Evito falar com Flor e Anastácia, o que não foi tão difícil assim. Quando disse que era melhor voltarmos, Anastácia não perguntou o porquê. Por eu acreditar que ela achava que a razão da gente estar voltando tão cedo era a mudança do céu, decidi até quando chegamos na porta que é menos trabalhoso deixa-la acreditar nisso.
Agora faltam poucos passos para chegamos na casa. Não sei mais o que passa na cabeça de Anastácia. Não posso contar sobre a sua avó, nem acho que é melhor, pois ela fará perguntas que nem eu mesma sei a resposta. Um burburinho dentro de mim, faz eu segurar o cotovelo de Ana pedindo para ela deixar a avó seguindo. Antes que ela pudesse reclamar, adianto-me e grito para Flor que daqui a pouco chegaremos. Ela não faz perguntas, apenas segue caminho. Sinto um arrepio na espinha.
— O que houve, Nessa? — indaga com a voz curiosa.
— Eu recebi uma mensagem de Larissa. Ela queria que eu voltasse para casa, mas não me disse a razão. Queria saber se você mantem conhecimento pelo motivo. — pergunto. Ela nega com a cabeça. Suspiro desapontada. — Pelo visto terei que descobrir isso sozinha e seja o que Deus quiser.
Logo após passarmos pela porta da casa, penso onde devo procurar a loira. Para a minha sorte, por sua tamanha ansiedade e nervosismo, ela aguardava-nos no sofá de capa bege da sala. Seu pé balançava freneticamente, sem contar a sua constante procura por algum canal de Tv. Ao notar-nos, ela joga o controle no sofá e me puxa pelo pulso.
— Nem um "Oi", "foi boa a caminhada?", "Eu preciso falar com você sobre... — deixo as palavras secarem na boca ao perceber que estamos no quintal com Caio, Pedro, Dmitri e Caroline na nossa espera. — O que está acontecendo? — pergunto num murmuro. Carol morde o lábio inferior e faz o uma cara de dor, Pedro parece triste e Dmitri não consegue ficar no mesmo lugar parado por mais de dois segundos. O único que está mais normal é Caio. — O que aconteceu? — questiono.
— Boa pergunta. — diz Anastácia ofegante. Ela deveria mesmo fazer umas atividadinhas físicas. Quando eles percebem que estamos lá, todos paralisam como se tivessem acabado de ver uma assombração.
— Hã... Vanessa. — começa Pedro. Com passos apressados, ele já está do meu lado quando percebo. Larissa solta-me e me entrega com a preocupação que se entrega um recém-nascido aos cuidados do meu amigo. Ele passa a mão pelas minhas costas e repousa nas minhas escápulas. Pedro me orienta a segui-lo. — Eu não queria te contar isso...
— Dá para falarem logo. Está me agoniando todo esse suspense. Alguém se machucou? — indago preocupada. Afinal, que mistério é esse? Percebendo que isso ainda iria demorar muito, Caio vem na nossa direção. Ele é gentil comigo, só por isso eu sei que a coisa deve ser séria. — O que foi?! O que aconteceu?
— Recebemos uma foto de Elisa hoje. — começa com a voz baixa e grave. — Ela disse que viu Henrique beijando uma moça hoje. — Paro atônita com a informação.
— Por que você está me contando isso, Caio? Entre tantas pessoas você? — questiono. Deve estar surtando, pois tenho certeza que Caio foi condescendente comigo.
— Ninguém merece uma traição. Não importa o quão problemática, chata e implicante a pessoa pode ser. — Arqueio uma sobrancelha.
— Isso foi uma indireta, Caio? — indagado com sarcasmo.
— Não disse nada que eu já não tivesse dito antes. — diz com um meio sorriso. Serio mesmo? Balanço a cabeça. Só pode ser brincadeira. Quando eles finalmente percebem que eu não estou me descabelando, não estou em prantos, muito menos em posição fetal fazendo os dois ao menos tempo, a confusão estampa a cara de cada um.
— Está tudo bem, Nessa? — pergunta Caroline.
— Ele seguiu com a vida dele normal. Como eu posso culpa-lo? — digo. Se antes ele estavam confusos, agora é que parecem desorientados ao ritmo dos últimos acontecimentos.
— Como assim? — pergunta Larissa. Suas sobrancelhas loiras e ralas formam um "V".
— Terminamos ontem. — esclareço. Ao ouvir as minhas palavras, Dmitri vem na minha direção. — Acontece, não é? Relacionamentos começam e relacionamentos terminam. — digo repetindo o que Larissa disse naquela outra ligação.
— A quanto tempo? — pergunta Caroline. Ela parece diferente do resto das pessoas no pequeno quintal. — Por que não me contou?
— Por que foi... ontem que rompemos o relacionamento. — digo. Não chamaria aquilo que tivemos de namoro. Eu fazia pouco esforço para isso, mesmo eu o conhecendo a anos, eu fiz questão de mostrar que não queria nada muito sério e duradouro. — Não queria atrapalhar o retiro de casal de vocês. — digo me referindo as minhas duas amigas.
Dou um passo para trás, me afastando um pouco deles para ter uma visão geral melhor. Encaro Caroline. Ela parece transtornada com a omissão, mesmo eu acredito ter sida feita por motivo nobre. Quanto mais se passa e ninguém diz, parece que ela piora. Seus traços delicados contraídos formam uma careta. Será que fiz essa mesma cara quando descobri o namoro deles?
— Por que não me ligou. Não seria incomodo nenhum, não atrapalharia nada. — diz tentando jogar, inconscientemente, a culpa em cima de mim. Lanço um olhar de "É mesmo?".
— Carol, Larissa, eu conheço bem vocês para saber que vocês realmente ficariam ao meu lado o tempo todo dessa viajem. Mesmo eu amando isso em vocês, não posso pedir que abdiquem do seu tempo assim por um não-casal que entraram em concordância sobre romper quaisquer laços mais profundos. — digo nessa explicação extremamente longa.
— E para a gente? — questiona Anastácia se referindo a ela e Pedro.
— Foi recente demais. Juro, eu iria contar. Como eu poderia saber que Henrique já estaria pegando outra pessoa hoje?
Sinto uma pontada profunda no meu peito. Meus olhos pinicam. É ilógico isso, digo para mim mesma tentando me convencer. Eu mesma disse que não éramos um casal... Porém, eu era tão especial para ele para simplesmente me trocar tão rápido? Rio. Apesar de tudo, apesar disso doer, não se compara outras "traições". Essas latejaram, arderam, tudo que podiam para me quebrar fizeram. Essa é uma dor diferente, entretanto, não sinto o mesmo desespero de antes. Isso quer dizer que não gostei dele o suficiente ou que eu evolui?
Sei mais nem menos, Caroline me abraça. Fico sem saber o que fazer exatamente. Seu abraço apertado e quente faz as lágrimas desceram sem eu querer.
— Será que era sou tão singela assim? — pergunto com todas as minhas para não fazer a voz sair tremida. — Por que estou assim? — digo me saltando. Limpo duas lágrimas perdidas pelo rosto.
— Porque você é humana, tem coração e não gosta de se sentir que é um bibelô. — responde Caroline.
— Que tal a gente parar com essa rasgação de seda? — digo com tentando fazer graça. Mesmo alguns rostos parecendo contrariados, eles aceitam a minha sugestão. — Quem topa ser esmagado no truco? — pergunto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
V.A.JAMES
Teen FictionAmanda arranja um namorado, depois de muito tempo solteira. Ela tem duas sobrinhas que moram com ela, Vanessa e Caroline. Caroline tem uma doce na voz e na aparência, seu objetivo é aproveitar a seus últimos tempos antes de se formar, e Vanessa é a...