Chie realmente levou suas palavras a sério.
Desde então, a escola tem se tornado um lugar que não me agradava mais nem um sentido. Sentia-me mais sozinho do que nunca, já que ser rodeado por meus amigos sempre foi a minha rotina, e se não por eles, tinha Chie. Tudo no pretérito, não acontecia mais.
Uma semana após aquela maldita conversa na sala, ela veio para escola como antigamente, voltou a se vestir e agir como a verdadeira Chie. Quando digo, "verdadeira", é realmente a verdadeira. Cortou mais o cabelo, merendou no campo, conversou com a enfermeira, se meteu em encrenca com os garotos que mexiam com ela por causa do dia anterior. Observei tudo de longe. Por quê?Chie definitivamente não queria minha presença e respeitar essa sua decisão estava sendo mais difícil que aturar a vida de desempregado.
No fim, tudo tinha dado bem errado. Refletia isso tudo na aula do nosso professor mais camarada, o de geografia. Taeyong ainda sentava ao meu lado e por isso era obrigado a aturar seus pedidos excessivos de desculpas. Sempre pensei que acabaria cedendo uma hora ou outra, mas para minha surpresa, eu estava bem fixo com minha decisão, mesmo com o peito apertando-se cada vez mais, decidido em me sufocar.
Hospital era o único lugar onde encontra uma breve amostra de tranquilidade. Ver minha mãe sendo cuidada e querendo melhorar me fazia bem, mas chegar em casa e perceber que as comidas na geladeira estavam prestes a acabar, sendo que o último salário que tinha recebido era para pagar as consultas, me deixava aflito. Precisaria correr atrás de emprego novamente.
Fitava o quadro negro, mas fui despertado de meus pensamentos por uma batida da régua na mesa.
— Então, como vocês sabem, todo ano temos nossa viagem de acampamento. Esse não será diferente, por favor não se esqueçam de entregar os nomes para a supervisora para que não haja futuras confusões. — O professor chamou nossa atenção.
Levantei a cabeça, aquilo me interessava. Percebi que o restante da turma também animou num piscar de olhos, todos frenéticos para o que a viagem tinha a nos oferecer.
O corredor no final da aula parecia um formigueiro, já que todos ali queriam entregar seus nomes o mais rápido possível. Uma breve explicação para tudo isso é que os últimos a entregarem não ficariam com os melhores lugares, provavelmente dormiriam em barracas ou pior, ao ar livre.
— Yuta! — Mark, que vinha com Haechan e os outros moleques se aproximou. — Ufa, fiquei preocupado em você não ir esse ano.
Quão estranho seria se dissesse que iria para evitar de gastar dinheiro em casa?
— Não queria, mas minha mãe ama as plantas de lá. Ela vai ficar feliz com a surpresa. — Disse, sem pensar muito para inventar aquela "desculpa", que tinha um pouco de verdade. Minha mãe sempre foi apaixonada por aqueles chás e flores. Quando percebi que todos olhavam com aquele semblante de "Fofo", fechei a cara, focando na fila. — Idiotas.
— Não dissemos nada. — Haechan riu, em seguida entrando no meio da multidão para anotar sua presença.Muitas pessoas entraram na minha frente, já que não estava ligando muito para aquilo. Apenas coloquei os fones de ouvido e encostei-me na parede, o que foi uma péssima ideia, pois quando percebi uma quantidade assustadora já havia cortado fila.
Demorou muito, mas finalmente o número de pessoas foi diminuindo e logo estava fazendo minha assinatura fajuta. Tinha mais quatro alunos ao meu lado, também preenchendo aquele papel sem nexo algum. A pessoa ao meu lado me cutucou, pedindo a caneta quando eu terminasse. Assim que virei-me e a pessoa levantou a cabeça, percebi que a áurea do lugar ficou mais pesada. Entreguei a caneta, hesitante.— Obrigada. — Chie agradeceu, mesmo que baixo.
Entreguei a minha ficha para a supervisora, que anotava ali o sexo e sala do aluno, sem mencionar as perguntas insanas sobre medicamento, alergia, tipo de água que gosta e se oxigênio lhe fazia mal. Era esse o nível do questionário, sim. Tinha que ser feito pessoalmente pois, no último ano, alguns tarados assinaram como garota, tentando ficar no dormitório das mesmas.Fiquei um tempo enrolando ali até que Chie entregasse a dela, queria uma chance para conversar. A senhora pegou o papel, encarou confusa e olhou Chie algumas vezes, dando de ombros antes de chamar o próximo.
Ela virou-se, piscando algumas vezes ao me ver. Ajeitou sua mochila, segurando a alça nos ombros.
— Você já foi liberado faz tempo. — Chie saiu em minha frente.
— A caneta era minha. — Menti, nem mesmo sabia de quem tinha pego ela.
Ela parou, seus pés estavam batendo freneticamente no chão. Pegou a caneta, não fazendo muita cerimônia para caminhar ao meu encontro e estender o tubo de plástico. Incrível como Chie conseguia encarar de um maneira que eu fosse forçado a virar a cabeça para outra direção.
— Obrigado.
Mas ao invés de segurar a caneta, segurei sua mão. Ela olhou aquele ato, voltando a me encarar novamente.
— Yuta.
— Eu sei. — Soltei minha mão, deixando a caneta em suas mãos.
Dei um passo para trás, passando por Chie e caminhando com passos rápidos pães fora do colégio. Estava me tornando uma pessoa desistente e não me orgulhava.
~
Os dias passaram rápido demais.
Acordei cedo, mochila pronta para passar uma semana no meio do nada. Tomei um café nada reforçado, temendo por passar mal na viagem, mas me esforcei para correr até o hospital. Por ser muito cedo, decidi não acordar minha mãe. Apenas depositei um beijo em sua testa, acompanhado de um bilhetinho, uma flor que roubei da casa da vizinha e um envelope com o dinheiro que sobrara. Avisei que estaria bem com a escola e que traria também suas plantas estranhas.
Entrei no metrô correndo, pegaríamos ônibus em um lugar nada acessível para meus pés. Encostei-me na porta assim que fechou, ajeitando minha mochila e finalmente olhando ao redor. Havia vários rostos conhecidos, alguns até mesmo me cumprimentaram. Mas foi quando estava colocando o fone de ouvido que senti a mão delicada, apertando o meu punho para que não terminasse minha ação e prestasse atenção nela.
— Essa caneta é sua. — Ela abriu minha mão, colocando a mesma ali. Sua mão estava morna, diferente de todo o restante daquele metro, gélido. Mas, em contraste, suas atitudes eram tão frias quanto qualquer manhã de inverno. — Tchau.
Aquilo estranhamente fez meu coração palpitar.
Ela já andava em direção a sabe se lá onde, talvez procurando o lugar mais distante de mim possível, quando desencostei da barra para que pudesse andar até o meio do vagão e posicionei meus dedos entre meus lábios, deixando que um assovio alto passasse entre os mesmos.
Não só Chie, mas a maioria das pessoas ali se viraram em minha direção, assustados.
— Se cuida, Chie. — Acenei animadamente, abrindo um sorriso largo.
A sua reação chegou a ser cômica, já que a mesma franziu os olhos com desdém e virou o mais rápido que pode para frente, levando uma mão até a boca e se misturando entre as pessoas até que não pudesse ser mais vista.
Aquela viagem resolveria nada, quase ou tudo entre nós. Sem conseguir conter minha animação, virei-me para encostar novamente onde estava acomodado, sendo parado por alguém que nunca esperei ver num metrô devido suas altas condições de vida.
— Yo. — Winwin sacudiu a cabeça. — Como vai, Yuta?
xxxatualização relâmpago, hein?
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mangirly ➳ nakamoto yuta
Fiksi Penggemaryuta precisa fazer com que a filha de seu chefe volte a se vestir como garota caso queira seu emprego de volta. ➙ 211017