mangirly ➳ nakamoto yuta

XXXIV

          Qual o critério que usamos para combinar com uma pessoa X? Após um ano sentando atrás de um grupo de amigas com uma vida amorosa agitada, percebi que a cada 3 meses uma delas começava a gostar de um garoto aleatório, porém o resultado sempre era similar: para as amigas, eles nasceram um para o outro, mas quando chegava ao fim daqueles turbilhões de sentimentos resultando em um final desgostoso, a opinião mudava para "ele não te merecia, você é melhor que isso, vocês não tinham nada haver mesmo". Talvez "combinar" não passa de uma maneira fantasiosa de apoiar os outros partindo de aspectos físicos, características ou interesses, mas mesmo ao pensar nessa solução eu não conseguia tirar da minha cabeça a ideia de estar estragando um casal formado por entidades da natureza — ou espíritas, ou seja lá qual for sua crença.

            Deixei a mochila ao lado de um tronco, focando toda minha atenção na macieira alguns metros dali e não descansando até conseguir pegar ao menos duas maçãs. Sempre pensei melhor de barriga cheia.

           Enfim, Yuta e Yonwha.

             Yuta, com seu jeito extrovertido e popular, combinaria perfeitamente com o modo dócil e querido de Yonwha, abrindo brecha para um perfeito clichê de filmes americanos. O fato da mesma gostar dele há tanto tempo fazia com que me sentisse a pior pessoa do mundo, sem esforço algum.

            "Ei, Chie, sei que não somos muito próximas, mas... Você poderia me ajudar com o Yuta? Ele parece te ouvir."

           Seria muito mais simples se aquela noite nunca tivesse acontecido ou se houvesse sido sincera quanto a resposta, mas tudo que consegui responder foi um vago "Claro", acompanhado de um riso soprado.

           — Besta. — Dois tapas sem força em minha bochecha foram necessários para que piscasse algumas vezes e voltasse a andar após o pequeno transe.

        Meu joelho ainda causava certo incômodo, mas naquele momento já havia várias pessoas andando aos arredores e qualquer maior complicação seria fácil chamar por ajuda. Encontrei meu time no caminho, anunciando quantas cartas havia pego e roubado, recebendo um olhar de aprovação de todos em retorno que esboçou um sorriso em meus lábios. Estavam decididos a dar uma última olhada já que faltava consideravelmente pouco para o sinal de retorno e fim do jogo.

        Foi no grito de dispersar de uma garota do meu time que dei de cara com Winwin, este acabava de vir da direção de algumas árvores e parecia extremamente cansado, sem mencionar quão sujo estava.

          — Perdi algo? — Disse, brincalhão. Ri de seu estado e aprontei-me para retirar um galho de seus cabelos. — Eu dei minha alma nisso.
            
          — Percebe-se, Sicheng. Nosso grupo foi procurar mais um pouco, deve faltar uns 10 minutos para encerrarem as buscas... — Disse em disparada, quase não notando que o chinês em minha frente prendia o riso. — Que foi, garoto?

         — Pelo visto eu não fui o único. — Ele riu enquanto apontava para meu joelho e provavelmente meus fios de cabelo bagunçados, deixando ainda mais claro minha falta de cuidado. — O que houve aqui?

         — Eu tropecei em uma raiz, mas está tudo bem... Digo, eu não preciso de uma transfusão de sangue nem nada.

          Sicheng levou uma mão até a boca, fingindo total surpresa. Seu olhar brincalhão era contagiante e eu consideraria impossível ficar ao lado dele sem esboçar um sorriso.

        — Meu querido tio faleceu disso, você precisa de muita ajuda, Kim Chie. — Ao terminar de dizer isso, o garoto se apressou até meu lado e num piscar de olhos estava em seu colo, abraçando seu pescoço por instinto assim que começou a correr comigo entre as árvores. — Eoeoeo! ABRAM ESPAÇO, É EMERGÊNCIA!