Não soube decifrar sua reação nos primeiros minutos que ficamos em completo silêncio ali.
Seus olhos tinham um brilho diferente de antes e aqueles segundos que nos encarávamos começou a parecer séculos.
O que eu havia acabado de fazer?
Foi quando a enfermeira entrou na sala, fazendo com que tanto eu quanto Chie olhasse assustado para ela.
— O que está acontecendo?
Soltei Chie e ela saiu rapidamente, descendo a barra de sua calça e lançando um último olhar para mim.
— Você é um completo babaca. — disse em um bom som e saiu, sem dar satisfações algumas a senhora.
A enfermeira pareceu tão confusa quanto eu, a diferença é que eu sabia o motivo. Mas assim que passei por ela, ouvi sua voz.
— Chie é uma garota complicada, não tente fazer gracinha com ela. Vários garotos já tentaram se envolver com ela por aposta, ela nunca vai se abrir contigo.
— Você é muito pessimista para uma enfermeira. — virei minimamente meu rosto.
— Eu sou realista, rapaz.
Trinquei os dentes antes de sair correndo atrás de Chie. Era um belíssimo começo, Yuta. Belíssimo!
Mentir para uma garota desse jeito é cruel. Eu não deveria ter cogitado aquela ideia.
Chie também havia sumido, já que todo lugar que eu procurava não estava. Não deve ter ido muito longe por conta de seu joelho, mas ela também não pararia tão fácil. Encostei-me na parede, batendo com a cabeça na mesma. Eu sou um otario.
Não a fui ao restante da aula, porém levei um belo castigo ao ser encontrado pelo professor de Matemática. Por que diabos ele usava o banheiro dos alunos?
Assim que acabou a aula, corri em direção à saída, deixando meus amigos ao menos confusos. Sabia que uma hora ou outra a encontrais Chie ali, pediria desculpas e continuaria meu plano para não perder o emprego. Mas me enganei.
Sem sinal de Chie. Respirei fundo, talvez ela já estivesse contando ao seu pai alguma mentira sobre mim para que eu fosse despedido logo. Bufei, desencostando do portão do colégio e caminhando em direção ao trabalho, quando senti a falta de uma coisa. Minha mochila.
Nunca corri tão rápido para dentro da escola. Eu deveria ser um dos únicos restantes ali, estava silenciosa demais. Foi quando ouvi um típico "Aish" no andar de baixo, acompanhado de risadas. Talvez fosse a curiosidade momentânea, mas desci sem hesitar para o andar de baixo.
— Para bater nos outros você é bem homem, mas para apanhar... É realmente uma garotinha, não é? — uma das vozes dizia.
Alguns garotos estavam em frente aos armários, mas também havia garotas acompanhando tudo, soltando risos ensaiados. Revirei os olhos, não havia lugar melhor para brigar? Preparei para descer para o primeiro andar e ir embora, quando ouvi aquela maldita voz.
— O que é? Esse discurso todo é para esconder o quão receoso você está por querer bater em uma mulher? — Chie disse.
Naquele mesmo instante, soltei minha mochila no chão, correndo até o grupinho de alunos e acertando o que pressionava Chie contra o armário. A olhei de relance, como se perguntava se estava tudo bem, e ela hesitou antes de responder.
— Ei, idiota. — outro garoto chamou minha atenção, me fazendo o encarar e levando um soco assim que fiz isso.
Senti o gosto metálico de sangue, mas ignorei completamente. Antes mesmo de retribuir o soco, vi Chie, que ainda mancava, empurrar o garoto que me socou. Dessa vez, ela segurou minha mão e começou a correr, mesmo sem total condição para isso.
— Ninguém te chamou ali, idiota! — ela gritava dessa vez para mim. Sua feição estava uma mistura de nervosa e feliz.
Por isso, sorri largo, fazendo-a ficar ainda mais nervosa. Peguei minha mochila antes de descermos juntos as escadas, sendo seguidos pelos garotos. Chie queria seguir em frente, mas notei que ela não aguentaria correr naquele ritmo por muito mais tempo. Nisso, puxei-a pro lado, entrando em uma biblioteca. Enquanto isso, os idiotas continuaram correndo em frente, para fora da escola.
— Podíamos ter saído logo daqui! — Chie protestou, mas levei minha mão até sua boca de imediato e a puxei para atrás de uma prateleira.
— Com você nessa situação? — apontei para o joelho e dei uma olhada ao redor. — Logo eles vão embora e professores saem da reunião que estão, a gente aproveita a deixa e saí junto.
Ela bufou, mas concordou com o plano.
— Depois que sairmos daqui, quero que desapareça. — ela puxou as mangas do uniforme. Se usasse a roupa das meninas, provavelmente não estaria com calor, pensei.
— Não precisa falar duas vezes. — pisquei um dos meus olhos e ela virou a cara, me fazendo rir.
Até que sua personalidade era um pouco atraente. Um pouco.
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mangirly ➳ nakamoto yuta
Fiksi Penggemaryuta precisa fazer com que a filha de seu chefe volte a se vestir como garota caso queira seu emprego de volta. ➙ 211017