VI

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       Você sabe que está completamente lascado quando entra na escola e nota uma movimentação esquisita. Aquilo era sinal de coisa ruim, coisa que tem nome e sobrenome: prova de matemática.

        Aproximei de meu armário, trocando os calçados, já preparado para zerar mais uma prova. Guardei algumas coisas inúteis que estavam no meu bolso, em seguida apoiei minha testa na portinha para que fechasse sem que eu usasse as mãos.

       — Você está com uma cara de quem não dormiu a noite e que ficou sabendo da prova agora há pouco. — Sicheng, ou Winwin, como os chamamos, passou por mim, rindo. Ri junto, ele estava certo. Fiz um sinal afirmativo e ele bateu nas minhas costas. — Te vejo na sala, japonês.

        Iria ficar mais alguns segundos apoiado ali, pensando em como queria ter dormido a noite anterior, mas não consegui por ter ficado pensando em coisas fúteis.

       Coisas fúteis como Kim Chie.

       Bati levemente a cabeça no armário, me negando interiormente por ter pensado nela. Eu mesmo estava me condenando, mas era melhor assim.

      — Isso é coisa de idiota. — como se eu tivesse invocado um demônio, a garota ao meu lado disse, fechando o seu armário. — Descontar sua raiva em você é a coisa mais besta do mundo.

       Olhei para o lado. Estranhamente, estava mais inquieto ao ficar perto dela, que pareceu notar.

      — O que foi? — Chie disse, já que mantive quieto.

      Jogou sua mochila nos ombros e me olhou, confusa. Virei minimamente minha cabeça para olhá-la.

      — Nada. — voltei a encostar a testa no armário. — E você, tudo bem?

      — Tirando a parte em que tive que arrumar tudo sozinha ontem, sim. — ela fechou seu armário e saiu andando.

       Ri daquilo, olhando a garota que já estava um pouco afastada. Ajeitei minha mochila, engolindo em seco. Estava sentindo uma estranha vontade de não terminar aquela conversa assim.

      — Eu trabalho por você hoje! — praticamente gritei para que escutasse, fazendo todos que estivessem ali me encarar. — E pode ficar com o caixa.

       Alguns cochichos da parte feminina começaram a crescer, mas só pude focar na risada que Chie deu antes de retornar a seguir em frente. Não sabia porque havia ficado feliz, nem porque não estava preocupado com os boatos ou prova de matemática, mas havia aquilo melhorado minha manhã.

                               ~

        — Cara, eu rodei nessa prova. — Taeyong dizia enquanto sentávamos em uma mesa no intervalo. — Não consegui colar de Jaehyun, colocaram ele longe.

       — Não ia adiantar muita coisa colar de mim. — Jaehyun disse arrasado, se debruçando sobre a mesa. Ele odiava ir mal nas provas.

        Todos rimos de seu ato dramático, o que o deixou ainda mais raivoso. Mas no fim sempre acabava rindo também.

       Virei o rosto para o lado, ainda entre gargalhadas, quando notei Chie na mesa do lado. Estava sozinha falando ao telefone. Seu blaser do uniforme estava sobre a mesa, notei que ela ficava bem de gravata. Por um tempo fiquei me perguntando como ela achou um número tão pequeno de uniforme masculino, já que nunca vi um garoto tão pequeno e magro como ela.

         "Appa, eu não suporto ir ao centro. Por favor, peça a mãe!", escutei um pouco de sua conversa. Queria estar mais perto apenas para ouvir melhor.

         — E você Yuta? — assustei-me com a voz de Winwin, me virando no mesmo instante. — Parecia nervoso hoje cedo.

        — Ah, foi tranquilo.— ri meio sem jeito e voltei a olhar Chie.

       — Está de olho na machinho? — a mão de Taeyong encostou em meu ombro. Mordi o interior da bochecha, olhando para qualquer outro lado. — Ah Yuta, você não sabe disfarçar.

       — É verdade, vocês são colegas de trabalho agora, não? — Jaehyun disse, mas mantive em silêncio.

       — Own. — Taeyong agora apertava minhas bochechas. — Só cuidado para ela não tomar o lugar de homem da relação.

        Estava gostando nada daquilo. Mas... O que eu podia fazer? Eram meus melhores amigos, já Chie era apenas uma quase colega que talvez nem me considerava o mesmo.

        Então ri junto de Taeyong, agradecendo quando Haechan e Mark chegaram na mesa e mudaram totalmente o assunto. Quando voltei a olhar Chie, já não estava ali.

      
         O final da aula chegou rápido, já que acabaria mais cedo por conta da prova. Os garotos planejaram de ir ao karaoke, e eu não tinha motivo algum para não ir. Até que ouvi aquela voz.

         — Appa, eu já disse que não vou! — Chie fechou a portinha do armário, colocando o blaser do uniforme.

        Chegava a ser engraçada a entonação de sua voz.

       — Não, eu não quero ir no show do BTS, pare de tentar me subornar com essas coisas. — ela continuou, o que me fez rir escandalosamente e chamar sua atenção.

        Sem pensar muito bem, peguei seu celular de sua mão, levando até o ouvido.

       — Oi chefe, é o Yuta! Eu irei no centro com ela, não se preocupe. — levantei o celular para que os pulos de Chie não o pegasse, rindo. — Aham, voltaremos inteiro para o turno. Boa tarde pro senhor.

       Desliguei o celular e entreguei para ela, que pegou em um piscar de olhos e saiu pisando firme. Ri, indo atrás e me esquecendo completamente do compromisso com os garotos.

       — Você vai ver, Nakamoto Yuta.

       — Veremos, Kim Chie. — apertei a alça da mochila e continuei a andar ao seu lado.

       Talvez fosse coisa da minha cabeça, mas havia visto um sorriso no canto de seus lábios. Pensei a noite toda sobre o sentimento estranho que eu sentia sempre que ficava ao seu lado e até mesmo conseguido uma solução para que aquilo parasse. Mas naquele momento nada funcionava.

       Tudo bem, procuraria novas maneiras.

       Testaria todas elas em três semanas, antes de sair completamente de sua vida.

        E não desistiria até entender Kim Chie e o que ela estava fazendo comigo.

mangirly ➳ nakamoto yutaOnde histórias criam vida. Descubra agora