7- Visita Indesejada

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Fico olhando para a prateleira abarrotada por alfaces durante uns quinze segundos. O que eu tinha que pegar mesmo? Não faz sentindo eles quererem mais mato do que o que já tem ao nosso redor. Pego um pé e coloco no carrinho, que devia estar com Dmitri na sessão de molhos. Aonde ele foi, por sinal?

Começo a procura-lo pelo pequeno mercadinho no centro da cidade. Preciso saber se já podemos voltar para a chácara, pois ele está com a lista e só pediu para eu pegar um item. Volto para a estaca inicial, ao lado dos matos, legumes e verduras, com algumas frutas quase estragando perdidas.

Eu vou enforca-lo se ele esqueceu que eu existia e tenha voltado. Pera, isso seria estranho, já que eu estou com o carrinho.

Suspiro aliviada quando reconheço as suas madeixas aloiradas vindo na minha direção. Não abraço, não digo oi, nem olho direito para a cara dele, só reclamo.

— Onde você foi? Por algum acaso esqueceu que tem um carrinho cheio de coisa para pagar? Já vou dizendo que não trouxe carteira e eles não aceitam sorrisos de moços bonitos. Tentei uma vez e quase ganhei um processo. — ironizo.

— Prefiro não comentar se realmente já fez isso. — Balança a cabeça em negação. Para subitamente e fixa os seus olhos castanhos em mim. — Moço bonito? Devo levar como um elogio?

— Nunca. Eu não elogio, em xingo sem a pessoa perceber. É diferente. — retifico o minha zombação. — Vamos logo pagar essas coisas que eu quero conversar com o meu amigo.

— O Pedro? — indaga com uma sobrancelha arqueada.

— Não, o papai-noel. Lógico que é com o Pedro, cabeça! — respondo nervosa.

Conduzo o carrinho de ferro para o caixa. No meio do caminho uma voz familiar chama-me atenção. Viro a cabeça na direção do som conhecido. Ao reconhecer os traços a minha primeira reação é agachar-me, trazendo Dmitri comigo. Com o semblante desorientado e impaciente, vejo sua boca abrir formulando uma bronca, de certo.

— Por que fez isso, Vanessa? — exclama.

— Shiii! — reprendo, com o dedo indicador na altura do meus lábios. Ele abre mais uma vez a boca, contudo ajo mais rápido. — Shii! — Trago o dedo aos seus lábios. Contraio formando um "V" as sobrancelhas. — Já disse para calar a boca! — ralho num sussurro. — Senão dou um murro. — aviso.

— Ok, ok. — emenda. — O que aconteceu? — repete em tom igual. Procuro mais uma vez Larissa no mercado em soslaio.

— Encontrei uma pessoa que prefiro manter distância. — explico. Seu semblante em descrença antecipando os seus próximos passos. — A vá! Está querendo dizer que nunca acabou, por infelicidade do destino, achando uma pessoa insuportável.

— Mas ajo com maturidade no lugar de ficar agachada ao lado de um carrinho de comprar num mercadinho! — rebate com uma pitada de estresse. Sorrio.

— Tudo bem, você venceu! Bora levantar, mas já aviso que as minhas pernas estavam ficando doloridas, só por isso. — troço.

— Sei, sei muito bem, coelho branco. — responde sorriso de volta.

Entramos numa das filas do mercado. Fico contando os itens e as pessoas na nossa frente, imaginando quantos séculos ficarei aqui esperando elas passarem, só para Dmitri pagar as compras. Quando tinha somente mais uma com quinze volumes, para quê tanto?, percebo o leve tremor nele.

— O que acontecer, Milady? — questiono na ponta dos dedos perto de seu ouvido.

— Lembra do que você disse sobre pessoas indesejadas, o destino sacaneando você e querer virar um avestruz. — Olho confusa para ele.

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