capítulo 27- Escuridão

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1 semana depois

- Eva?- Noora estala seus dedos na frente dos meus olhos e eu dou um salto - o que está acontecendo? Você anda meio dispersa demais.

Mordo meu lábio inferior sem saber o que responder, ela está certa, mas eu não sei se devo contar o que se passa em minha mente, soa um pouco paranóico até mesmo para mim.

O negócio é que desde o jantar de negócios que Chris teve com seu pai, ele anda meio estranho, mal conversa com nossos amigos e só fala quando dirigem a palavra a ele, nós mal nos tocamos e ele parece distante, mas eu sinto que só eu notei essa diferença e isso me faz pensar se não é apenas uma coisa da minha cabeça.

Olho para Noora e seus olhos me analisam, ela está esperando uma resposta sincera. Eu nunca consigo mentir quando esses olhos estão me olhando, não quando é de maneira tão astuta.

- Olha, eu não sei se o que está se passando é algo apenas da minha cabeça ou não - jogo a real e minha amiga se esguia para mais perto de mim - eu não sei, mas parece que ele está distante.

- Você acha que ele está com outra garota ?- minha amiga questiona e pelo seu olhar eu sei que ela não acredita naquelas palavras- acha que ele seria capaz disso?

- Ele é o Chris - dou de ombros, como se aquilo ja fosse motivo o suficiente - ele é um Penetrator, um garoto sem coração e bla bla bla.

-Você ao menos acredita nas suas próprias palavras ? - ela arqueia suas sobrancelhas - Eva você o conhece melhor e mais profundamente do que ninguém, nem mesmo William o conhece tão bem, acha mesmo que ele seria capaz de estragar a melhor coisa que já aconteceu a ele?

As palavras de Noora pesam no ar, de repente a pequena cafeteria ficou mais silenciosa, o ar ficou mais denso e meu pulmão já não conseguia absorver a quantidade necessária de ar. Eu me mexo desconfortavelmente na cadeira acolchoada e suspiro.

- Eu não consigo acreditar que ele esteja com alguém, essa ideia parece absurda para mim - confesso baixo - mas eu não posso simplesmente fechar os olhos para essa mudança repentina, e creio que você também não.

- Eva, olha, sabe o que eu tenho notado ? - balanço a cabeça negativamente - eu tenho notado que ele está carregando um peso maior do que pode suportar nos ombros e que isso está o exaurindo, pois ele não quer te incomodar com isso, mas um conselho meu, fale com ele, faça com que ele se abra com você, mostre que está aqui para ajudar ele a carregar essa pedra.

- Eu tenho tentado isso durante dias ! - exclamo frustrada - mas ele simplesmente diz que está tudo bem e vai embora, ele foge do assunto.

-Então está na hora de você confronta-lo, porque nós duas sabemos que a partir do momento que isso se tornar pesado demais ele vai ceder, e se ele ceder ele nunca mais será o mesmo.

(...)

As palavras de Noora ficaram na minha cabeça a manhã toda, rondando e sondando qualquer brecha vazia dos meus pensamentos, eu não conseguia pensar em mais nada além disso, e foi quando Chris cruzou a porta do meu quarto com o semblante preocupado que eu finalmente aquietei a minha insegurança e o questionei.

- Você não vai mesmo me dizer o que está acontecendo? -cruzei meus braços sobre os seios e o encarei séria - porque você não consegue disfarçar que tem algo te incomodando e isso está nos afetando Chris, eu preciso saber o que está acontecendo para tentar resolver.

-Eu não sei do que você está falando - ele diz brincando com um de meus bonequinhos de lego do Harry Potter - está tudo normal.

-Agora você vai bancar a Kátia? - pergunto debochada - vai fingir que nada está acontecendo e que não tem nada se colocando entre a gente? Você está distante, frio, não é mais a mesma pessoa.

-Eu achei que tivesse sido claro daquela vez, quando eu te disse que eu não mudaria - ele me olha com os olhos brilhando em maldade - eu te avisei Eva, eu sou assim, eu sou isso que está aqui na sua frente.

- Ah pronto - digo sentindo meu sangue ferver - você quer voltar para a estaca zero? Deixa eu te atualizar bonitão, já passei da fase de esperar você virar um ser humano,e aliás, quem você está querendo convencer de que você é esse idiota, eu ou você?

-Não estou tentando convencer ninguém Eva, a culpa não é minha se você foi tola o suficiente para acreditar que me mudaria, que mudaria o meu jeito de ser.

-Eu nunca acreditei que te mudaria, eu sempre soube que isso era uma máscara, você se cobre com essa pose de idiota que não sente nada para fugir dos problemas, fingir que eles não existem não é ? É mais facil fingir que a dor não te atinge do que lidar com ela, não é?

-Já acabou a liçãozinha de moral? - ele debocha com um sorriso maldoso - eu não vim aqui para conversar.

Ele me olha de cima abaixo naquele momento eu me sinto um objeto. O modo como ele me olha demonstra claramente para que ele veio. Sexo. Como se eu fosse uma maldita boneca.

-Eu já te disse antes e eu vou repetir : eu não vou esperar você se humanizar, não vou esperar você parar de covardia e enfrentar os seus malditos problemas! Então saia da minha casa, suma da minha vida, porque eu não preciso de mais um peso morto sobre mim.

Chris tomba a cabeça para trás e solta uma gargalhada pausada, suas mãos voam para a sua nuca. Ele esta se divertindo.

-Essas palavras são músicas para os meus ouvidos - ele me olha atento - acho que realmente não precisamos de mais drama por aqui.

Ele pega o capacete em cima de minha cama e passa por mim com aquele tipico jeito de badboy, eu apenas encaro a parede, ainda com os braços cruzados tentando segurar os pedaços que ele havia deixado para trás.

Quando ouço o barulho da moto arrancando eu desabo. Meus joelhos cedem ao peso da dor que se instala em meu peito e eu seguro minha mão esquerda sobre o coração tentando segurar os cacos juntos.

Meus olhos finalmente transbordam a minha decepção e tristeza em forma de pesadas lagrimas, eu sinto meu corpo tremendo, minha ansiedade atacando, os meus medos surgindo e a minha garganta inchando. Seguro com força meus fios ruivos e solto um grito silencioso, não consigo gritar, não consigo me mexer, mal consigo respirar, o que vem depois é apenas o abraço apertado da solidão e o acolhimento gentil da escuridão.


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