10- Glinda me traiu

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Bato palmas chamando a atenção de Gustavo. Contraio a cara numa carranca. O cheiro que ele exala é podre, como se tivesse nadado no rio Tietê.

— Fora, Gustavo! — mando-o. — Traste. — sussurro.

— Não... Gigh...Na-na-não. — Pede segurando a minha mãe. Com a fala embolada, cada vez que abre a boca o forte hálito indica que ele está embriagado. Argh! — Por-por-por favor, me deixa ficar. — Pede com os olhos marejando. Solto as minhas mãos do seu aperto. Tão frouxas quanto os miolos desse moribundo.

— Vá, Gustavo! — digo firme empurrando-o para longe.

Passo as mãos pela testa. Parece que a cabeça vai explodir. Como é possível que ele tenha insistido nisso mesmo depois de encontrar Roberto. É ilógico ele continuar vindo aqui migalhar um pouco de atenção de Am. Como ela fosse mesmo voltar para aquele bebum.

— Não me deixe! — Grita enquanto tropica tentando vir até a mim. — Por favor!

Entro em casa. Dmitri não tem a chave, mas a missão dele já foi concluída, o único empecilho que poderia encontrar seria aquele corpo sem alma. Quando estava centímetros de fechar a porta, uma força impetuosa prensa-me na parede sob a porta. Quando consigo escapar debaixo daquele toco de madeira, um corpo magricelo de cabelos negros como a noite se revela. Encaro embasbacada. Como aquele troço poderia ter tanta força assim, sendo que mal consegue se manter em pé!

— Gustavo, já disse para ir embora! Xô! Lets go! Vá logo, você sabe o caminho até a porta. Aproveita que é de graça.

Em vez dele fazer o que eu gentilmente sugeri, com passadas cada vez mais largas, o vejo segurando os meus pulsos, minha cintura, tentando me beijar, como se tivesse mil mãos.

— Fique comigo, Amanda! — suplica ao meu ouvindo causando um arrepio na espinha.

Tento sair de seu aperto, mas parece que virei uma estátua. Com as mãos em seu peito, seguro a sua camisa imunda com tanta força que os nós dos dedos embranquecem. Disfere beijos vorazes e molhados da mandíbula ao colo, no nódulo da orelha as têmporas, lambuzavam os meus lábios com o resto da sua bebida alcoólica, talvez 51. Com as suas mãos tremulas, ele consegue me guia na direção do sofá, onde me deita desajeitamente.

— Você vai ver, Amanda! Meu amor, eu sei que você me ama! Fique comigo. Vou te provar que sou melhor, que sou o melhor, que sempre serei, minha flor. — sussurrava hora com raiva hora com sentimento.

Por que eu não o movo dali, de cima de mim? O peso do seu corpo moribundo compressa os meus pulmões impendendo-me de respirar direito. Sinto como se não estivesse mais no meu corpo. Que aquele saco de ossos, aquela pequena e magra garota de cabelos escuros, é uma atriz que finge muito bem, que daqui a pouco o diretor que está dirigindo essa palhaçada toda vai gritar "Corta" e tudo vai acabar.

Os beijos mais e mais intensos. Aquelas mãos ásperas pareciam que rasgavam a carne aonde passavam. Aquelas mãos, grandes, fortes que apertam tanto a coxa que sei que mais tarde pequenas manchas dolorosas roxas surgirão. Ele desce a cabeça trilhando um caminho com seus lábios em brasa. Como se a alma voltasse ao corpo, consigo fazer um pequeno movimento de suspender um dos braços até a sua cabeça. Seguro a sua cabelereira negra afastando-a de meus seios. Olho no fundo dos seus olhos negros como a sua alma com asco. Não sei o que se passa no fundo da sua mente doentia de bêbado, pois, em vez de entender que o quero longe, parece que encara isso como um incentivo, já que aperta ainda mais forte as minhas pernas. Tento trazer de volta vida o outro braço que agora permanecia inerte. Como amaria desferir um tabefe naquele rosto puído. Elevo o outro braço, mas, antes que eu pudesse fizer qualquer ação, aquele palito de dentes doentio saí de cima de mim. Vejo-o tornar-se maior a cada segundo como a minha chance de encerrar com aquele pesadelo.

V.A.JAMES Onde histórias criam vida. Descubra agora