Cinco: Henry's Alone

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Terça-feira, 4 de janeiro de 1983


Pensei no meu dia enquanto encarava os meus pés em movimento no caminho de volta para casa, era ridiculamente incrível como passar algumas horas com a companhia de Carrie trazia uma calmaria, mas devo admitir que o episódio dessa tarde estava me apavorando e o medo começava a me corroer, afinal quem ficaria tranquilo depois de um sujeito apontar uma arma na sua cabeça e te ameaçar de morte? Não conseguia refletir em outra coisa a não ser Que merda está acontecendo na minha vida? Eu realmente não tinha resposta para essa pergunta, só queria chegar em casa e perguntar minha mãe o que estava acontecendo e escutar uma explicação plausível para as minha dúvidas, porque depois da nossa discussão mais cedo não tive paciência para pensar em nada.

Finalmente, falei para mim mesmo entrando dentro de casa, não vi nenhum sinal de que minha mãe tinha chegado, o que era estranho já que estava de noite. Fui na direção da cozinha mas parei na metade do caminho quando vi uma poça de sangue saindo do corredor, Que porra é essa?

A resposta veio de imediato quando acendi as luzes, o pânico me atingiu como um soco no momento em que vi minha mãe caída no chão desacordada e ensanguentada. Sua boca estava entreaberta, seus olhos arregalados e completamente parados, Não, pelo amor de Deus, não. Abaixei ao seu lado tremendo com medo de concluir o que já estava claro aos meus olhos, levei a mão até a lateral de seu pescoço procurando pulso em algum sinal de vida. Nada. Não respirava, não tinha pulso, seu coração já não batia mais, ela estava morta.

Simplesmente caí sentado desesperado passando as mãos pelos cabelos, minha cabeça girava e eu não sabia o que fazer. Como isso aconteceu? Quando aconteceu? Quem seria capaz de fazer uma coisa dessa? As perguntas rondavam na minha mente e apontavam para uma resposta provável: o homem que me ameaçou naquela tarde, isso tinha alguma coisa a ver com ele com certeza. Eu precisava de ajuda, precisava de alguém.

Me arrastei até o telefone na mesinha de centro na sala e num impulso liguei para Carrie, eu precisava dela.

— Alô? – ouvi sua voz sem saber o que responder

— Care... – um nó agoniante se formava em minha garganta, meu peito ardia e dos meus olhos caíam lágrimas que eu já não era mais capaz de segurar

— Henry? O que aconteceu? – ela me reconheceu de imediato e agradeci mentalmente pois não queria perder mais tempo

— Ela... – olhei de relance para o corpo a poucos metros de distância – Ela está morta...Eles a mataram – entrei em um choro compulsivo enquanto a ficha começava a cair.

— O que? – Carrie questionou confusa do outro lado – Henry como assim? Quem morreu?

Eu não conseguia abrir a boca para fazer outra coisa a não ser chorar

— Henry? Hen fala comigo – pediu com uma voz mais calma – aonde você está? Está em casa? Só me diz que está em casa.

— Estou – minha voz saiu num sussurro que quase nem eu consegui ouvir

— Olha, me escuta, não sai daí ta legal? Eu indo – ela desligou e eu fiquei escutando a linha até me levantar bruscamente e correr para fora de casa.

Eu não podia ficar ali, não conseguia ficar ali. Sentei na escada da varanda, apoiei os cotovelos nos joelhos e levei as mãos na cabeça puxando meus cabelos num ato de desespero, O que eu vou fazer agora? Diferente das outras, dessa pergunta eu não queria saber a resposta. Não sei quanto tempo fiquei estático olhando o chão, a noite estava fria mas isso era de longe o menor dos meus problemas.

— Henry? – escutei a voz de Carrie, senti ela se aproximar e me envolver num abraço caloroso, esperei a calmaria chegar, mas ela não veio – O que aconteceu? – eu era tomado pelos soluços e o choro desesperado novamente, sentia sua blusa ficar molhada por causa das lágrimas, ela desfez o abraço e segurou meu rosto me forçando olhar para ela – Meu amor, fala comigo por favor – suplicou – vem, entra comigo aqui fora está muito frio, vai acabar gripando desse jeito

— NÃO – gritei puxando ela que começava a se levantar – Carrie... - respirei fundo tentando conter o choro – Eu não consigo entrar, eu cheguei e... e vi ela caída lá cheia de sangue, tinha... tinha uma poça de sangue – mirei em seus olhos que me olhavam confusos – não dá, não vou conseguir, não com ela lá dentro – falei balançando a cabeça para os lados

— Tudo bem, olha, eu chamei uma ambulância, talvez esteja enganado, talvez eles possam trazer ela de volta – ela disse e eu dei por mim que estava tentando me confortar mas era impossível

— Não, eles não podem, ela... ela já está morta – abaixei a cabeça querendo que aquilo fosse só um sonho ruim

— Eu... sinto muito – quando eu ia parar de me ferrar? Carrie abriu a boca para falar mais alguma coisa mas foi interrompida quando ouvimos a sirene da ambulância, olhamos na direção da mesma e observamos um homem se aproximar

— Com licença – ele pronunciou – vocês chamaram a ambulância? – perguntou confuso provavelmente por não ver ninguém passando mal ou em risco de vida

— Sim – Carrie falou levantando rapidamente – Henry, preciso que me diga onde ela está – ela perguntou olhando para mim

— Só entre – respondi olhando para o chão

O homem entrou acompanhado de Carrie, não demorou muito até sair, chamar mais dois que vieram carregando uma prancha rígida e entrar na minha casa. Saí da frente da mesma quando me dei conta que iriam passar com minha mãe por ali, fiquei de costas para tudo, não queria ver ela novamente.

— Henry – escutei Carrie me chamar – eu já falei com o paramédico o que você falou que aconteceu, tudo bem? – não respondi – Vem comigo, você precisa descansar, vou fazer alguma coisa para você comer – ela falou enquanto me levava para dentro

Entrei em casa, Carrie foi para a cozinha e eu apenas desabei no sofá desejando que aquilo fosse um maldito pesadelo, que eu ia acordar no outro dia bem e que tudo voltasse ao normal. Minha mãe tinha morrido, provavelmente sido assassinada e o sentimento de impotência e de não poder fazer nada pra reverter a situação tomavam conta de mim junto com o vazio, a tristeza e o medo.

When We Were YoungOnde histórias criam vida. Descubra agora