Quinze: Carrie

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Sentada atrás do balcão do mercado aonde eu ficava o dia inteiro atoa, quero dizer, trabalhava, eu analisava o pequeno papel do saldo da conta do banco, o mesmo papel de 12 anos atrás, já havia perdido a conta de quantas vezes eu ficava horas encarando aqueles números, milhares? Milhões talvez. Acho que enlouqueci no momento em que comecei a criar teorias que aqueles números eram pistas que faziam parte de um grande segredo sujo e secreto. Preciso de um psiquiatra provavelmente.

Evitava ao máximo pensar em Brianna, eu sabia que aconteceria a qualquer momento e aconteceu, ela já não era mais a mesma e eu tentava me consolar dizendo para mim mesma que ela estava num lugar melhor agora e não precisaria sofrer mais. Mas isso não queria dizer que eu já havia superado o baque.

O mercado quase nunca tinha movimento, apenas alguns clientes fixos que apareciam aleatoriamente na semana, então eu tinha tempo de sobra para alimentar minhas loucuras mentais. Sinceramente, eu não sabia se entrava nos meus devaneios com esses números ou se pensava no quase desastre que aconteceu há três dias na casa de Amelia, quando Adam apareceu me chamando de mãe na frente de Henry eu entrei em um colapso interno e acabei expulsando o coitado de um jeito que eu não queria. Afinal eu tinha plena certeza de que nunca mais veria Henry outra vez, que ele nunca saberia de Adam e vice-versa, agora eu me pego presa numa armadilha que o próprio destino armou especialmente para mim.

Deixei o papel de lado e ensaiei várias frases do tipo "Oi Henry quanto tempo, conheça seu filho, Adam", "Henry! Esse é seu filho, parabéns", "Henry, esperava nunca te ver na minha frente outra vez e por isso escondi um pequeno segredo". Em certo momento já estava fazendo gestos quando virei e tomei um susto. Henry estava em pé me encarando como se eu fosse uma retardada. De fato eu deveria estar parecendo uma mesmo. Agradeci por estar ensaiando as frases mentalmente e não em voz alta por que se não estaria ferrada.

— Por Deus, homem! - coloquei a mão no peito - não me assuste assim nunca mais!

— Mas eu não fiz nada - carregava um sorriso travesso nos lábios

— Só apareceu como uma assombração do nada me dando um susto! - suspirei aliviada depois do pequeno surto - Quer ajuda para achar alguma coisa?

— Na verdade não estou aqui para comprar nada

— Então por que está aqui?

— Já vi que não perdeu o senso de humor com o passar dos anos - senso de humor ou de grosseria?

— Desculpe, não quis parecer tão grossa - não queria mesmo - só estava descontando o susto que você me deu

— Não perdeu o senso mesmo - riu brevemente - vim te propor uma coisa interessante

— Diga, Sr. Donovan - falei girando feito uma criança na cadeira

— É interessante até! Alguns dias atrás eu estava no meu escritório em Londres vivendo minha vida normalmente até que recebi uma carta do Senhor Senador Thomas Murphy - congelei ao ouvir esse nome, por que caralhos Thomas enviaria uma carta para ele? - O Altíssimo Clero me convidou diretamente para um jantar e dois bailes em comemoração ao mandato de Dalton e a apresentação de Josh e adivinha? - levantou alguns papéis na mão e balançou - Direito a acompanhante

— Deixa eu ver se eu entendi, você quer me levar para a cova dos leões? - ele sorriu e balançou a cabeça positivamente - Não, obrigada

— Vamos lá, Carrie! Não... - ele não conseguiu completar a frase já que um homem entrou no mesmo momento chamando-o

— Ei Henry, você estava demorando então resolvi ver se está tudo bem - ele parou ao lado do outro e me olhou com uma expressão estranha - E está muito bem pelo visto, Senhorita! Muito prazer! Você é? - ele era alto, loiro e tinha um ar jovem, juntamente com lindos olhos verdes

When We Were YoungOnde histórias criam vida. Descubra agora