Pássaros.
Como eu odeio pássaros.
Ouço os pássaros cantando nos galhos volúpios na árvore. Para muitos um sinal animador para iniciar-se um dia, mas para mim é uma prévia de um dos piores castigos do inferno. Os raios de sol que aquecem o quarto é ainda menos motivador do que o crocito das pequenas aves.
Grunho. Jogo um dos braços na cabeça escurecendo a precária visão desse novo dia. Mais cinco, dez, vinte minutinhos por favor, sol! Só quero descansar mais um pouco, esquecer tudo que aconteceu ontem e que pode acontecer hoje, preparar-me para o ensaio, viver feliz. Fecho os olhos. Os sons somem. Imerso na imensidão da inconsciência.
Com volto a emergir, uma mudança radical ocorreu no quarto. As malas estão empilhadas e arrumadas, continuo sem ver a minha prima, Dmitri ou qualquer outro ser vivo que eu possa desprezar a existência mais do que a dos ratos com asas. Nuvens grossas flutuam ameaçando tombar no telhado. Todavia, os ratos alados continuam na cacofonia.
Levanto ainda letárgica. Com passos fracos tomo um banho demorado com as águas mornas do chuveiro. Como eu poderia fazer para ficar aqui, assim, para sempre? Um pergunta que amaria poder ter um resposta. Todavia, enquanto isso não acontece, visto-me para descer e fazer um imperfeito desjejum. Nunca seria o bom enquanto eu tiver que encarar o rosto rubro e sadio de Caroline e Dmitri com o seu sorriso travesso.
Antes de abrir a porta, perco para a ansiedade e dou uma olhada nos possíveis hematomas. Nada muito visível, as peças escolhidas, compridas e grossas, escondiam alguns círculos arroxeados. Só de recordar as suas origens, sinto a bile subir.
Aquele verme.
Tremo com as lembranças ainda vívidas da noite anterior. Tanto desgosto tive que suportar em tão pouco tempo. Espero que nunca mais tenha que passar por isso, mas se um dia isso se repetir... Nunca. Nunca mais isso ocorrerá. Estarei preparada. Spray de pimenta, aulas de defesa pessoal, esse será o começo.
Perto da cozinha, encontro uma mulher na casa dos 43 com madeixas loiras e esbelta. Sei que ela é familiar, mas não sei por quê. Ao seu lado um homem alguns anos mais velho, com um roupas formais, cabelos grisalhos ralos e um pouco franzino passa o braço pela cintura da enxuta mulher. O senhor se vira na minha direção, certamente a ouvir os meus passos na direção daqui, sorrindo e acenando para mim.
Meu coração acelera, cerro os punhos, tenciono a mandíbula, engulo seco e tento sorrir.
Por que eles estariam aqui? Que perguntar idiota, Vanessa. Os Lima andam em bando. Onde está um, os outros vem atrás.
Com passos vacilantes vou em sua direção. Isso não é como ir direto a toca dos leões. Está mais para atravessar a baleia que acabou de me engolir. É solitário, desesperador, minha vontade é de sair correndo, mas não posso fazer isso.
— Vanessa! Que alegria vê-la! — diz, a senhora Lima, abrindo os braços e enlaçando-os em volta do meu tronco. Seus cabelos loiros pinicam a ponta do meu nariz.
— Sim, com certeza. — concorda com um tampinha no meu braço direito o senhor Lima. Sorrio sem graça. Se eles estavam aqui, ela também estaria. Reúno o pouco de coragem que ainda me resta para perguntar-lhes sobre a sua filha mais nova, Larissa.
— Ah, é uma pena que ela não esteja aqui. Acredita que ela ficou dormindo?! Tentei a acordar de todas as formas, mas foi a mesma coisa que dizer para um camundongo virar um pato. — Solto um riso fraco. Cássia sempre tinha as comparações mais absurdas que você poderia ouvir na sua vida. Ela, sem dúvidas, é a minha Lima favorita. — Mas pode deixar que de noite ela vai estar aqui. Nem que eu tenha que traze-la puxada pelos cabelos! — diz determinada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
V.A.JAMES
Teen FictionAmanda arranja um namorado, depois de muito tempo solteira. Ela tem duas sobrinhas que moram com ela, Vanessa e Caroline. Caroline tem uma doce na voz e na aparência, seu objetivo é aproveitar a seus últimos tempos antes de se formar, e Vanessa é a...