar dinheiro para aquela faxineira

— Por que não? – foi minha vez de questionar

— Não se faça de tola, Carrie, aquela mulher não tem dinheiro para comprar arroz direito, você acha mesmo que ela me pagaria o empréstimo? Além disso, está atolada na dívida, milhares e milhares de dólares que está nos devendo e não paga – milhares e milhares de dólares? Do que ele está falando?

— Como assim devendo milhares de dólares? – questionei novamente

— Ela já pegou vários empréstimos e não pagou nenhum até hoje, os juros só acumulam, e ela só se atola na lama – eu não imaginava que a situação da mãe de Henry estava nesse nível – enfim, preciso ir para o escritório trabalhar mais, com licença – levantou se retirando da mesa.

— Mãe, vamos para o meu quarto? – ela apenas assentiu com a cabeça e subimos

Me deitei na cama e ela se sentou ao meu lado.

— Eu não sabia que a situação da mãe do Henry estava desse jeito – pronunciou

— Eu também não, mãe, por que será que ela pegou tantos empréstimos como o papai falou? Pra que, quero dizer

— Não sei, não sou eu que vou me meter na vida deles, se não seu pai me mata – soltou um riso e eu ri junto

— Acha que eu devia falar com o Henry? – perguntei

— Você que sabe, Care – ela acariciou meus cabelos – mas então, me conta como foi hoje

— Foi muito bom mãe, a gente conversou sobre o futuro sabe

— Futuro Care? Mas vocês são tão novinhos

— Espera eu acabar – sorri – então ele falou do nada que me amava, eu não entendi muito bem mas a sensação foi boa

— Vocês ainda vão se casar um dia, escreve isso – soltou uma gargalhada

— Casar? Claro que não mãe, ele é só meu melhor amigo – falei um pouco confusa

— Aham, sei – disse num tom irônico se levantando da cama – já está na hora de você dormir, boa noite meu amor, eu te amo – depositou um beijo em minha testa e caminhou até a porta

— Eu também te amo, mãe – falei antes dela sair e fechar a porta. Adormeci logo em seguida.

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When We Were YoungOnde histórias criam vida. Descubra agora