XXI

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          — Filha... Você está linda. — Minha mãe disse no quarto do hotel que meu pai havia trabalhado duro para alugar. Agradeci timidamente, não estava acostumada com elogios. — Saiba que seu pai está muito feliz.

         Me olhei no espelho, vestindo o vestido longo e vermelho. Não era para minha mãe, era para mim. Observar ele em meu corpo e sentir-me bem com isso me fez sorrir largo. Aposto que Yuta riria muito disso.

          O jantar não era lá muito atrativo, com músicas chatas e comidas que nunca havia visto. Mas papai parecia contente com meu comportamento e visual, então sempre que lembrava, abria um sorriso gentil. Por fim, a noite acabou em um piscar de olhos, e eu não tinha entendido nada sobre a tal reunião.

           Matei uma semana de aula, ficamos hospedados em um hotel onde minha mãe me mimou por dias. Nesse meio tempo, fui a um spa, salão, arrumei o corte do cabelo... Havia gostado do resultado. Foram dias incríveis e me perguntava como iríamos pagar tudo aquilo.

           Mas rotina voltou, e eu queria ver Yuta.

           Minha bochecha quase queimava ao ficar mais próxima do colégio.

           E naquele dia em especial, não me senti mal por me olharem estranho ao verem meu uniforme masculino, calça um pouco larga e meu cabelo preso no finalzinho da nuca. Sabia que alguém ali me achava bonita mesmo assim, e lá estava ele, sentado na mesa do pátio junto com seu grupo de amigos, decidi que não iria atrapalhar. Esperei a oportunidade de ouro, não hesitei, havia treinado a semana toda como dizer "senti saudades".

         — Yuta! — Andei até o armário, onde o mesmo guardava uns cadernos.

         Ele demorou um pouco para virar a cabeça em minha direção. Olhos cansados, nenhum ânimo ao se dirigir a palavra a mim. Será que havia notado meu cabelo? Ou o protetor labial que havia passado? Talvez minha roupa estivesse bagunçada demais... Mas nenhuma de minhas desculpas pareciam fazer sentido para aquela sua reação.

         — O que você quer?

          Ele estava... Diferente. O que havia acontecido com ele? Parecia o mesmo Yuta mesquinho de meses atrás.

          — Eu... Eu ia te dar oi. — Me auto xinguei por gaguejar.

           Não tinha mais certeza se estava animada como antes.

          — Oi. — Ele fez pouco caso, olhando novamente para o armário. Fechei com força o punho, notando a ignorância em sua voz. — Satisfeita?

         Por várias semanas, Yuta me fez esquecer o quão nada delicada em era. Talvez por estar totalmente entregue ao seus encantos, eu tenha repreendido-me o tempo todo na tentativa de dar melhor de mim. Mas aquela sua atitude estava me dando nos nervosos.

         Eu queria chorar de raiva.

         — Yuta! — Outras vozes femininas cantavam seu nome. Uma em específico, que não conhecia, se colocou à frente. — Vamos pra aula, ou vai mesmo ficar com essa aí?

          Todo mundo ali estava testando minha paciência.

          — Essa aí? Você quer levar um murro? — Praticamente rosnei, levantando uma das minhas mãos, que foi repreendida por Yuta. Havia esquecido de como era ficar nervosa.

mangirly ➳ nakamoto yutaOnde histórias criam vida. Descubra agora