22- De Volta As Quatro Estações

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— Que tal usarmos a casa de praia nesse carnaval? — sugere enquanto faz o prato com feijoada minha tia avó Suelen.

— Vai estar um inferno a praia. Cheia de gente, a água suja e uma tonelada de carros só atrapalhando o caminho. — reclama tia Camila, mãe de Caroline. Procuro com os olhos minha prima para ver a reação de sua mãe. A rainha das trevas está jogada numa poltrona verde-musgo do outro lado da sala. Ela devolve o olhar e dá uma risadinha, em seguida volta a encarar o celular.

Levanto do meu lugar garantido e vou até onde ela está. Ando no melhor estilo garçonete-de-filme, equilibrando com uma das mãos o meu prato com feijoada, couve refolgada, arroz e farinha.

— Ei, Ariel, poderia tirar os olhos do celular por um instante e dar uma mãozinha aqui? — peço entregando o prato. Carol segura. Sento no chão ao seu lado e peço com as mãos o meu almoço. Um belo almoço de domingo, diga-se de passagem. — Obrigada... Com quem está falando? — pergunto entre colheradas fartas.

— Com o Dmitri. — diz simplesmente. Eles estão passando do estágio bobos apaixonados para realistas apaixonados.

— A gente vai na quarta, então! — exclama Amanda na cozinha. — Dois dias antes da muvuca. — Estico o meu corpo poucos centímetros para poder cochichar melhor com Caroline:

— Por que mesmo o seu namorado não veio, prima? — pergunto. Faz um bom tempo que não encontro com ele. Depois daquele jantar desastroso, mais um para a lista, ele sumiu do meu mapa.

— Acho que ele ia jogar com os amigos. — cochicha de volta inclinando o tronco na minha direção.

— Ele não sabe o que está perdendo. — digo. Uma discussão saudável entre família, um almoço ótimo e um tempo com a namorada e a nova priminha, e não estou falando de mim. — O estressadinho teria amado a Alice. — digo. Caroline balança a cabeça em concordância. Alice é uma bebezinha adorável de onze meses, filha do tio Túlio e a sua esposa Luíza. Falando dela, a minha montanha de gostosura vem correndo na nossa direção.

— Oi, meu amor! — exclamo. Levanto com certa dificuldade e coloco o prato no degrau da escada do sobrado de vovó Carmelita. Ergo Alice pelos braços e a acomodo na minha cintura. Sorrio para a pequenina.

Issa. — Alice estica os bracinhos na direção do meu rosto. Pego uma das suas pequenas mãozinhas e beijo os dedinhos. — Issa!

— Lice, não dá para eu ficar com você no colo! Tou comendo! — uma comida bem apimentada.

— Sedi. Sedi. — pede fazendo biquinho. Vou até a cozinha, pego um dos copos de plástico e coloco um pouco de água para ela. Enquanto isso, a discussão de se vamos ou não para a praia nesse carnaval se prolonga mais um pouco. Ignoro a barulheira e concentro-me na minha priminha erguendo o copo vinho de plástico, com grandes goladas, bebendo a água. Em pouco mais de cinco segundos ela termina.

— Mas eu trabalho na semana. Só vou conseguir folga para a sexta e olhe lá. — exclama Luíza, a esposa de tio Túlio.

— Bora fazer assim, quem puder ir na quarta vai, quem não conseguir tenta no sábado. — digo, já estou começando ficar com dor-de-cabeça. — E a sua filha tava com sede, Luíza. — digo entregando no colo da mãe a minha montanha de gostosura. Dou um beijinho na bochecha de Alice. — Tenho um prato de feijoada para terminar. — digo dando de costas e indo na direção da rainha das trevas.

Ela permanece com os olhos vidrados na tela de iluminação precária do celular. Reviro os olhos. Pego o meu prato e com certa dificuldade volto a sentar no chão. O que quer que tenha chamado a sua atenção deve ser importante ou uma total perda de tempo, as únicas coisas que existem nesse grande universo aparte chamado internet.

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