21- Por que isso sempre acontece?

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Eu amo a música, eu amo dançar. Ela me tranquiliza, me dá ânimo, força, tudo que for necessário. Só não a amo mais do que dançar. Os dois estão no mesmo pé. Mesmo eu não estando na ativa minha alma continua viva.

Como na dança, as coisas finalmente estão se ajeitando. Ando agora com um sorriso no rosto. O mundo está mais vibrante. Aquele peso sumiu, estou mais confiante, mais feliz.

Ainda tenho uma ou outra questão sobre o meu comportamento que ainda me arrastão para baixo, mas hoje em dia não é mais um problema. Não faz mais de uma semana, porém foram uma semana maravilhosa. Converso com Caroline, com Dmitri, Larissa vai lá em casa e todos ficam jogando conversa fora. Nada havia sido tão tranquilo, nem mesmo no que eu imaginava ser nossos anos dourados. Às vezes Caio veio junto, mas não ficou muito tempo. Ele é um cão em estado de alerta constante comigo ao seu lado. Nesses momentos todo o autocontrole que estou tentando criar some, a língua descontrola, o meu lado pior vem mais uma vez.

Apesar dos apesares, uma mudança muito boa que houve junto dessa nova fase foi as aulas preparatórias com Fabiana. Ela é uma aluna dedicada que vai fazer eu engordar uns cinco quilos. Ela sempre fala sobre o filho, nunca sobre o ex-marido, nem da sua futura esposa, nem se ela tem um relacionamento com alguém.

Falando no diabo, Fabiana surge na sala de dança ainda vestida com o collant preto. Pego a minha mochila e a jogo no ombro. Com passadas longas, quando dou por mim, a mãe de Dmitri já está do meu lado.

— Obrigada, Vanessa. — agradece Fabiana. Saímos da sala. — Me sinto preparada para a audição.

— Você está preparada. Acredito que você vai passar numa boa. Só saiba que mesmo eu dando aula para você não quer dizer que não vai ser um desafio ou difícil. — digo enquanto ela se troca.

— É uma pena que você não dança mais. — comenta. — Você era muito boa.

— Tanto que foi por isso que você me escolheu, não é mesmo? — brinco. Fabiana ri.

— Hã... — diz enquanto jogado para o lado a bolsa azul escuro. — Eu havia preparado um jantar lá em casa, liguei para a sua mãe já, para poder agradecer a você pelas aulas.

— Não tem que agradecer assim não. Você pagou pelas aulas, não me deu nenhuma dor de cabeça, sabe, paciência não é o meu forte, está tudo certo. — digo.

— Eu insisto. — diz com veemência. — Ela me passou a receita daquela lasanha de molho rosé. — Sorrio. Isso explica aquela ligação anteontem de mamãe procurando aquela folha amarelada.

— Vou avisar a minha mãe. — aviso. — Dependendo da resposta dela eu vou. — Quem sabe minha mãe me salva dessa.

Fabiana assente e desce a rua. Mando mensagem, para a minha sorte, Dona Ana responde rápido, para o meu azar, com um joinha. Mordo a bochecha interna. Com passos relutantes eu vou até onde Fabiana estacionou o carro. Bato no vidro escuro do Hb20 branco. Ela desce o vidro.

— É quando o jantar? — pergunto.

— Agora. — Assento.

Prendo a respiração. Não deve ser tão ruim. Ela destranca o carro e sento no carona. Começamos a rodar com o rádio na Nativa.

— Se quiser mudar de rádio, fique à vontade. — diz dando a seta.

— Não precisa. — Mesmo eu querendo morrer ouvindo música sertaneja. Não é nada contra a rádio, meu pai gosta bastante, mas está longe de ser a minha primeira opção.

— Ah — solta. — Dmitri disse que você sempre muda a rádio quando vocês estão juntos. — Levanto a sobrancelha. Quando ele disse isso? Quando eles se encontrarão? Ele não me dá carona há muito tempo. A última vez foi antes do Ano Novo, meses antes.

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