XIV

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O céu cinzento próximo ao hospital dava a ele algo que todo mundo — ou ao menos a maioria — não espera ter: tristeza. Ali era um poço de pessoas esperançosas, outras nem tanto, e algumas que querem ter. Eu preferia acreditar que minha mãe tava no clube das esperançosas, mas muitas vezes aparentava apenas querer ter.

Apesar disso, muitas crianças corriam no terraço do prédio do hospital, onde vários lençóis estavam pendurados no varal e isso se tornava um obstáculos para a brincadeira deles. Desviei de um ao mesmo tempo que empurrava a cadeira de rodas onde minha mãe estava sentada.

— Podiam fazer isso mais alto.

— Você que cresceu demais, filho. — ela riu.

Paramos próximo a uma mesinha cheia de flores, perto de um banco na qual não hesitei em sentar. Malefícios de ser um sedentário.

Afrouxei a gravata do uniforme e chequei as horas. Era cedo ainda, porém logo logo a aula comecaria. Omma não precisava saber disso.

— Você está magro demais, Yuta! Certeza que está se alimentando bem? — ela segurou uma de minhas mãos.

— Hoje mesmo eu vou me estofar de comida, se não acredita. Meu metabolismo é rápido, a senhora sabe disso. — fiz carinho em sua mão, sorrindo de leve.

— E o mocinho vai se estofar aonde?

— Na casa do Sr. Kim... — naquele momento, me senti mal por minha mãe não poder ir e tudo mais, que arrependi de ter dito.— Eu... Ele é meu chefe.

— Você deve ser um funcionário incrível! — "só não fui demitido por causa da filha com estilo diferente dele", quase respondi. Mas seu sorriso estava tão radiante que preferi deixar acreditar nisso.

— Não há dúvidas que sou!

Fiquei ali por mis um tempo até ser descoberto por minha mãe que estava prestes a perder aula. Quase supliquei para que deixasse eu ficar ali com ela, estava com saudade, mas a mesma negou com os pés juntos e eu tive que ir.

~

Estava na frente do espelho, ajeitando e desajeitando tudo em mim, quando o telefone tocou. Era Chie, a primeira vez que ligava.

— A princesa está pronta? — ela disse do outro lado da linha.

— Que? — olhei para o relógio. — Chie, você está uma hora e meia adiantada.

Soltei o ar que havia prendido involuntariamente.

— Estou te zoando, nem comecei a me arrumar ainda. — olhei-me no espelho e quis rir por estar tão preocupado com aquilo, nem a própria filha dele estava. — Liguei pra dizer que meu pai vai te buscar. Até mais!

Não tive a oportunidade de despedir, já havia desligado.

O tempo passou voando e quando percebi Sr. Kim já estava buzinando na frente de casa. Tranquei aa portas, ajeitando minha camisa social branca e caminhando até o veículo. Destravou a porta para mim e em seguida entrei, colocando o cinto.

        — Uau, moleque, você está chique! — ele disse num tom engraçado, o que me fez rir.

mangirly ➳ nakamoto yutaOnde histórias criam vida. Descubra agora