20- Após a tempestade

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As luzes da cidade metropolitana passam depressa, tornando-se um vulto colorido no vidro fumê do carro. Batuco as pontas dos dedos na coxa. Meu coração se acelera cada vez mais com a ideia de eu estar no caminho de entrar no que eu consideraria a maior loucura do mundo: ir numa festa de Rosalinda, mesmo sendo a do seu aniversário especial de terceirão. Essa foi a combinação de palavras mais estranha que eu já ouvi em toda a minha vida.

O meu celular vibra na minha coxa. Estendo para toca-lo, evitando dele cair no chão do carro e eu ter que me abaixar, quando algo chama a minha atenção. Era uma borboleta amarela voando na nossa direção. Quando ela estava prestes a topar com o carro e minha mãe virar uma assassina de borboletas, a borboleta desvia, voando sobre o carro. Pisco.

" E aí? Você vai vir?" É mais uma das milhares das mensagens da Rosalinda. Reviro os olhos. Quando estou prestes a responde-la, hesito. Qual é o problema em dizer-lhe que está quase chegando? Ainda é difícil acreditar que estou indo para lá, para a casa de Larissa, onde vai ser a festa. Não exatamente a casa, apenas um dos muitos imóveis dos Lima. Penso as vezes que eles colecionam imóveis como se fosse selos.

— Mãe, já estamos chegando? — pergunto. Eu prefiro evitar falar com a minha mãe quando ela está dirigindo, pois ela me ignora mesmo, com a sua atenção total ao transito. Um aspecto tanto positivo quanto negativo.

— Sim. — responde virando o olhar rapidamente para mim. Mamãe abre um sorriso tomado de ternura. — Que bom que finalmente vocês duas voltaram a conversar. — comenta já com a atenta com o movimento dos carros a nossa frente. — Na verdade... — Fazemos uma curva. — acho que já chegamos. — diz diminuindo a velocidade do carro.

— Quer entrar? — indago ingênua. Meu estomago dá cambalhotas enquanto é espremido por esse vestido apertado.

— Eu adoraria, mas acho que não fui convidada. — responde cheia de graça. Dou um meio sorriso. Mamãe se inclina e beija a minha testa. — Quando quiser voltar para casa é só me ligar, ok? Aproveita um pouco o seu último ano. — diz enquanto acaricia a minha bochecha. Assento. — Te amo, filha. — Abraço-a.

— Também de amo. — digo.

Saio do carro e vejo-o se afastando. Respiro fundo. Fecho os olhos e pontos fluorescentes brilham na minha visão. Abro os olhos e encaro os portões de ferro que barram-me. Sigo até o interfone com dificuldade, culpa desse salto preto que o santo não bateu com a calçada repleta de pedrinhas.

Peço para entrar ao Seu Rodolfo. Ele abre os portões automáticos. Com um sorriso afetuoso por minha parte, adentro no que pode vir a tornar um dos meus novos pesadelos, bem ao lado dos celulares-flamingos alados.

Passo sapateando pelo jardim da entrada até chegar a porta. Quando encontro com essa nova visão, do hall de entrada, já decorado com flores nas escadas e nas colunas de mármore, fico embasbacada. Rosalinda teve muito trabalho.

Só há eu caminhando. O som do meu salto fino batendo no piso alvo é alto. Fico tentada a tira-lo.

Quando chego no salão que eles realizam as maiores festas consigo ouvir a batida da música. Não é necessário abrir as portas para entender que está lotado e que eu não sou a primeira convidada a chegar. Sinto, na verdade, que passo longe de ser isso. Confiro uma última vez no celular o horário. Dez e meia. Quinze minutos atrasada. Quando estou prestes a empurrar as grandes portas de madeira importadas, como a maioria das coisas aqui — Limas, podres de ricos—, decido dar um passeio para o segundo jardim. Um lugar muito mais calmo, que eu cultivo um enorme apreço, com uma mesinha lindíssima de madeira com dois bancos do mesmo material.

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