mangirly ➳ nakamoto yuta

XXIII

        Deixar Chie daquela maneira foi pior do que eu imaginava. Naquele momento, nos encarando perto dos armários, eu torcia para que ela olhasse no fundo dos meus olhos e percebesse o tanto de baboseira eu estava falando, o quanto eu não queria a tratar daquele jeito.

       Mas ela não percebeu, e não tinha obrigação disso. Eu havia acabado de magoá-la.

        Sai dali sendo seguido por Yugyeom, que não disfarçava sua risada sarcástica ao notar o quão nervoso eu estava com tudo aquilo. Era o que ela queria, afinal. Assim que saímos do campo de visão de Chie, segurei com força os pulsos daquela cobra, a encostando contra a parede. Não podia machucá-la, e nem faria isso, mas estava farto de ver que Yugyeom via aquilo tudo como um simples passatempo.

        — Escuta, Yugyeom. Eu não vou continuar sendo seu cachorrinho por muito tempo, então deguste bastante, desse jeito mesmo. — Ela sorriu largo, fazendo pouco do que eu dizia. — Eu vou recuperar Chie, e você vai continuar a mesma sozinha de sempre.

       — Tudo bem, Yuta. — Ela brincou com meu cabelo, mas afastei rapidamente sua mão. — Mas até lá, você vai continuar fazendo o que eu quero, ou vou magoar sua namoradinha do pior jeito possível.

— Não percebe que os dois jeitos ela sai magoada? Você não se sente no mínimo um pouco mal? — Bufei, dando um passo para trás e olhando para os lados. Já tínhamos plateia.

— Então por que está fazendo isso? — Yugyeom aproximou novamente de mim, limpando meu ombro com a ponta dos dedos. — Ah, já sei. Você é egoísta demais para dizer a verdade e correr o risco dela nunca mais olhar em sua cara. Conheço muitas pessoas como você, Yuta, eu também sou assim.

Não consegui respondê-la depois disso. Ela estava certa. Eu tinha medo de contar a verdade e Chie me odiar tanto que nunca mais conseguisse confiar em alguém de novo.

— Parece que acertei. Bobinho, não se preocupe, eu vou te perdoar por hoje, parece que você só tem a mim mesmo.

Yugyeom saiu andando com suas amigas pelo corredor e respirei fundo, coçando os olhos com as costas das mãos. Quanto tempo eu aguentaria ficar naquela agonia?

Voltei correndo para a área dos armários, ainda dava tempo de concertar tudo antes de virar uma bola de neve. Eu inventaria qualquer coisa, uma mentira besta que fizesse com eu não perdesse Chie pelo menos naquele dia. Mas quando cheguei até lá, a garota estava encolhida nos braços de Winwin. Ele a confortava, até que notou minha presença e lançou um olhar que eu não recebia há tempos de repreensão. Hesitei em dar um passo à frente, mas ele apenas tampou mais ainda a visão de Chie com seus braços e a guiou junto à ele para fora da escola.

Eu havia feito Chie chorar?

~

Usei todas minhas desculpas para sair da escola mais cedo, mas ninguém da surpervisao acreditou. Quando o sinal tocou, sai em disparada em direção ao meu emprego, ansiando tanto em ver Chie que meu peito chegava a doer.

Deixei minha mochila no banco e cumprimentei rapidamente sr. Kim quando cheguei, subindo as escadas que levavam até a casa deles. Meu chefe deveria me achar um invasor de domicílio. Mas assim que tentei abrir a porta, a mesma se abriu pelo outro lado: Chie. Ela estava com o rosto avermelhado, me fazendo pensar na possibilidade de ter chorado a tarde toda. Essa possibilidade me assustou. Não soube o que dizer, mas ela parecia ter ensaiado suas palavras por bastante tempo.

— Desculpa por mais cedo. — Ela disse rapidamente e tentou esconder seu rosto abaixando a cabeça, mesmo que eu estivesse um degrau abaixo e pudesse ver com clareza sua expressão entristecida. O que ela estava dizendo? Droga. — Eu estava sensível, não pensei que você poderia estar num dia ruim... Fui infantil. Me desculpe.