Daniel
Chego em casa e minha mãe já está com o almoço pronto, ela não toca no assunto sobre Alice, na verdade mal fala comigo .
Posso ver a decepção em seu rosto.
- está tudo bem com a senhora ? - pergunto encaminhando o rosto para olha-la ...
- não está nada bem aqui ! onde foi que eu errei ?? - pergunta frustrada... - aquela moça não tem nada a ver com os erros do pai ... E mesmo assim você não tem direito de vingar nada nem ninguém você não é tão justo assim para tal papel !!!
- já chega mãe !
- chega nada, você vai me ouvir... já sabe o quanto ela sofreu ?? A mãe a abandonou o pai também, a mulher que a criou com todo amor e carinho morreu a pouco tempo e Sophia, a única pessoa que ela tinha você tirou e ninguém além de você e alguns capangas ridículos sabem onde ela está, você a prende em um quarto, deixa-a com fome, sede, machucada. Ela dorme mal por estar presa com algemas.
- ela te contou tudo isso ??
- meu filho ! Que tipo de pessoa você se tornou ??
- mãe ...
- sem mãe garoto ! Calado e me escuta que eu não terminei. Ela me contou um pouco de sua vida... Eu entrei no quarto hoje e vi as algemas na poltrona, os pulsos dela enfaixados... ela tomou o café da manhã como se nunca tivesse comido antes... Isso tudo já não é humilhação de mais para uma única pessoa ?
Eu fico em silêncio e ela volta para a cozinha... Eu a vejo terminando o almoço e subo as escadas pensando no que ela me falou... Entro no quarto e encontro Alice andando de um lado para o outro com uma tesoura na mão e chego a conclusão de que ela faz um ótimo trabalho quando o assunto é surpreender, mesmo que o faça sem querer.
- bom dia ! - falo sério tentando um diálogo ...
- bom pra quem ? - pergunta fingindo estar confusa levando a tesoura na mão ao queixo como se estivesse pensando ...
- para nós ... - falo inseguro .
- então feliz dia do bom sei lá o que pra você ... - eu revirei os olhos com seu comentário e tirei a gravata me virando de costas pra ela que já tinha voltado a andar de um lado para o outro, sentei na cama tirando meus sapatos também .
- em que está pensando ? - pergunto paciente esperando mais uma adorável reposta irônica ou debochada ...
Mas me surpreendi com a sua seriedade .
- vou cortar meu cabelo ! - fala ainda em dúvida...
- uau ...- falo fingindo estar surpreendido !
- alguém já te disse que você é um ridículo ?? - perguntou irritada e eu estava gostando desse joguinho ...
- sempre me chamaram de sensacional, lindão , e muito atraente ... - falei debochando de sua pergunta enquanto desabotoava a camisa e pude vê-la revirar os olhos...
Ela entrou no banheiro e tive certeza que iria tentar cortar o cabelo e não conseguiria, estragaria os próprios belos fios castanhos ondulados, algo me dizia que ela nunca tinha feito isso antes, talvez esse fosse o motivo da sua inquietação...
Fui até o banheiro e a vi de frente ao espelho medindo onde faria o corte .
Me posicionei atrás dela e segurei todos os fios do seu cabelo com uma mão e com a outra tirei a tesoura do seu alcance.
- qual tamanho ? - pergunto com os olhos fixos no espelho encarando-a
- a cima dos ombros ... - ela fala como se não estivesse acreditando no que estava acontecendo. Realmente, nem eu estava ...
Eu dividi seu cabelo em duas partes, cortei a primeira e alinhei a segunda para que saíssem iguais, então fiz o corte.
Coloquei juntas ambas as partes e fiz alguns pequenos ajustes com a tesoura, nos fios que sobravam no tamanho...
Eu não sou expert , nunca tinha feito isso antes mas posso dizer que fiz melhor que ela faria .
- pronto ! - exclamei ao terminar a olhando ainda pelo espelho e ela fazia o mesmo ...
- obrigada - falou admirada , mas ainda assustada com a minha atitude ... Ficamos nos olhando pelo espelho durante um bom tempo até que ela se virou de frente para mim ...
- com liderança ! - falou baixo, quase num sussurro .
Eu, por um momento achei que não poderia me mover para deixá-la se afastar de mim, mas sai da sua frente no impulso de afastar a vontade de abraçar ela e me controlar para não deixar que podesse perceber oque eu queria, mas seu olhar me fazia acreditar que eu também estava em seus pensamentos assim como ela estava nos meus.
