XXVIII

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           "Linha amarela, estação Sinbundang. Senhores passageiros, podem desembarcar."

            Peguei a mochila que havia apoiado próximo a um assento, mas que não estava sentado por motivos de ter uma criancinha muito descuidada ali. Se sentada já estava próxima de cair e machucar, imagine em pé. Muitas vezes, discretamente, apoiei minha mão  no ferro próximo a sua cabeça para que não batesse muito forte. A mãe parecia ocupada demais para notar isso, e afinal, não custava nada ajudá-la.

          Por ficar naquela posição nada confortável, minhas costas agradeceram assim que pisei para fora do vagão. Junto a mim, várias outras pessoas caminhavam até a  rodoviária, empurrando malas ou mochilas. Eu não tinha tanta bagagem comparado àquela multidão ali, mas ainda assim um peso considerável me levava a bufar de desgosto.

          Winwin estava logo atrás de mim, empurrando uma dessa espécie de mala que tem quatrocentos metros quadrado. Franzi o cenho assim que notei, parando de andar e checando todo aquele exagero.

         — Sicheng... Quantas coisas você tá levando? — Ele continuou andando, dando de ombros.

         — Sou representante da minha turma, preciso cuidar deles e estar preparado para qualquer coisa. — Winwin bateu algumas vezes na mala.

         — Ah. — Concordei, mesmo achando aquela atitude um pouco... Não necessária. Provavelmente nunca acampou, trouxe um kit de sobrevivência completo e ficou com vergonha de falar.

         Mais à frente estava uma aglomeração de jovens frenéticos, o que sinalizava que o nosso ônibus não estava muito distante. Olhei para os lados, aquele ano teria muitas pessoas pelo visto.

           Assim que chegamos na fila para entrar no ônibus, uma secretária do nosso colégio anotava nossos nomes. A viagem duraria duas horas, tendo uma parada na metade do caminho para que pudéssemos almoçar, mas mesmo assim entregaram um mini pacote de bolacha para cada um dos alunos, instruindo-nos para não deixarmos de nos alimentar.

         E nisso, nos acomodamos, separados em turmas. Sentei-me ao lado de Johnny, que tagarelava alto para que os meninos da frente, Jaehyun e Taeyong, pudessem ouvir. O fato de estar sentado perto do individuo que começa com T e termina com Aeyong não me incomodou muito, mas às vezes preferia ficar quieto do que me entrosar no assunto. O clima ainda estava tenso sobre nós.

       Nossa parada para almoço foi tranquila, nada muito empolgante aconteceu. Sentei-me em um banco do lado de fora do restaurante em que havíamos parado, não vendo a hora de sair dali e finalmente chegar no acampamento. A brisa estava tão calma que meus olhos fecharam por vontade própria para aproveitar aquele momento. Estava calmo. Assim que voltei a olhar ao redor, notei que, não muito longe de mim, alguém que conhecia o bastante para saber que não se importava em dormir em baixo de uma árvore demonstrava estar em um sono muito aconchegante. Chie estava serena e quieta, algo totalmente raro.

         Levantei-me do banco, colocando as mãos no bolso enquanto andava em direção ao gramado que a pequena estava deitada, demonstrando nenhuma preocupação em sua expressão. Quando notei, estava ajoelhado, olhando para os lados inquietamente. Talvez fosse o fato de estar mais uma vez insistindo naquilo me deixar com vergonha, e por isso não queria que ninguém visse o quão trouxa estava sendo. 

         Foi quando senti minha nuca ser puxada delicadamente, em seguida selando meus lábios aos macios da mesma. Meus olhos, arregalados, não conseguiam entender nada daquilo tudo, mas um frio na barriga me fez vibrar de alegria, finalmente fechando os olhos para me ceder ao beijo.

          O ar era puro e calmo até certo momento, quando um forte cheiro de queimado e barulho de derrapagem fez minha cabeça bater em algo e voltar. Pensei que havia batido a testa em Chie, já querendo me condenar. Abri os olhos, assustado, mas a única coisa que vi foi o rosto de quatro garotos prendendo a risada, ora fazendo biquinho e Johnny e Jaehyun fingindo se pegar.

mangirly ➳ nakamoto yutaOnde histórias criam vida. Descubra agora